O primeiro dia do Oxigênio Festival 2024 foi marcado por um verdadeiro susto. Originalmente programado para ocorrer no Aeroclube Campo de Marte, o evento teve que ser transferido de última hora, com a mudança ocorrendo literalmente aos ’45 minutos do segundo tempo’. Isso ocorreu quando dezenas de fãs já se dirigiam ao local ou aguardavam a abertura do espaço. Apesar da ausência de maiores problemas e da compreensão demonstrada por boa parte do público, a experiência geral foi prejudicada pela falta de atividades interativas dos patrocinadores e pela remoção de algumas bandas do lineup.
Felizmente, no domingo (4), a segunda data do evento ocorreu com muito mais tranquilidade. A festa foi realizada na Audio, um clube de médio porte localizado na região da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Graças à infraestrutura do local, que dispõe de dois palcos, foi possível manter praticamente toda a programação original. Além disso, algumas atividades foram bem aproveitadas, como a presença do staff da câmera Instax da marca Fujifilm, que teve uma recepção ainda mais positiva do que no Cine Joia. No geral, a Audio recebeu ótimas avaliações, e muitos recomendam que a casa seja o palco da próxima edição do festival.
Como de costume em praticamente todas as edições do Oxigênio Festival, a banda Karaokillers iniciou as atividades do dia no palco secundário do clube. Formada por músicos experientes da cena hardcore paulistana, a banda é conhecida por fazer um set com covers de canções populares do punk, sempre oferecendo aos fãs a oportunidade de assumir os vocais.
Já no palco principal, a banda Join The Dance, originária de São Gonçalo, Rio de Janeiro, deu início à sessão de música. Liderada pela vocalista La Veggie, o grupo apresentou técnicas vocais melódicas e um ritmo pop punk, trazendo uma sensação nostálgica do auge do movimento emo. O som do conjunto remete ao trabalho da Killi, um grupo paulistano popular na cena dos anos 2000, mas também incorporou batidas mais aceleradas, mostrando variedade de influências.
De volta ao palco secundário, o público acompanhou o show da Swave, um projeto formado por ex-membros da Violet Soda, Far From Alaska e Supercombo. Com uma sonoridade e estética voltadas para o grunge dos anos 90, a banda trouxe uma grande novidade: todas as suas composições são em português, algo que vai na contramão de trabalhos anteriores dos músicos. A performance da vocalista Aline Mendes foi o grande destaque do set devido a sua presença de palco vibrante que incentivou bastante interação com o público. Sem dúvida, a Swave é um nome a ser acompanhado nos próximos lançamentos.
O screamo também foi bem representado no Oxigênio Festival pela December, um dos principais nomes nacionais do movimento na década de 2010. Após um período de hiato, a banda voltou às atividades com Kalera, ex-vocalista da Venice, substituindo o antigo frontman Coloral. Além de clássicos dos EPs ‘Breakdown’ (2010), ‘Flecha’ (2011) e ‘Segunda Flecha’ (2012), o grupo também apresentou faixas inéditas, como ‘Oxigênio’, que incorpora elementos modernos de bases eletrônicas e breakdowns. O setlist também contou com postura política, com a bandeira da Palestina em destaque como protesto contra os recentes ataques de Israel.
Agradando os fãs do som old school, o evento seguiu com a apresentação do Nitrominds, tradicional trio punk rock do ABC paulista que encerrou suas atividades em 2012, mas ainda realiza alguns shows esporádicos. Sendo um dos shows mais esperados pela galera ‘hardcore raiz’, o set contou com stage dives, moshpits e até um mini wall of death durante ‘On The Road’. Apesar de serem lançadas há mais de duas décadas, músicas como ‘Policemen’, ‘Fire and Gasoline’ e ‘Something To Believe’ ainda evocam grande emoção, e a plateia na pista cantou cada palavra com entusiasmo. Já no palco secundário, o Faca Preta reuniu seu pequeno, mas fiel público, que cantou com devoção as músicas inspiradas no punk 77. Aproveitando a oportunidade no Oxigênio Festival, o grupo também captou imagens para um novo videoclipe.
Na reta final do evento, o público foi presenteado com uma dose dupla de ‘revival emo’ com duas bandas icônicas: Sugar Kane e Aditive. O Sugar Kane, que não tem sido muito ativo recentemente, retornou ao Oxigênio após um longo período, com sua última apresentação no festival ocorrendo em 2019. Com uma nova formação, o show atraiu um dos maiores públicos do dia, mergulhando a plateia na nostalgia do cenário emo com músicas como ‘Será Viver’, ‘Medo’, ‘Janeiro’ e outras. Antes de encerrar a apresentação, o vocalista Capilé prometeu que um novo disco será lançado em breve, que será lançado pela popular gravadora Deck. No mesmo palco, a banda Aditive continuou a trilha sonora nostálgica do movimento emo dos anos 2000, com dois integrantes da formação clássica, Thiago ‘Monstrinho’ e ‘Hóspede’, e um setlist repleto de seus principais sucessos.
O encerramento da 9ª edição do Oxigênio Festival ficou por conta da banda The Get Up Kids, que, assim como o Hot Water Music, que encerrou o lineup no dia anterior, desempenhou um papel fundamental na formação da cena emo. Os integrantes Matthew Pryor (vocal), Jim Suptic (guitarra/vocal), Robert Pope (baixo) e Ryan Pope (bateria) subiram ao palco pontualmente às 22h15 e, após simpáticos agradecimentos, começaram o set com o sucesso ‘Holiday‘. Em seguida, a banda apresentou o álbum ‘Something to Write Home About’ na íntegra. Faixas populares como ‘Action & Action’, ‘Valentine’, ‘Out Of Reach’ e ‘Ten Minutes’ foram recebidas com grande empolgação. No entanto, o público também mostrou entusiasmo por faixas secundárias como ‘Red Letter Day’ e ‘The Company Dime’, com alguns fãs subindo ao palco para cantar trechos dessas músicas junto aos integrantes. Vale destacar que foi um grande privilégio para o público brasileiro, pois, embora a turnê ’25th Anniversary Something to Write Home About’ vá passar por diversas cidades dos Estados Unidos e Canadá, o grupo escolheu apresentar o repertório especial em primeira mão no Brasil. Ao término do álbum, o quarteto ainda destacou algumas faixas de outros lançamentos, como o sucesso ‘Don’t Hate Me’.
Apesar dos inúmeros desafios, a organização do Oxigênio Festival se dedicou intensamente e conseguiu proporcionar um espetáculo excepcional para os fãs do cenário independente de São Paulo. Sem dúvida, esta foi a edição mais memorável do evento underground.
Galeria / Gustavo Palma (@gus.palma), profissional credenciado pelo site @euquerofalardemusica
The Get Up Kids
December
Sugar Kane
Swarve
Chuck Ragan
Texto por Guilherme Góes.
Imagem destacada e todas as demais fotos por Gustavo Palma (@gus.palma), profissional credenciado pelo site @euquerofalardemusica
Agradecimento especial: Maria Correia (Metal No Papel)