Realizada algumas semanas antes da apresentação no Hangar 110, esta conversa com o Chococorn and the Sugarcanes traça um panorama da banda que, nascida em meio à introspecção da pandemia de 2021, conquista hoje quase 10 000 ouvintes mensais no Spotify com seu emo visceral e experimental. Ao longo do bate‑papo, os integrantes relembram o encontro ainda na infância, o processo criativo durante o pós‑quarentena e as referências que vão de American Football e Cap’n Jazz a Los Hermanos e Radiohead. Eles também comentam a recepção da cena alternativa no interior de São Paulo, o significado do álbum Siamês — fruto de composições entre 2020 e 2024 — e a parceria com a label +UmHits, que vem impulsionando o revival emo na região.
Guilherme Góes || Hedlow: Olá, Chococorn and the Sugarcanes! Primeiramente, agradeço muito por disponibilizarem um tempo para esta entrevista aqui na Hedflow. Para começarmos, que tal falarem um pouco sobre a trajetória de vocês como banda?
Chococorn: Nos conhecemos ao decorrer da nossa infância, por meio da escola e ambientes em comum. Sempre fomos pessoas com um ímpeto criativo muito forte, a gente costumava criar vídeos, histórias e se divertir no processo. Tivemos algumas bandas por volta de 2019 pra conhecermos melhor os instrumentos, mas foi no final de 2021 que não reunimos para tocar nosso primeiro show com alguns amigos. Desde então, nos entusiasmamos pela produção musical e fazer as músicas dentro de casa junto com os amigos.
Guilherme Góes || Hedlow: Algo interessante sobre a banda é que vocês começaram em 2021, durante a pandemia, um período onde muitos grupos estavam em pausa ou até encerrando suas atividades. Quais foram os maiores desafios de iniciar o projeto em um momento tão instável e como foi a experiência de criar o grupo nesse cenário?
Chococorn: A pandemia acabou sendo um momento muito introspectiva para todos e dentro de um cenário conturbado, foi onde cada um conseguiu se encontrar artisticamente. Ao decorrer do fim da quarentena, todas as nossas frustrações puderam ser canalizadas por meio da música e no ato de se reunir com outras pessoas se aflorando criativamente.

Guilherme Góes || Hedlow: Ao ouvir o som de vocês, é nítida a influência de bandas de real emo, como American Football, Cap’n Jazz e This Town Needs Guns, com riffs limpos e complexos. No entanto, também podemos perceber toques de indie, pop, rock alternativo e até experimentação sonora. Como vocês descrevem as influências do grupo e de que forma os gostos pessoais de cada integrante se refletem no processo criativo?
Chococorn: A nossa música é resultado direto das obras que consumimos, então foi bem orgânico misturar as temáticas e sonoridades do emo ao contexto do indie rock que também faz parte do nosso repertório e gosto pessoal, além das influências diversas, brasileiras e internacionais, como Los Hermanos, Radiohead e Car Seat Headrest.
Guilherme Góes || Hedlow: Como é ser uma banda de “real emo” em uma cidade do interior do estado de São Paulo? Sabemos que muitas cidades do interior têm uma cena musical focada em covers ou em estilos como rock tradicional e heavy metal. Como foi a reação do público local ao ouvir essa sonoridade alternativa de vocês?
Chococorn: Num geral, vejo que é uma divisão bem discrepante entre os ouvintes padrões de metal (que costumam desdenhar do nosso som) e os ouvintes do hardcore melódico que tomou conta da juventude nos anos 2000, esses ouvintes reconhecem as referências do nosso som e incentivam mas ainda parece que é algo mais difícil de consumir. Dentro do contexto de interior, vem se tornando mais fácil atingir um público mais novo de 15 – 23 anos por conta da internet e um senso muito bonito de pertencimento dentro de um meio onde nosso público não se conecta.
Guilherme Góes || Hedlow: No ano passado, vocês lançaram o disco Siamês. Como foi o processo de criação desse trabalho e o que ele representa para a banda?
