Mukeka Di Rato retorna a São Paulo e faz show matador com faixas de Boiada Suicida e outros clássicos da banda

Após realizar um dos shows mais energéticos do festival Insane Music, no final de agosto, a banda Mukeka Di Rato voltou a São Paulo no último sábado (22) para destacar com mais atenção as faixas de Boiada Suicida. O evento aconteceu no Hangar 110, em uma parceria entre a Agência Sobcontrole e a loja de roupas/cervejaria Fenda 315.

Lançado em agosto deste ano, o mais recente trabalho do grupo capixaba (e o primeiro com o vocalista Fê Paschoal) impressiona pela forma crua e realista em que descreve acontecimentos de um Brasil ‘pós-Bolsonaro’. ‘Luzia’ é sobre o descaso do governo com a cultura e a arte. ‘Roubar’ levanta a reflexão acerca do aumento de furtos em supermercados (resultado direto do aumento de preços em um país devastado pela inflação, desemprego e ausência de políticas públicas). Já ‘Milico’ crítica às organizações paralelas armadas que dominam as favelas do Rio de Janeiro.

Todas as letras que compõem a obra despertam questionamentos, e é possível verificar uma análise com o baixista Fábio Mozine no canal oficial do Mukeka Di Rato no YouTube.


Punho De Mahin começou a noite de música. Logo de cara, foi possível sacar a mensagem principal da banda: a conscientização e luta contra o racismo e a valorização da cultura negra. Natália Mota iniciou o set declarando um poema sobre o povo Xingu, e seguiu com a faixa que leva o nome da população tradicional. Entre faixas do disco Embate de ancestralidade, estavam ‘Dandara’,’Navio Negreiro’ e discursos politizados.

O quarteto fez um show rico em elucidação histórica e cultural. Antes de sair do palco, a vocalista comentou sobre a luta do povo Mahin, que ocorreu  no interior do estado da Bahia durante o século XIX, e apresentou “Marighella” – canção dedicada ao militante comunista mais emblemático da história brasileira.



Com um som diferente em relação às demais bandas presentes no lineup do evento, as garotas da Time Bomb Girls colocaram o público para dançar. Iniciando o show com a intro ‘Las tres Destemidas’, as meninas encantaram o público com composições engraçadas e energéticas de canções como ‘Nanana Surf’, ‘Entre Trancos e Barrancos’ e ‘Save Me’.



De forma inusitada, a baterista Camila Lacerda tocou seu instrumento em pé durante toda performance, e, quando chegou vez de executar ‘Quando eu crescer’, uma das canções mais animadas do disco de estreia do conjunto rockabilly, a moça revelou para a plateia que estava grávida e acrescentou: “Algum dia, desejo muito que minha filha possa dançar essa música comigo aqui no Hangar 110”.



Quem também veio com lançamento foi a banda curitibana Water Rats. Em ‘Tetrix’, quarto lançamento oficial do grupo, os rapazes revisaram suas raízes e destacaram um sonoridade punk e crua – fórmula explorada em seus primeiros trabalhos.


As faixas inéditas ‘Watch Your Head’ e ‘Anti Future’ foram os grandes destaques da apresentação, mas o show também contou com canções de Ugly By Nature e do Hellway to High, gravado e mixado em Seattle, no ano de 2016, por Bryan Pugh e Jack Endino.

O vocalista Capilé fez questão de convidar o público ao evento “Hardcore contra o fascismo“, que aconteceu no dia seguinte, e afirmou que a participação no Largo da Batata era uma de “demonstrar indignação ao governo Bolsonaro”.



Um som de berrante começou a soar pelos alto-falantes do Hangar 110, anunciando que havia chegado a hora da atração principal subir ao palco. Quando as cortinas do clube foram abertas, Fê Paschoal inflou o público com a música com ‘Boiada Suicida’.

Em seguida, o show continuou com uma mistura de faixas do novo álbum como ‘Milico’, ‘Humano Fracasso’, ‘Facada’ e outros clássicos dos discos Pasqualin na terra Xupa Kabra (1998), Gaiola (1999) e Acabar com você (2001), entre elas: ‘Mickey’, ‘New Wave Índio’, ‘Cachaça’ e ‘Minha Escolinha’.


A presença de palco do quarteto foi agressiva, ágil e precisa, e a conexão resultou em moshpits violentos e em uma chuva de stage dives. Além disso, o vocalista Fê Paschoal interagiu bastante com a plateia, contou dezenas de piadas relacionadas as composições das músicas e estimulou a os presentes a entoar o coro “Hey, Bolsonaro, vai tomar no c*” – grito de guerra onipresente em shows punk.



O governo reacionário de Bolsonaro prometeu avanços, porém, trouxe de volta a fome, o desemprego, estimulou a violência generalizada e o desrespeito aos direitos humanos. Boiada suicida é um disco obrigatório para refletir sobre o Brasil atual: uma obra que “esfrega” na cara os problemas sociais que muitos aceitam por puro comodismo. 

Mukeka Di Rato retorna a São Paulo e faz show matador com faixas de Boiada Suicida e outros clássicos da banda

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- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.