Palaye Royale prova que um show não precisa estar lotado para ser absurdamente energético

Formada em 2008 pelos irmãos Remington Leith (vocal), Sebastian Danzig (guitarra/teclado) e Emerson Barrett (bateria/piano), a banda estadunidense Palaye Royale nasceu sob o nome Kropp Circle e adotou o nome atual em 2011, em homenagem ao Palais Royale, em Toronto. Autodenominando-se um conjunto de ‘fashion-art rock’, eles entregam uma sonoridade marcada pelo garage rock, indie, glam rock e pop punk, além de um forte apelo visual e estético, influenciado por elementos vitorianos, cinematográficos e também com influências do punk e horror punk.

Entre os trabalhos mais marcantes do grupo estão os álbuns Boom Boom Room (Side A e B), The Bastards (2020) — amplamente aclamado pela crítica — e Fever Dream (2022), além do EP Sextape (2023). Conhecidos por shows intensos e catárticos, o Palaye Royale conquistou uma base fiel de fãs, os ‘Soldiers of the Royal Council’, e consolidou-se como um dos nomes mais expressivos do rock alternativo atual, se apresentando como headliner em casas de shows e arenas lotadas pela Europa e América do Norte, com uma popularidade comparável à dos italianos do Måneskin.

No entanto, apesar do hype extremo, a passagem da banda por São Paulo na última sexta-feira (16), no Carioca Club, revelou um contraste: o público presente não chegou a lotar metade do espaço. Ainda assim, o grupo entregou uma performance poderosa, digna de grandes estádios, com fãs respondendo com uma energia intensa — a sensação era a de assistir a um show do Green Day ou Limp Bizkit em um clube intimista no coração de Pinheiros.

Sem banda de abertura, os integrantes surgiram no palco pontualmente às 21h, iniciando o set com ‘You’ll Be Fine’ — uma faixa com pegada punk que incendiou o público logo de cara. Ainda nos primeiros minutos, o guitarrista Sebastian desceu até a pista para interagir com os fãs, deixando claro que, durante o set, não haveria barreiras entre banda e plateia. ‘Death or Glory’ impressionou pela precisão e fidelidade ao trabalho de estúdio, a ponto de alguns se perguntarem se havia playback. Durante a canção, a plateia cantou tão alto que chegou a cobrir os vocais de Remington. Aqui, em uma divertida interação, todos se abaixaram e se levantaram conforme o comando do vocalista. Sem pausas nem para respirar, a banda emendou dois dos seus maiores hits: ‘No Love in LA’ e ‘Little Bastards’ — momento em que rolou até um wall of death, mas, claro sem a  brutalidade que marca esse tipo de atitude em shows de metal ou hardcore.

Demonstrando a variedade de influências, ‘Just My Type’ trouxe à tona fortes referências do emo/pop punk dos anos 2000, enquanto balões foram lançados ao público, intensificando o clima de festa caótica. Em ‘Addicted to the Wicked & Twisted’, Remington usou uma pistola de brinquedo para esguichar água na galera, e em ‘Showbiz‘, o frontman surfou sobre os fãs usando uma boia inflável — a perfeita síntese de um espetáculo grandioso em um ambiente intimista.

Na reta final, Sebastian revelou que os integrantes têm sangue brasileiro, já que a avó dos rapazes era do Brasil. Em clima emotivo, pediu que o público acendesse as lanternas dos celulares para ‘Broken‘. O set então seguiu com músicas mais introspectivas, como ‘Dying in a Hot Tub’ e o sucesso ‘Lonely‘, que contou com Remington mandando a introdução no piano. Mas o clímax de energia ao extremo logo voltou com força total: em ‘Fever Dream’, o vocalista subiu até o camarote do clube e se jogou sobre o público, assim encerrando o set regular. No bis, Remington voltou à pista para cantar e dançar ‘Mr. Doctor Man’ no meio do mosh pit, entregando uma verdadeira aula de carisma e domínio de plateia.

Foi, de fato, uma pena o evento não ter alcançado sua lotação máxima. Ainda assim, a conexão intensa entre banda e fãs fez com que isso se tornasse apenas um detalhe. O Palaye Royale provou, com autoridade, que um show grandioso e explosivo pode (e deve) acontecer mesmo em espaços pequenos e com um público reduzido — desde que haja entrega, paixão e verdade no palco.

Fotos — Thammy Sartori (credenciada pelo site ‘Tramamos’)




Setlist – Palaye Royale

  • You’ll Be Fine
  • Death or Glory
  • No Love in LA
  • Little Bastards
  • Just My Type
  • Addicted to the Wicked & Twisted
  • Showbiz
  • Broken
  • Hang On to Yourself
  • Dying in a Hot Tub
  • Fucking With My Head
  • For You
  • Lonely
  • Fever Dream

Bis:

  • Mr. Doctor Man



Texto: Guilherme Góes
Agradecimento especial: Maria Correira (Heavy Metal Online / Metal No Papel)

Palaye Royale prova que um show não precisa estar lotado para ser absurdamente energético

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- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.