No último sábado (08), São Paulo recebeu a primeira edição do festival Punk Is Coming, que reuniu grandes nomes do gênero, como Amyl And The Sniffers, The Damned, The Warning, Sublime With Rome, Rise Against e The Offspring, banda encarregada de encerrar a festa no Allianz Parque. O evento representou uma grande conquista para a cena punk, já que, após anos, um festival inteiramente dedicado ao estilo — incluindo artistas do underground — conseguiu atrair milhares de pessoas e lotar um estádio que tradicionalmente recebe gigantes da música, reconhecidos no cenário mainstream.
Além do evento principal, o público paulistano também foi presenteado com apresentações b-sides de atrações do lineup oficial, promovidas pela 30e no clube Cine Joia. Na quinta-feira (06), o Amyl And The Sniffers, uma das maiores revelações do punk australiano, entregou um show explosivo e cheio de atitude. Já na sexta-feira (07), foi a vez dos fãs viajarem no tempo com a apresentação do The Damned, banda pioneira do punk inglês, que trouxe um pouco da sonoridade da primeira fase do movimento.
Formado em 1976, na cidade de Londres, o conjunto foi o primeiro grupo punk do Reino Unido a lançar um single (‘New Rose’, 1976) e um álbum (‘Damned Damned Damned’, 1977). Ao longo dos anos, expandiram sua sonoridade incorporando elementos do gótico e pós-punk, destacando-se com discos como ‘Machine Gun Etiquette’ (1979) e ‘Phantasmagoria’ (1985).
No dia do evento, o público compareceu em peso, garantindo um sold out nos ingressos. Como era de se esperar, os punks dominavam a plateia, ostentando roupas com estampas chamativas e cortes de cabelo ousados, com moicanos impressionantes. No entanto, também era possível notar a presença de outras tribos, como góticos e headbangers, tornando a atmosfera ainda mais diversa.
Pontualmente às 21h, David Vanian (vocal), Captain Sensible (guitarra), Monty Oxymoron (teclados), Paul Gray (baixo) e Rat Scabies (bateria) subiram ao palco. Antes de iniciar o show, Vanian dedicou a apresentação ao músico Brian James, ex-guitarrista e um dos fundadores do The Damned, que havia falecido um dia antes da performance em São Paulo. Com essa homenagem, a banda deu início ao repertório, transportando o público direto para a cena punk dos anos 70 com a dobradinha ‘Love Song’ e ‘Machine Gun Etiquette’, ambas do terceiro álbum do grupo.
Na sequência, veio ‘Wait for the Blackout’, que trouxe um ritmo mais melódico e pop, destacando um solo técnico e complexo de Captain Sensible, provando que ele vai muito além dos três acordes característicos do punk. Já ‘Lively Arts’ apostou em uma pegada dançante, impulsionada pelas passagens marcantes de teclado. Os sintetizadores continuaram em destaque em ‘The History of the World (Part 1)’, cuja melodia inesperada poderia facilmente estar em um dos primeiros álbuns do Bon Jovi. É fácil imaginar o impacto que essa faixa causou na comunidade punk quando foi lançada no álbum ‘The Black Album’, quebrando expectativas dentro do próprio gênero.
Após a música, Captain Sensible interagiu com o público, arriscando algumas palavras em português e arrancando risadas da plateia. O repertório, que passou por faixas que destacavam o pós-punk e o gótico, voltou às raízes da sonoridade punk com a feroz ‘Plan 9 Channel 7’, marcada por um solo de guitarra visceral. Mantendo a animação em alta, ‘Stranger on the Town’ veio com uma linha de baixo contagiante, enquanto ‘Gun Fury (of Riot Forces)’, do álbum ‘Strawberries’ (1982), surpreendeu com uma sonoridade quase progressiva. Neste momento, ficou evidente a vitalidade impressionante dos integrantes, que, mesmo beirando os 70 anos, se moviam com energia pelo palco, exibindo uma presença cativante.
O show seguiu explorando diferentes atmosferas, alternando entre momentos introspectivos, como ‘I Just Can’t Be Happy Today’ e ‘Dr. Jekyll and Mr. Hyde’, e explosões de velocidade punk em ‘Fan Club’ e ‘Life Goes On’. A banda também revisitou suas influências progressivas, trazendo arranjos ricos em teclados, especialmente no cover de ‘Eloise’, de Barry Ryan.
Na reta final, o setlist foi praticamente um tributo à fase mais punk do The Damned, com a enérgica ‘Ignite‘, soando quase como hardcore, e a clássica ‘Neat Neat Neat’. No bis, vieram os hinos ‘New Rose’ e ‘Smash It Up (Part 1 & 2)’, encerrando a noite em grande estilo.
Embora tenha surgido no punk, o The Damned sempre transitou entre diferentes gêneros sem perder sua essência, adicionando novas influências e reafirmando sua originalidade. Para os punk rockers paulistanos, foi um verdadeiro presente poder assistir à banda ao vivo após 13 anos desde sua última passagem pela cidade.
Fotos: Gustavo Diakov (profissional credenciado pelo site Igor Miranda Música e Jornalismo, que gentilmente compartilhou seu trabalho com a Hedflow)
Setlist
Love Song
Machine Gun Etiquette
Wait for the Blackout
Lively Arts
The History of the World (Part 1)
Plan 9 Channel 7
Stranger on the Town
Gun Fury (of Riot Forces)
I Just Can’t Be Happy Today
Dr. Jekyll and Mr. Hyde
Fan Club
Eloise (Barry Ryan cover)
Life Goes On
Born to Kill
Noise Noise Noise
Ignite
Neat Neat Neat
Bis:
Curtain Call
Drum Solo
New Rose
Bis 2:
Smash It Up (Part 1)
Smash It Up (Part 2)
Texto: Guilherme Góes
Agradecimento especial: Maria Correia (Metal No Papel / Heavy Metal Online)