Jinjer se apresenta em Lisboa e protesta: “Queremos a nossa casa de volta!”

Enquanto o público ainda chegava aos poucos, a tão esperada noite de música pesada no Lisboa Ao Vivo contou com a abertura da Sotz’ (uma banda portuense de death metal que utiliza-se de uma interessantíssima temática inspirada na antiga civilização Maia) e dispôs também do grupo lisboeta de blackened death metal Okkultist (liderado pela exímia frontwoman Beatriz Mariano, detentora de um vocal extremamente potente e avassalador).

Já com a casa cheia, os ucranianos da Jinjer, Roman Ibramkhalilov (guitarrista), Eugene Abdukhanov (baixista), Vladislav Ulasevich (baterista) e Tatiana Shmailyuk (vocalista), subiram ao palco pontualmente às 22h arrancando logo com o tema ‘Call Me a Symbol’ (que também abre o mais recente trabalho de estúdio deles, entitulado Wallflowers, lançado em agosto de 2021).

A sequência veio emendada com ‘On the Top’ e teve ajuda da malta presente no LAV, que cantou a plenos pulmões o refrão: “Is it lonely on the top? Oh, tell me, is there anyone for you?



Porém, foi antes da terceira canção, ‘Pit of Consciousness’, que Tatiana dirigiu-se ao público pela primeira vez no concerto dizendo: “Então, como vocês devem saber o nosso belo país da Ucrânia tem sido despedaçado pela guerra, e, nós somos muito gratos a vocês e a todo o ‘mundo civilizado’ pelo apoio que têm nos demonstrado, pela ajuda humanitária que está sendo enviada para a Ucrânia e por estarem do nosso lado nessa guerra horrível contra nós. Foda-se o regime do Putin, foda-se a guerra!”

No entanto, ela é uma musicista nascida em Donetsk (uma das regiões em que parte da população quer se separar da Ucrânia). As áreas mineiras de Donetsk e Lugansk, agora também chamadas de “repúblicas populares” pelos pró-russos têm 3,8 milhões de habitantes e ocupam um terço da região do Donbass, no qual há o partido ‘Rússia Unida’ que clama por separação.

Posto isso, a simplificação maniqueísta do discurso, impulsionado pela mídia hegemônica corporativista ocidental, que induz demasiadamente ao tipo de pensamento ‘foda-se o regime do Putin’, faz parecer que o Zelensky é o tal fabricado herói de guerra que estão a vender em capas de revista como a Caras. Ele, que está na governança da Ucrânia no momento, já poderia ter chegado a um acordo pelo fim da guerra – ou até mesmo tê-la evitado – caso aceitasse a decisão da maioria nos territórios russófonos.

Vale lembrar que Zelensky (que ascendeu ao poder com um levante dos conservadores supremacistas da extrema-direita ucraniana) tenta legitimar uma das maiores organizações neonazistas armadas do mundo no momento, o Batalhão de Azov.

É óbvio que ninguém em sã consciência quer uma guerra, mas é preciso compreender todas as complexidades do conflito para não cair em uma claque que só tende a gerar russofobia e abrir espaço para os nazistas se expandirem, como foi na década de 30 (antes da segunda guerra mundial).



Na sequência da performance tocaram ‘I Speak Astronomy’, ‘Disclosure!’ e ‘Judgement (& Punishment)’ com circle pits e crowd-surfings frenéticos.

‘Teacher, Teacher!’, ‘Sleep of the Righteous’ e ‘As I Boil Ice’ mostraram toda a potência dos graves muito bem configurados, por mais que para isso sejam necessários os compressores (a fim de lidarem com toda a alta frequência de low-end nas guitarras no bumbo e no baixo).

Por falar nisso, Roman (o guitarrista) usa guitarras barítonas justamente para atingir uma tonalidade mais grave nos seus riffs. Esses que, por sinal, trazem a característica mais fascinante no metal de groove progressivo que a Jinjer executa com absoluta destreza.

A parte final do concerto ficou por conta de ‘Mediator’, ‘Perennial’, ‘Pisces’ e ‘Home Back’ (canção recente composta mediante o atual conflito descrito acima). Introduzida por Tatiana a gritar “queremos a nossa casa de volta!”

Aí despediram-se dizendo que ‘Vortex’ seria o último tema da noite, mas a aparelhagem ficou toda conectada… O que evidenciou que só queriam a audiência a pedirem pelo encore às palmas enquanto proferiam o nome do grupo repetidas vezes.

E o previsível aconteceu, ‘Colossus’ (uma das mais novas) pôs fim à apresentação. Sacaram então uma bandeira portuguesa, com um dos ouvintes da primeira fila, e posaram para fotos com a bandeira da Ucrânia ao lado.

Texto por Fernando Araújo
Edição por Stefani Costa

Galeria de fotos por Victor Souza


Confira ainda a entrevista que a Hedflow fez com a banda Jinjer em 2019 durante o Vagos Metal Fest:





Agradecimentos à Amazing Events

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