Em noite histórica Bad Religion lembra que ainda estamos em uma nova Idade Média

A produtora Hellxis trouxe para Lisboa a digressão que celebra ‘40+2’ anos de Bad Religion. O evento ocorreu na Sala Tejo da Altice Arena e mexeu bastante com um público ávido por punk melódico em meio a pitadas extras de crossover!

Certamente que ‘+2’ nessa conta é para deixar à parte o par de anos que passámos em meio à pandemia de coronavírus, essa que vinha inviabilizando eventos culturais com plateia mundo afora.

O início das atividades ficou a cargo dos Blowfuse, grupo catalão que abriu os concertos com um entusiasmo ímpar!

Apesar de a pista não estar cheia no começo das apresentações, o vocalista Oscar Puig transpirava simpatia e tentava a todo momento convencer os que estavam mais ao fundo a darem passos à frente e se aproximarem mais da banda. Funcionou! Os temas ‘State of Denial’ e ‘Outta My Head’ agitaram imenso o ambiente.

Em seguida, com centenas de pessoas ainda a chegarem, foi a vez da prata da casa: a banda algarvia Devil in Me. Os gajos se instauraram com a empolgante ‘War’, logo fazendo a temperatura subir! Era calor humano a emanar por todos os cantos!

Outros momentos de muita intensidade vieram ao som de ‘Warriors’ e ‘Knowledge is Power’.

A performance seguiu pujante e encerrou-se a todo o vapor com ‘Soul Rebel’, tema que veio muito a calhar com esta nossa fase da humanidade. “This is for the ones who never lost hope! The rebel, the strong, the young and the old! Isto é para aqueles que nunca perderam a esperança! Os rebeldes, os fortes, os jovens e os velhos!”, diz a letra. Apesar de composta em 2015, ela transmitiu muito bem o que estávamos todos a sentir ali, tanto os ‘new’ quanto os ‘old school’.


Millencolin – Foto por Stefani Costa



Aí chegou a vez dos Millencolin, e os suecos já pegaram a casa bem mais cheia! Trouxeram ‘SOS’, do álbum mais recente (lançado em Fevereiro de 2019). Parece até que previam na altura que em breve todos pediríamos socorro, naquele ano em que surgiu o que conhecemos por covid-19. Esse vírus que impactou todo o ‘corpo social’ da Terra.

No mais, ‘Sense & Sensibility’ e ‘True Brew’ animaram todas as gerações de HC melódico presentes nesse evento… Que mais parecia um festival, devido ao grande número de atrações num mesmo dia.

Causaram um brilho maior no olhar as clássicas ‘Lozin’ Must’ e ‘No Cigar’. Esta última a derradeira, para matar de vez a saudade daquele período de transição dos 99 aos 2000, que consistia em skate no pé e joystick na mão! ‘No Cigar’ está na trilha sonora do famigerado videojogo Tony Hawk’s Pro Skater, um dos mais populares de todos os tempos entre os amantes dos desportos radicais.

Assim, com a atmosfera do recinto toda carregada de emoção, subiram ao palco os Suicidal Tendencies. Desta vez com Tye Trujillo no baixo, filho do renomado baixista Robert Trujillo (que integrou a banda de 1989 a 1995), e Brandon Pertzborn (dos Ho99o9) na bateria, além de Ben Weinman na guitarra base (ex The Dillinger Escape Plan) e Dean Pleasants na guitarra lead, que já está no grupo desde 96.



O vocalista, frontman e motivador nato, Mike Muir, dispensa apresentações, sendo o único membro remanescente da formação original dos ST!

‘You Can’t Bring Me Down’ deu o tom da chegada e originou circle pits frenéticos! Viam-se bandanas e bonés com o logo do grupo a girarem por todos os lados!

‘I Shot the Devil’ e ‘Send Me Your Money’ deram sequência ao ato. Houve, depois, uma queda de som nos PA’s que impossibilitou ‘Freedumb’ de ser executada na plenitude. Porém, o problema técnico foi rapidamente solucionado e a continuidade veio com ‘War Inside My Head’ e ‘Subliminal’.

Muir dirigiu-se então ao público e falou o que aprendeu com o seu irmão em relação ao skateboard: “quando cais, levanta! Na vida todos cairemos muitas vezes. Não importa quantas vezes, desde que te levantes novamente!” E essa foi a introdução para o hino ‘Possessed to Skate’!

‘Cyco Vision’ e ‘Pledge Your Allegiance’ foram as escolhidas para o ‘adeus’.

A impressão que ficou foi a de ter ouvido ao vivo uma coletânea de ‘Greatest Hits’ dos Suicidal, tendo em vista que somente as ‘mais clássicas dentre as clássicas’ foram escolhidas para o set.

Sem mais ninguém a chegar de última hora, os ‘donos da festa’ iniciaram a apresentação pontualmente, às 22:30, como constava no cronograma.

Com a memorável rufada de bateria acompanhada pelos riffs em ‘Generator’, os Bad Religion, grandes gurus do hardcore melódico, voltaram a tocar na capital portuguesa mais uma vez! ‘Recipe for Hate’ emendou a onda sonora da abertura sem pestanejar. Só então ouvimos Greg Graffin dizer algo: “Eu gostaria de poder ter vindo com boas notícias, mas como todos vocês sabem, esta ainda é a nova Idade Média.” Evidente que a canção por vir era a ‘New Dark Ages’, ovacionada a plenos pulmões!




Entre os temas também não ficaram de fora as aclamadas ‘Struck a Nerve’ e ‘Come Join us’, tendo os seus refrãos cantados em uníssono pela malta.

Em dado momento Graffin perguntou: “quantos de vocês são old school?” Essa era somente a deixa para ‘We’re Only Gonna Die’, o primeiro som do primeiro álbum (How Could Hell Be Any Worse?), lançado em 1982.

Depois disso, ‘Do What You Want’ e ‘No Control’ fizeram novamente o circle pit girar em grande!

Um momento de estranheza por parte da audiência aconteceu depois de ‘21st Century (Digital Boy)’. Ao fim ouviu-se um mero “obrigado” e então o grupo saiu… Seria essa a despedida, assim tão seca?

Óbvio que não, Greg voltou ao palco depois de um minuto de suspense e disse: “obrigado a todos por estarem aqui. Obrigado a todos os fãs de Bad Religion por tantos anos. Vocês sabem que não poderíamos ir embora esta noite sem tocar uma canção que começa assim…” E veio o riff. A tal canção era, claro, ‘American Jesus’!

Como bônus, o encore ainda contou com ‘Fuck Armageddon… This Is Hell’ para consumar mais uma data histórica protagonizada por essa preciosa entidade da vasta cena musical de Los Angeles.

O punk vive…


Texto por Fernando Araújo
Fotos por Stefani Costa



Em noite histórica Bad Religion lembra que ainda estamos em uma nova Idade Média

Por
- Latino-americana, imigrante e jornalista. @sttefanicosta