Chococorn: Ele é um amontoado de composições de 2020 – 2024, portanto é um trabalho que envolve muitos sentimentos, temáticas e histórias que vivenciamos durante e após o ensino médio. Junto a isso, é muito evidente como a gente expressa o momento de se tornar um jovem adulto por meio das nossas músicas, que é um período muito carregado para qualquer um.
Guilherme Góes || Hedlow: Com o lançamento de Siamês, o som de vocês começou a ganhar mais visibilidade, e hoje vocês têm quase 10.000 ouvintes mensais no Spotify – um número bem significativo no cenário underground. Como têm lidado com esse retorno tão positivo, especialmente considerando o impacto de uma cena que tem se fortalecido nos últimos tempos?
Chococorn: Nós somos muito gratos por toda compaixão que depositam no nosso trabalho, porque nosso som é algo que ressoa muito forte na gente e por consequência de um esforço muito lindo da nossa equipe, essa energia consegue ressoar também nos nossos ouvintes que passam a entender as temáticas e absorver elas por sermos pessoas tão parecidas entre si. Nosso propósito como banda sempre foi e sempre será oferecer uma força para que quem for ouvir, puder desembaralhar seus conflitos e se divertir no processo.
Guilherme Góes || Hedlow: Além disso, Siamês foi lançado com o apoio da +umhits, uma label do interior de São Paulo que vem dando força ao chamado “revival do emo”. Como tem sido essa parceria com a gravadora? E o que significa ter esse apoio nesse momento da carreira de vocês?
Chococorn: Tivemos a sorte de nos encontrar com o pessoal da +UmHits dentro de um contexto em que ambos estávamos em um momento de florescimento artístico, foi por meio da confiança deles e do nosso trabalho que pudemos ter a possibilidade de ampliar nosso alcance e tocar em vários lugares novos e diferentes do que imaginávamos. A parceira tá sendo muito legal e esperamos que continue sendo frutífera, tanto pra nossa caminhada, tanto pra cena do interior em si.
Guilherme Góes || Hedlow: Em breve, vocês vão se apresentar no Hangar 110, um dos locais mais icônicos da cena underground nacional. O que esperam desse show e o que ele representa para vocês?
Chococorn: Representa um respiro e um novo patamar para nossa banda e para a cena em que convivemos em si, trazer muito público novo para o Hangar pode ser uma forma de retribuir todo o amparo e apoio que tivemos.
Guilherme Góes || Hedlow: O Hangar 110 tem uma importância única para a cultura independente no Brasil, sendo um lugar que deixou marca na vida de muitas pessoas da cena. Vocês já tiveram alguma experiência marcante no Hangar, seja como banda ou como público? Podem compartilhar algum momento especial que viveram lá?
Chococorn: Lá tem uma energia e importância enorme, pois sabemos que muitos nomes grandes da música underground passaram por lá. Tocar no Hangar é uma homenagem a todos que nos acompanharam até então e a todas as outras bandas que criaram esse caminho para que ainda existam espaços para a música alternativa.
Guilherme Góes || Hedlow: Após a turnê com o A Bella e o Olmo, o que podemos esperar da banda para o restante deste ano? Quais são os próximos passos para o ChocoCorn and the Sugarcanes?
Chococorn: Estamos muito animados com novas composições e a chance de poder gravar um álbum todo em um estúdio profissional com todo um acompanhamento de produtores e profissionais do áudio. Nosso som tem se expandindo para outros lugares que nos agradam muito. Portanto, ainda nada confirmado, mas queremos lançar esse novo material até o fim do ano.
Guilherme Góes || Hedlow: Para encerrar, quero agradecer mais uma vez pela conversa. Deixem uma mensagem para os nossos leitores!
Chococorn: Agradecemos muito pelo espaço, e queríamos dizer para todos os leitores que se sentiram incentivados a criar, que se junte os amigos e faça uma banda! Essa manutenção é com certeza a parte mais importante do trabalho.