Pepe Bueno, nome artístico de Marcelo Antunes Bueno, se destacou no rock independente, inicialmente como integrante da banda Tomada, com a qual lançou quatro álbuns. Embora fortemente ligado ao rock, sempre explorou diferentes estilos, o que ficou evidente em seu segundo disco solo, Eu, O Estranho (2016). O sucesso desse projeto o levou a formar a banda Os Estranhos, com quem lançou Preces e Tentações (2019) e Bagunça (2022). Agora, após quase três anos, Pepe Bueno & Os Estranhos retorna com Confissões e Outros Blues, que será lançado em 14 de março nas plataformas de streaming.
Guilherme Góes || Hedflow: Olá, Pepe! Obrigado por dedicar um tempo para conversar com a Hedflow. Para começar, poderia se apresentar para quem ainda não conhece seu trabalho?
Pepe: Oi, amigos. Obrigado pelo espaço. Cara, eu sou um “fio desencapado” que ama música. Sou um devoto. Comecei a tocar no fim dos anos 1990, um “filho da MTV de Gastão”, Thunder [VJ Thunderbird] e toda a galera que fazia acontecer. Criei o Tomada nos anos 2000, e segui por lá até 2017, quando decidimos fazer um hiato. E agora sigo no mundo com Os Estranhos.
Guilherme Góes || Hedflow: Seu envolvimento com a música tem muitas camadas. Como surgiu seu interesse, especialmente pelo rock, o experimental e o blues? Poderia contar um pouco sobre seus primeiros contatos com esses estilos?
Pepe: Sou fã de Mutantes e John Lee Hooker, e acho que no meio desses dois mundos está a resposta do som e da pergunta. Quando moleque, ia muito na Galeria do Rock de São Paulo e lá conheci muita música. Do Rolling Stones veio o Blues, fiz o caminho inverso do cronograma natural da vida – afinal, hoje é 2025, e na época era 2000. Minha mãe me disse que, quando criança, eu ficava dançando Rita Lee em frente a TV, então com certeza a influência dos Mutantes começou aí.
Guilherme Góes || Hedflow: Durante muitos anos, você fez parte da banda Tomada, um nome importante no underground paulistano. Como foi essa experiência? Que aprendizados dessa fase você carrega até hoje?
Pepe: Tive bons anos, boa música e experiências incríveis com o Tomada – tanto em estúdio como no palco. Minha ideia é, e sempre foi colocar o bloco na rua, é isso que trago hoje com Os Estranhos. Vamos lançar um novo álbum e já temos datas para fazer mais shows e divulgar esse disco, e é isso que vamos fazer: tocar pelos palcos das cidades!
Guilherme Góes || Hedflow: Seu último álbum, Bagunça (2022), foi muito bem recebido. O que levou três anos para que um novo material fosse lançado? Esse intervalo influenciou o som do novo disco de alguma forma?
Pepe: A maior diferença do “Bagunça” é que gravamos na pandemia, e “Confissões e Outros Blues” foi gravado com a banda tocando a base do disco junta, deixamos muitas coisas das sessões de base no disco. Por exemplo, o Wurlitzer que o Gabriel gravou na base, tá em quase todas as faixas, isso tudo deixou o álbum com sonoridade mais orgânica, e isso eu queria muito.
A distância de tempo entre os álbuns foram “coisas da vida”, como dizia Rita Lee. Todos nós passamos por bons e maus momentos e temos que respeitar o tempo nessas horas.

Guilherme Góes || Hedflow: No próximo dia 14/3, você lança seu terceiro álbum solo, ‘Confissões e Outros Blues’, com Pepe Bueno & Os Estranhos. Como foi o processo de gravação? O que esse disco representa dentro da sua trajetória?
Pepe: Um disco fundamental! Passamos por momentos duros com mortes e desencontros nesse tempo. Nelson Brito, é um grande amigo que levo no peito, ele estava nas sessões que ocorreram no Orra Meu Estudios, mostrei pra ele nossa versão de “Real Valor” (Cover de Golpe De Estado), e ele adorou, duas baterias, mexer um pouco a estrutura da música, sem tirar as características da versão original. A morte dele foi um baque, logo após perdermos Diego Basanelli, (cara que ajudou a criar o icônico “Clandestino”) e que canta “If I Lose”.
Foi um momento muito legal nosso criar a linha da voz desse som com letra de Mário Bortolotto, além da nossa homenagem ao Paulo Meyer (músico que toquei junto por quase dois anos, antes de sua morte com “O Blues e a Prancha”). Isso tudo deixa o disco com uma importância sentimental forte pra mim.
Guilherme Góes || Hedflow: Como você definiria o resultado final de ‘Confissões e Outros Blues’? Acha que é um trabalho voltado a um público específico ou que pode dialogar com diferentes tipos de ouvintes?
Pepe: É um disco para dialogar com os nichos que gostamos. Não vejo problema nenhum nisso, e confesso que até curto. Curto blues, mesmo sendo um caiçara nascido em Santos e que vive na selva de pedras. Isso basicamente me deixa um cara, como posso dizer, talvez “estranho”.
Guilherme Góes || Hedflow: No dia 21/3, você faz o show de lançamento no Sesc Belenzinho, com convidados como Thunderbird, Paulão de Carvalho, Paulo Resende, Fabio Brum, Mário Bortolotto e Fabio Pagotto. Como se reuniu esse time de peso? O que o público pode esperar dessa apresentação?
Pepe: Que time, né?
Fico feliz de todos estarem por causa da música, do som. Teremos duas baterias, teclado, um monte de guitarras e vozes. Eu adoro essa bagunça. Só esqueci que o Mad Dogs do Cocker, foi um fracasso financeiro, já de som era incrível (hahaha). Vou acreditar no som e isso a galera pode esperar.

Guilherme Góes || Hedflow: Após o lançamento do disco, quais são os próximos passos da sua carreira? Tem planos para turnê ou outros projetos em vista?
Pepe: Queremos tocar e vamos. Já temos algumas datas marcadas, outras vão pintar, venham nos ver. É a melhor troca que Os Estranhos podem oferecer é o nosso som.
Minha cabeça não para. Lógico que quero gravar um disco mais voltado ao blues nacional, misturando composições como nosso sotaque… quem sabe um ao vivo assim?
Guilherme Góes || Hedflow: Olhando para o cenário do rock nacional, como você compara a cena atual com a época em que começou, no início dos anos 2000? O que mudou para melhor e o que piorou?
Pepe: O mundo é mutante e será sempre.
Como se adaptar? Tem escolas que a música faz e fez, vejam as carreiras de Bowie, ou Dylan, ou Belchior, ou Cascadura. Façamos nosso próprio corre. Sejamos originais, é isso que me interessa e existem muitos artistas atuais que são assim, posso citar André Prando e Seu Pereira. O som vive bem.
Guilherme Góes || Hedflow: Para fechar, tem alguma banda ou artista que anda ouvindo e gostaria de recomendar?
Pepe: Citei os dois acima, minha playlist agora foi de Fiona Apple a The Band, O Terno a Celso Blues Boy. Vou acompanhar os shows da Cachorro Grande quando pintarem em SP, e sempre que tiver algum som bom na cidade e eu for convidado, eu irei, tem uma cena bem legal ainda.
Grande abraço Guilherme, espero estar conectado com quem curte música, é onde me sinto essa conexão é fundamental.