Jack Johnson surpreende e enche casa de espetáculos em SP com a leveza de suas canções


Nem o fã mais otimista do Espaço Unimed seria capaz de imaginar que o clube recuperaria sua agenda de shows de forma tão rápida. Após a pandemia de COVID-19, que paralisou o setor cultural por quase dois anos, em novembro de 2021, medidas de flexibilização começaram a ser adotadas, possibilitando a retomada de eventos musicais no local. Desde então, o clube não parou por um momento, e vem sediando uma média de 3 espetáculos musicais por semana.

Porém, mais surreal do que vivenciar a retomada triunfante da casa, foi observar um artista que se encontra fora dos holofotes da “grande mídia” levar o clube a uma de suas maiores lotações desde o começo do período ‘pós-pandêmico’. Na última quarta-feira (18), centenas de pessoas compareceram em peso para assistir a apresentação do músico havaiano Jack Johnson.

Jack Johnson – Fotos: Gustavo Diakov/Hedflow



Nascido em Oahu, em 1975, no estado americano do HavaíJack Johnson foi um dos principais nomes da acoustic music durante a década de 2000. Devido a seu talento acima da média, o rapaz chamou a atenção do compositor Ben Harper ainda no começo de sua carreira musical, em 2001, que o “apadrinhou” e “fez a ponte” entre o músico com a gravadora Universal Records para a distribuição de seu primeiro álbum, intitulado Brushfire Fairytales.  Entre 2005 e 2007, Johnson conquistou o mainstream com o álbum In Between Dreams (trabalho que destaca os hits ‘Better Together‘ e ‘Sitting, Waiting, Wishing‘) e com o belíssimo videoclipe animação/live-action de ‘Upside Down’, single da trilha sonora do filme infantil Curious George”.

Durante a década passada, Jack lançou mais alguns discos, que, infelizmente, não receberam grande atenção da ‘mídia de massa’. No entanto, o havaiano ainda possui uma carreira ativa. Aos 47 anos, ele segue pelo mundo divulgando projetos de caridade, atividades extracurriculares para crianças e adolescentes e ‘Meet the Moonlight, seu oitavo álbum de estúdio e primeiro trabalho completo em cinco anos.



A casa abriu pontualmente às 19h, e o público inicial pôde tirar fotos do banner exclusivo da turnê, acompanhar a discotecagem ou comprar merchandising exclusivo na barraca da Highlight Sounds.

Por volta das 20h, o carioca Rogê subiu ao palco para animar a plateia. Em um set especial, o músico destacou, em sua maioria, canções que compôs em conjunto com outros artistas populares do samba, entre elas: ‘Quero Balançar‘ e ‘Suingue de Samba‘ (Arlindo Cruz), ‘Diáspora Negra’ (Nei Lopes), ‘Presença forte‘ e ‘Pra você amigo’ (Seu Jorge).

Nos poucos momentos em que interagiu com o público, Rogê comentou que havia conhecido Jack Johnson no backstage e ainda brincou ao afirmar: “O cara é um dos nossos, muito gente boa”. Além disso, ele também falou um pouco sobre sua rotina no exterior e arrancou uma salva de palmas dos presentes ao mencionar: “O calor humano só existe aqui”.

Infelizmente, os telões laterais não foram ligados durante o set, e a iluminação do palco permaneceu baixa durante toda a apresentação. No entanto, a ousada proposta de levar samba para o público do pop funcionou muito bem.

Rogê em São Paulo – Foto: Gustavo Diakov/Hedflow



Ao término do show do Rogê, o Espaço Unimed alcançou sua lotação máxima. O volume de pessoas dentro da casa de espetáculo era tanto que o simples ato de caminhar se tornou uma tarefa árdua. Além disso, muitos fãs tiveram dificuldades para entrar na pista premium, e a equipe do local necessitou organizar uma fila de espera.

De bermuda, camiseta e chinelo, Jack Johnson surgiu no cenário e cumprimentou os fãs com um simpático “Olá, tudo bem?”. Na sequência, mandou ‘Mudfootball‘, cuja execução foi decorada com efeitos psicodélicos e com o “dono da noite” mandando um solo de violão improvisado. Ao término da brincadeira, ‘Taylor’ abriu a sessão de sucessos, com imagens de um belíssimo céu azul e pôr do sol em uma praia paradisíaca enfeitando o clima “good vibes” da faixa. Aproveitando a temática “sol e praia”, a mesma decoração foi utilizada em ‘One Step Ahead‘ – principal single do novo disco Meet the Moonlight.

