Setembro Negro se consolida como um dos festivais mais importantes do país

Ficou no passado o tempo no qual os fãs de música extrema sonhavam em poder ver suas bandas favoritas se apresentarem no Brasil, afinal, os grandes festivais dedicados às vertentes mais obscuras do metal aconteciam somente fora do país. O festival Setembro Negro, que teve sua primeira edição em 2002, se solidificou e hoje é um evento imperdível para os ‘metalheads’ brasileiros.

A 13ª edição do Setembro Negro, que aconteceu nos dias 6, 7 e 8 de setembro de 2019 no Carioca Club, foi um verdadeiro show de competência, pontualidade, profissionalismo e respeito ao público. Nós da Hedflow comparecemos aos 3 dias do festival e publicaremos uma matéria para cada dia do evento.

Primeiro dia: uma lição de violência sonora com os mestres do Thrash Metal

Gary Holt – Exodus
Foto: Dani Moreira



Uma sexta-feira fria e chuvosa foi o clima para o primeiro dia do Setembro Negro. Quem vive em São Paulo sabe que essa combinação torna o deslocamento na cidade muito complicado, mas isso não foi um grande problema para o público, pois o Carioca Club fica em uma localização privilegiada, bem próximo à estação Faria Lima do metrô.

Pontualmente às 19h o Shaytan foi a banda responsável por iniciar os trabalhos do festival. O quarteto de Mogi das Cruzes (SP) fez uma apresentação impecável, agradando em cheio os fãs de black metal. A banda executou com muita propriedade as músicas do EP ‘Ancient Shadows’ e do ‘Single 2017’. ‘Lords of Hell’ e ‘Ishtar’ foram os grandes destaques do show, criando grandes expectativas para um futuro full length da banda.

Shaytan – Foto: Dani Moreira



Com uma troca de palco muito rápida e eficaz, chegou a vez dos cariocas do Grave Desecrator levarem seu death/black Metal ao Carioca Club, que já recebia um bom público. Com mais de 20 anos de carreira a banda teve um cuidado cênico na sua apresentação, decorando o palco com 2 caixões ao lado dos amplificadores. O começo do show estava com o som das guitarras um pouco embolado no sistema de PA, algo que foi corrigido por volta da terceira música. Isso não comprometeu a qualidade do concerto, fato que pode ser comprovado durante ‘Funeral Mist’, música que fez boa parte do público bater cabeça. Sem dúvidas o black metal brasileiro foi muito bem representado pelas duas primeiras atrações do festival!

Grave Desecrator – Foto: Dani Moreira



A primeira atração internacional foi o Gorgasm, banda estadunidense de death metal que fez no Setembro Negro sua primeira apresentação em solo brasileiro. Como o próprio nome da banda entrega, a temática das letras é sobre sexo, assassinatos, perversões e tortura. As músicas da banda são extremamente técnicas, com passagens instrumentais muito inspiradas e bem executadas ao vivo.

O vocalista  Damian “Tom” Leski estava visivelmente feliz com a recepção do público, agradecendo constantemente o apoio dos presentes. A temática do estilo não me agrada, mas o público pareceu não se importar em ouvir ‘Lesbian Stool Orgy’, que fala sobre uma orgia lésbica cheia de perversão e fezes, ou ‘Mouthful of Menstruation’ que pode ser traduzida como “boca cheia de menstruação”. Questões líricas à parte, é inegável a qualidade musical da banda, que foi ovacionada no fim do show.

Gorgasm – Foto: Dani Moreira



O Legion of the Damaned apresentou o seu death/thrash Metal para uma casa mais cheia, com muitas pessoas vestindo camisetas da banda. Os holandeses começaram sua performance com o som do baixo de Harold Gielen muito alto, atrapalhando um pouco a audição das primeiras músicas. Com a equalização dos instrumentos corrigida, era possível ver boa parte do público abrindo rodas e cantando os refrões de ‘Bleed For Me’ e da composição que leva o nome da banda, responsável por encerrar a apresentação do quarteto.

Foi um grande show que, infelizmente, foi ofuscado por uma postagem da banda em suas redes sociais, na qual se despediam do país imitando emojis de macacos, com as mãos nas orelhas, olhos e boca, com bananas. A banda apagou a postagem e se desculpou, afirmando que “cometemos um grande erro postando uma foto boba ‘surdo-burro-cego’ no nosso Facebook. A piada perdeu totalmente o contexto e, por favor, acreditem em nós: nunca foi nossa intenção!” Posteriormente, o pedido de desculpas também foi apagado das redes. 

Com mais de 35 anos de carreira o At War, trio formado em Virginia (EUA), é um dos precursores do speed/thrash metal. O show foi um pouco morno, mesmo tendo clássicos como ‘Creed of the Sniper’, ‘At War’ e ‘Dawn of Death’ muito bem executados. O público, provavelmente, estava guardando energia para o que seria o grande show da noite. De qualquer forma, a banda que pavimentou o caminho que foi seguido por outros grandes nomes do estilo foi muito aplaudida durante todo o seu set.

At War – Foto: Dani Moreira



Fala-se muito nas bandas do Big 4, mas com certeza o Exodus pertence ao primeiro escalão do thrash metal mundial. Como costumam brincar por aí, o guitarrista Gary Holt é tão incrível que sua segunda banda é o Slayer. O público brasileiro teve o privilégio de ver Holt em ação fechando a primeira noite do Setembro Negro com uma verdadeira aula de violência sonora.

A trinca ‘Bonded by Blood’, ‘Blood In, Blood Out’ e ‘And Then There Were None’ começou mostrando porque a banda é considerada uma das criadoras do estilo, com riffs rápidos e técnicos das guitarras de Holt e Lee Altus acompanhando o espancamento que Tom Hunting promovia em seu kit de bateria, que chegou a quebrar uma peça do seu instrumento.

Exodus – Foto: Dani Moreira



O público berrou todas as músicas cantadas pelo carismático Steve “Zetro” Souza, que se comunicou bastante com os fãs. ‘Blacklist’,  ‘A Lesson in Violence’ e ‘War Is My Shepherd’ seguiram com o massacre, sendo que esta última teve o início interrompido pela banda para a equipe do festival levar um bolo de aniversário para o baixista Jack Gibson. Um afinadíssimo Tom Hunting foi para a frente do palco puxar o “Happy Birthday”.

Tecnicamente o show foi perfeito, da escolha do setlist à performance da banda, que encerrou com ‘The Toxic Waltz’ e ‘Strike of the Beast’. As cortinas já estavam sendo fechadas enquanto o público não parava de pedir por mais uma música. Visivelmente felizes, as lendas da Bay Area atenderam os fã e tocaram mais dois clássicos: ‘Metal Command’ e ‘Piranha’.

Não teria como a primeira noite do Setembro Negro acabar de uma forma mais icônica, com o público voltando satisfeito para casa e se preparando para os próximos dois dias do festival.

Continua…


Fotos por Dani Moreira

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