O metalcore foi, sem dúvida, a vertente da música extrema que mais ganhou popularidade nas últimas duas décadas. Bandas como Avenged Sevenfold, Bullet For My Valentine, Killswitch Engage e As I Lay Dying conquistaram grande atenção da mídia, chegando até mesmo ao mainstream. Suas músicas marcaram presença em trilhas sonoras de filmes e videogames, além de serem apresentadas em programas de auditório e em palcos de grandes festivais como Rock in Rio, Rock am Ring, Wacken Open Air e Graspop.
No entanto, enquanto alguns grupos alcançaram enorme sucesso comercial, outros, mesmo sem a mesma visibilidade, foram essenciais para a evolução do gênero. Um desses nomes é o Atreyu. Formada em 1998, na Califórnia, o conjunto se destacou por combinar o peso característico do metalcore com passagens melódicas, em uma época em que o estilo ainda era amplamente associado a guitarras agressivas e vocais guturais. Além disso, o grupo conseguiu incorporar influências de hard rock, tornando seu som mais acessível a um público mais amplo. O álbum ‘The Curse’ (2004) foi um divisor de águas, trazendo faixas icônicas como ‘Right Side of the Bed’ e ‘Bleeding Mascara’. Sua sonoridade serviu de referência para diversos nomes que surgiram posteriormente.
No Brasil, um dos grupos mais influenciados pelo Atreyu foi o Gloria, que alcançou grande popularidade nos anos 2000. Com forte presença nas rádios de rock e emissoras como MTV e Mix TV, a banda chegou a se apresentar no palco principal do Rock in Rio 2011, consolidando seu nome na cena nacional.
Agora, após 25 anos de carreira e inúmeras solicitações dos fãs brasileiros, o Atreyu finalmente fez sua estreia no país. O aguardado show aconteceu na última quinta-feira (20), no tradicional Carioca Club.
Atreyu abrindo para…. Atreyu?
No dia do show, as portas foram abertas ao público às 19h. Inicialmente, não havia nenhuma banda de abertura programada. No entanto, por volta das 20h20, os fãs foram surpreendidos por uma aparição inesperada: o vocalista Brandon Saller, acompanhado por alguns membros da equipe técnica, subiu ao palco para entreter a plateia com uma sequência de covers. O set incluiu clássicos como ‘I’m Broken’ (Pantera), ‘Sad But True’ (Metallica) e ‘I Believe in a Thing Called Love’ (The Darkness). A iniciativa, além de inesperada, foi uma jogada original e envolvente, criando um clima de empolgação antes do show principal. Este que vos escreve já assistiu a centenas de apresentações ao longo de mais de uma década, mas nunca havia presenciado algo parecido.
Agora sim: Atreyu!
Com a casa já bastante cheia, embora longe de um sold out — o que era compreensível para uma quinta-feira –, o início do show foi anunciado por uma intro inusitada ao som de Sandstorm (Darude). Logo em seguida, Travis Miguel e Dan Jacobs (guitarras), Brandon Saller (vocal), Marc “Porter” McKnight (baixo) e Kyle Rosa (bateria) surgiram no palco e deram início à pancadaria com ‘Drowning’, uma faixa intensa e acelerada do mais recente álbum, ‘The Beautiful Dark of Life’ (2023).

Após a explosão inicial, a banda manteve o ritmo com dois de seus maiores sucessos: ‘Becoming the Bull’, do álbum ‘Lead Sails Paper Anchor’ (2007), e ‘Right Side of the Bed’, de ‘The Crimson’ (2004) — esta última amplamente conhecida por sua presença no game Burnout 3: Takedown. Aqui, Marc assumiu os vocais screamo, cobrindo os guturais que antes eram feitos pelo ex-vocalista Alex Varkatzas, que deixou a banda em 2020. Apesar da energia contagiante, a decisão de incluir dois hits logo no início gerou certa controvérsia entre alguns fãs, que sentiram que isso diminuiu um pouco a expectativa para o restante do repertório.

No primeiro diálogo com os fãs, o guitarrista Travis Miguel surpreendeu ao demonstrar um português quase fluente. Em um discurso animado, ele pediu desculpas pela longa espera de 25 anos até a primeira visita da banda ao Brasil. Com a plateia completamente conquistada, o Atreyu seguiu com ‘Save Us’, faixa em que o público cantou o refrão em uníssono, guiado pelo carismático Brandon. Como retribuição pela energia contagiante, o vocalista tomou uma atitude inesperada: desceu do palco e cantou ‘The Time Is Now’ circulando entre os fãs na pista. De volta ao palco, a banda engatou uma dobradinha entre a clássica ‘When Two Are One’ (Lead Sails Paper Anchor, 2007) e a inédita ‘(i)’, do mais recente álbum ‘The Beautiful Dark of Life’ (2023).

Então veio o momento mais aguardado da noite: um bloco repleto de hinos que ajudaram a moldar o metalcore moderno. A sequência trouxe ‘Bleeding Mascara’ e ‘The Crimson’, ambas do álbum ‘The Curse’ (2004), seguidas por ‘Blow’ e ‘Falling Down’, que incorporam uma pegada mais voltada ao hard rock de ‘Lead Sails Paper Anchor’ (2007). Em meio a essas faixas, os músicos ainda apresentaram ‘Gone’, uma das canções mais melódicas do último disco, e ‘Ex’s and Oh’s’, que rendeu um dos momentos mais marcantes do show: a plateia cantou o riff da música tão alto que o baixista Marc McKnight, impressionado, pediu para repetirem o feito ao final da performance.
Outro destaque foi o cover de ‘Like a Stone’, do Audioslave, que trouxe uma breve pausa na intensidade para um momento mais introspectivo. Nos intervalos entre as músicas, os integrantes esbanjaram carisma, interagindo constantemente com os fãs e até convidando uma seguidora ao palco para cantar Parabéns a Você em homenagem ao seu aniversário.

Após um breve bis, Brandon Saller prometeu que o Atreyu não cometeria o erro de demorar tanto para voltar ao Brasil. A noite foi encerrada em grande estilo com ‘Lip Gloss and Black’, única representante do álbum ‘Suicide Notes and Butterfly Kisses’ (2002) no setlist.
O Atreyu soube compensar bem a longa espera de 25 anos para finalmente se apresentar no Brasil. Mesmo após a saída de Alex Varkatzas, uma figura marcante na história da banda, o grupo continua mostrando energia e competência nos palcos, provando que ainda tem muito a oferecer e impressionar com seu trabalho.
Setlist
Drowning
Becoming the Bull
Right Side of the Bed
Save Us
The Time Is Now
When Two Are One
(i)
Bleeding Mascara
Gone
Ex’s and Oh’s
Like a Stone (cover Audioslave)
Falling Down
The Crimson
Blow
Bis:
Lip Gloss and Black
Agradecimento especial: Maria Correia (Heavy Metal Online / Metal No Papel)
Texto: Guilherme Góes
Fotos: Gustavo Diakov (Sonoridade Underground)