Vou começar pela chuva, e não pelas 92 mil pessoas que marcaram presença em Interlagos durante o segundo dia do festival.
Aparentemente a tempestade que aconteceu foi uma surpresa para a organização do Lolla. A primeira atração do festival foi o “risco de raios” (inclusive, fica a dica de nome para uma banda Indie, rs).
Quem chegou cedo precisou sair do autódromo, e quem não estava lá dentro foi impedido de entrar. A interrupção durou cerca de duas horas.
Quando os portões foram reabertos, o resultado foi o ‘puro suco do caos’! Não parecia que estávamos em um evento do porte do Lollapalooza.
Partimos em direção ao palco mais próximo, e logo as luzes se acenderam para que Jorja Smith desse o ar de sua graça depois de tanto sufoco! Confesso que não conhecia o trabalho dela, por isso me surpreendi. Ela foi muito simpática e entrou vestindo a camiseta amarela da Seleção Brasileira.
O público foi chegando e era visível a presença majoritária de casais LGBTQ, gerando um clima de equidade e amor. Enquanto Jorja cantava, todos dançavam como se não houvesse amanhã; fazendo com que aquela sensação ruim que tivemos antes de entrar no autódromo fosse diminuindo. O amor contagia!
Na busca pela próxima atração, fomos para o palco que ficava no meio do espaço destinado ao evento. Queríamos ver o Lenny Kravitz, mas acabamos assistindo a apresentação do Post Malone.
Assumindo que ele estava “um pouco alegre”, a sua música até que nos divertiu. E foi uma boa oportunidade para que nos simpatizássemos com o músico, que também é um dos autores da música ‘Sunflower’ (criada especialmente para a animação ‘Into the Spider-Verse’). Pena que ele não incluiu a canção no setlist, rs.
Outra observação importante diz respeito ao púbico: muita gente com cara fechada, balançando o braço em um movimento lento, pra cima e pra baixo, pois, aparentemente, pra ouvir rap você precisa fazer cara de poucos amigos. Porém, vale lembrar que o Post Malone não tem nada de Racionais.
Na minha opinião é só ‘mais do mesmo’ do hip hop estadunidense: relógios caros, festas, mulheres, sexo… Sem falar no ‘look’ escolhido por ele, que foi um conjunto de calça e camisa com tantas informações que levamos mais tempo pra entender a roupa do que para notar o ‘playback’ utilizado durante todo o show.
A chuva não deu trégua, mas permanecemos ali para que algo valesse a pena. Todas aquelas luzes e ativações das marcas que decoravam o local, foram um pouco ofuscadas pelo céu cinzento; além da lama e do mau humor de quem ficou um tempão do lado de fora e perdeu shows importantes.
Ainda tínhamos a ‘headliner’ Kings of Leon, da qual gosto bastante e ainda não tinha visto ao vivo.
A expectativa nos deixou apreensivos, pois a dúvida se veríamos mais uma sessão de ‘playback’ era gigante! No entanto, para a nossa felicidade, os caras tinham um trabalho, e o fizeram com maestria!
Ficou fácil acompanhar todas as músicas, já que o último álbum lançado pela banda, ‘Walls’, foi em 2016.
O vocalista e guitarrista, Caleb Followill, demonstrava ser exigente demais consigo mesmo, passando a nítida impressão de estar concentrado, sem aba para falhas. O guitarrista, Matthew Followil, seguiu a mesma linha; os dois eram os que mais apareciam no telão, sempre muito focados, como se estivessem tocando na garagem de casa.
‘Use Somebody’ foi a única música que fez com que a galera mostrasse um pouco de vida durante o show.
É preciso dizer que a culpa não foi da banda, mas do cansaço das pessoas.
Se eu pudesse pedir algo para a produção naquele momento, com certeza seria um pouco mais de luz, rs.
Seria bobagem, né? No Kings of Leon eles são como são: sobem com seus instrumentos, tocam suas músicas, falam pouco e cantam muito!
Estavam lá pra fazer o rock que precisávamos e não merecíamos. Faltou reconhecimento do público, já tão acostumado com acrobacias e ‘autotunes’ por parte das estrelas.
Resumindo: essa foi a banda que fez valer o segundo dia de Lollapalooza, o que não quer dizer que o festival não tenha cumprido o seu papel.
Texto e imagens por Dani Melo
Fotos por Fábio Tito e Diogo Baravelli – G1