Shellac lança o seu último álbum 10 dias após o falecimento de Steve Albini

Foi em março deste ano que o power trio (Steve Albini na guitarra e no vocal, Bob Weston no baixo e Todd Trainer na bateria) anunciou que To All Trains seria lançado pelo selo Touch and Go Records, assim como todos os outros 5 álbuns deles: At Action Park (de 1994), Terraform (de 1998), 1000 Hurts (de 2000) Excellent Italian Greyhound (de 2007) e Dude Incredible (2014). Esse agora, o To All Trains, que saiu hoje, é o sexto e último álbum de estúdio. Saiu depois de uma década do anterior e infelizmente Steve não pôde vê-lo ir ao mundo, não deu tempo, acometido por um ataque cardíaco fulminante na noite de terça-feita do dia 7 deste mês de maio em sua casa, na cidade de Chicago (onde viveu e trabalhou gravando bandas com seus honorários fixos e bastante acessíveis, independentemente do status de quem agendava gravação com ele.

O Shellac sempre foi uma unidade sonora avassaladora por parte dos três grandes músicos e amigos. Nunca houve nenhuma mudança de membro na banda. Eles começaram a gravar To All Trains em 2017 e eles tocaram muitas dessas músicas ao vivo durante anos. Ainda assim, não houve singles antecipados. Sempre estiveram atrelados ao selo Touch And Go, renomado na cena punk/noise rock. Lançam discos do Steve Albini desde meados dos anos 80, quando ele estava ainda no antológico grupo pós-punk Big Black.



O álbum é curto, porém muito robusto, 10 músicas em 28 minutos, e funciona como um excelente exemplo do tipo de rock apocalíptico minimalista dessa banda. Uma gravação bem básica e direta, no próprio estúdio que Albini tinha, o Electrical Audio, e o resultado final soa fantástico, absolutamete coeso, brutal e abrasivo como sempre. Ele tinha uma metodologia de captar a banda tocando com microfones ao redor da sala ao invés de aplicar efeitos de reverb. A reverberação natural das salas do estúdio davam um dinamismo e uma profundidade impressionante com as suas escolhas de diferentes tipos de microfonações e posições ao fundo do ambiente. A sensação ao ouvir qualquer trabalho de estúdio dele é o de a banda estar tocando para você, em uma sala, na hora, ressoando ao vivo e a valer. Os sons de bumbo e de caixa que ele costumava captar são legendários e consagrados na história da música.




O humor ácido de Albini, sua marca registrada, veio daquele jeito na letra da última faixa (que acabou por ser o último som lançado pelo Shellac):

Something something and when this is over
I’ll leap in my grave like the arms of a lover

Algo, algo e quando isto estiver acabado
Pularei em meu túmulo como aos braços de uma amante


I don’t fear Hell
The floor show would be incredible

Não temo ao Inferno
O show no chão seria incrível


If there’s a heaven, I hope they’re having fun
Cause if there’s a hell, I’m gonna know everyone

Se houver um paraíso, espero que estejam se divertindo
Porque se houver um inferno, eu vou conhecer todo mundo


I don’t fear Hell
Their baseball team is undefeated

Não temo ao inferno
O time de beisebol deles está invicto


Engraçado, esquisito, sagaz, afiado, pesado… Assim foi o Shellac.

A contribuição de Steve Albini para a música sincera, genuína e radicalmente motivadora nesse mundo jamais será esquecida. Em memória, fica aqui o seu último som:






Abaixo se pode ouvir o álbum completo:




Shellac lança o seu último álbum 10 dias após o falecimento de Steve Albini

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- Editor.