Após arriscar algumas palavras em português com a plateia, Johnson decidiu homenagear alguns de seus ídolos em uma dobradinha com os covers ‘Flake/In the Summertime’ (Jimi Hendrix) e ‘You and Your Heart/Crosstown Traffic’ (Mungo Jerry).



Com o encerramento da sessão de releituras, Jack e companhia mandaram mais uma dobradinha, desta vez com os dois maiores hits de sua carreira: ‘Sitting, Waiting, Wishing’ e ‘Upside Down’, que foi “enfeitada” com extensões de pianos, solos de violão e um medley com as músicas ‘Time Is The Master‘ e ‘Badfish’ (John Holt e Sublime, respectivamente). Apesar de ter arrancado palmas da plateia e ter colocado o público para cantar a plenos pulmões, a apresentação seguida das duas faixas mais aguardadas do show foi um grande erro estratégico.

O show seguiu com um setlist variado, passando por faixas antigas, como ‘Inaudible Melodies’, do álbum Brushfire Fairytales, e ‘Symbol in My Driveway’single de On and On, além da inédita ‘Costume Party‘, que contou com uma inusitada performance de Jack soprando a introdução da música em garrafas de vidro.




Nas últimas apresentações que realizou no Chile, o músico chamou artistas locais para participar em releituras de algumas de suas canções. Seguindo a mesma dinâmica dos concertos realizados em território chileno, Rogê, Armando M. e André Siqueira foram convidados para participar em ‘Sunsets For Somebody Else’ e ‘Big Sur’, que acabaram “abrasileirando” as músicas do havaiano com instrumentos tradicionais do samba, como cavaquinho e reco reco.

Próximo ao encerramento do set regular, vieram uma mescla de hits e b-sides, entre elas: ‘Bubble Toes’, ‘Wasting Time’ e ‘Breakdown’. Além disso, nesta ocasião, Johnson protagonizou um dos momentos mais incríveis da noite ao atender o pedido de uma fã que solicitava a música ‘I Got You’ utilizando um cartaz. 

Depois de um breve bisJack Johnson retornou sozinho ao palco e mandou versões acústicas de ‘Times Like These’ e ‘Do You Remember’. Ao finalizar a apresentação das faixas, seus músicos de apoio voltaram ao cenário e o show foi finalizado com as canções ‘Angel’ e ‘Better Together’.

Foi incrível vivenciar a experiência de conferir um músico que sequer está presente no cenário mainstream levar um dos principais clubes de São Paulo a sua lotação máxima. Certamente, uma tarefa que poderia ser realizada por uma figura carismática e que entrega 100% de dedicação à música. Apesar de não ter destacado grandes efeitos visuais e ter cometido algumas falhas na preparação de seu repertório, Jack Johnson forneceu uma noite incrível ao público paulistano com sua simpatia singular e leveza de suas canções. 

Setlist

  1. Mudfootball;
  2. Taylor;
  3. One Step Ahead;
  4. Flake / In the Summertime (Mungo Jerry cover);
  5. You And Your Heart / Crosstown Traffic (The Jimi Hendrix Experience cover);
  6. Sitting, Waiting, Wishing;
  7. Upside Down / Time Is the Master / Badfish (Mash up com faixas de John Holt snippet e Sublime);
  8. Inaudible Melodies
  9. Middle Man / Breathe (In the Air)
  10. Symbol in My Driveway
  11. Costume Party
  12. Sunsets for Somebody Else (com  Rogê)
  13. Big Sur (com Rogê)
  14. Bubble Toes
  15. Wasting Time
  16. Breakdown
  17. I Got You
  18. Don’t Look Now / Radio On / Shot Reverse Shot
  19. Belle / Banana Pancakes / Girl I Wanna Lay You Down (Zach Gill cover)
  20. Rodeo Clowns / Soul Shakedown Party / Good People

    Bis
  1. Times Like These
  2. Do You Remember
  3. Angel/Better Together



Rogê



Jack Johnson




Texto: Guilherme Góes
Edição: Stefani Costa
Fotos: Gustavo Diavok (xchicanox)

Jack Johnson surpreende e enche casa de espetáculos em SP com a leveza de suas canções

Por
- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.