A maratona do segundo dia do festival Setembro Negro foi desafiadora, mas valeu muito a pena. Nove bandas passaram pelo palco do Carioca Club naquele dia, que, na minha avaliação, foi o melhor de todo o festival. Uma excelente sacada que a produção teve foi de liberar a entrada e saída do público a qualquer momento, pois todos estavam devidamente identificados com a pulseira do evento. Isso estimulou bares e lanchonetes locais a oferecerem uma variedade maior de alimentos e bebidas aos presentes no local. Essa ação foi elogiada por todas as pessoas com as quais conversamos durante os 3 dias.
Às 13h em ponto o Baixo Calão subiu no palco para mostrar a força do grindcore que vem do Norte do país. Com um excelente som, os paraenses foram uma das poucas atrações que demonstraram algum tipo de posicionamento político, apresentando sua postura antifascista durante o show. ‘Famigerado’ e ‘Das Vísceras da Estupidez’ resumem bem a proposta da banda: um som direto e visceral que não esquece das raízes do estilo, mas sem soar datado.
Diretamente de Natal (RN) o Expose Your Hate manteve o nível de qualidade bem alto, fazendo um show que foi muito celebrado pelo público que chegou cedo para prestigiar as bandas brasileiras. A mistura de death metal e grindcore foi muito bem apresentada pelo quinteto, que também se manifestou politicamente contra o atual governo. Faixas mais recentes como ‘We Against The Gods’ funcionaram muito bem ao lado de músicas mais antigas como ‘Expose Your Hate’, que teve o seu refrão cantado por muitos dos presentes. In Brazilian Grindcore We Trust!
Era possível ver muitas pessoas vestindo camisetas do Full of Hell, uma das bandas mais aguardadas do dia. O show dos estadunidenses foi o que gerou a maior polarização de opiniões no festival. Parte do público achou genial e outra parte não entendeu nada, declarando que a apresentação foi muito ruim. Não tem como negar a entrega do vocalista Dylan Walker durante toda a performance, cheia de energia do início ao fim. Porém, o excesso de efeitos entre as músicas fez com que o show perdesse dinâmica, principalmente sendo parte de um festival. Talvez se fosse um show em um lugar menor o impacto seria diferente. A equalização dos instrumentos também não favoreceu, deixando a guitarra e o baixo apagados durante todo o concerto. Não foi desta vez que vimos uma grande atuação!
O Uada foi uma das bandas mais novas do festival e chegou causando uma excelente impressão. Formada em Portland (EUA), o grupo possui dois álbuns lançados e se apresenta com os rostos envoltos por capuzes negros. Toda a iluminação principal do palco foi apagada, deixando apenas alguns spots de luz posicionados no chão, criando o clima perfeito para a música atmosférica da banda. O grupo faz um black metal melódico com guitarras muito bem trabalhadas, como pode ser conferido na longa ‘Snakes & Vultures’. Os mais de 9 minutos da músicas causaram um efeito hipnótico no público, que não conseguia tirar os olhos do palco. O que já estava bom melhorou ainda mais com a performance seguinte…
Formado em 1993 em Vaasa, cidade situada na costa oeste da Finlândia, o Rotten Sound fez um dos melhores shows do Setembro Negro. A apresentação abriu com a dobradinha ‘Self’ e ‘Power’ do álbum Cursed, emocionando muitos dos que estavam no Carioca Club e esperaram por muitos anos pela oportunidade de vê-los ao vivo. As rodas mais insanas até então tomaram conta da pista, enquanto a banda aplicava o seu massacre sonoro, cheio de críticas sociais e políticas.
A cada pausa o quarteto era ovacionado pelo público, que presenciou o concerto mais brutal de todo festival. O grupo fez uma performance irretocável, com destaque para o baterista Sami Latva que moeu seu instrumento em músicas como ‘Slay’ e ‘Western Cancer’. Já valeu o ingresso!
Depois da tempestade promovida pelo Rotten Sound veio uma certa calmaria com o show do Monolord, trio sueco de stoner/doom metal. Parte do público saiu para recuperar as energias, mas um bom número permaneceu em frente ao palco batendo cabeça e acompanhando atentamente cada riff de guitarra de Thomas Jäger, que também é o vocalista da banda. Uma das músicas que mais agradaram o público foi ‘Audhumbla’, composição instrumental do primeiro álbum da banda que traz a essência do stoner.
A bandeira do metal sueco permaneceu representada no palco com o quinteto de death/black metal Necrophobic. Com 30 anos de história a banda segue divulgando seu mais recente álbum Mark of the Necrogram, que foi muito bem recebido pela crítica especializada. A faixa de abertura do show foi ‘Awakening…’, uma das mais clássicas da banda. A presença de palco do Necrophobic é quase teatral, com o vocalista Anders Strokirk fazendo caras e bocas para o público, que aprovou com louvor a apresentação do grupo.
E tome mais Suécia na cabeça, agora com o Vomitory que está fazendo uma turnê comemorativa de 30 anos de estrada, assim como a banda que os antecedeu. Coincidências à parte, o vocalista e baixista Erik Rundqvist deu uma verdadeira aula de death metal brutal aos presentes. ‘Gore Apocalypse’ e ‘Revelation Nausea’ foram recebidas com muito entusiasmo pelo público, que agitou bastante durante toda apresentação dos suecos. Mais um ponto alto no Setembro Negro, que fez algumas pessoas se perguntarem porque o Vomitory não foi o headliner da noite. A resposta veio poucos minutos depois.
A apresentação do Demolition Hammer foi um verdadeiro martelo de demolição em uma tradução ao pé da letra. O som do quarteto foi forjado nas ruas do Bronx, distrito de Nova York (EUA). Os integrantes da banda beberam da riqueza cultural do local no qual a banda foi formada, acrescentando doses – literalmente – pesadas de groove e hardcore no seu som.
A destruição promovida pelo Demolition Hammer começou já na abertura do show com as clássicas ‘Skull Fracturing Nightmare’ e ‘Neanderthal’. A essa altura o mosh pit já estava tomando pelo público, que parecia quase tão incansável quando a banda, que se movimentava freneticamente pelo palco durante todo o show. Cansava só de olhar!
‘Infectious Hospital Waste’ manteve os circle pits a todos vapor, enquanto ‘Carnivorous Obsession’ criou uma onda sem fim de headbangins. O som estava simplesmente perfeito, era possível ouvir claramente as transições entre riffs e solos da dupla James Reilly e Derek Sykes.
A banda reservou o melhor para o final, com uma aula de agressividade do baterista Angel Cotte em ‘Aborticide’. Já em ’44 Caliber Brain Surgery’ o vocalista e baixista Steve Reynolds demonstrou uma vitalidade que nos faz acreditar que o Demolition Hammer ainda tem muita lenha para queimar. Que assim seja!
O show dos estadunidenses foi mais um grande destaque o Setembro Negro, que teve mais um dia marcado pela pontualidade e excelente organização. Hora de voltar para casa e se preparar para o último dia do festival, mas isso é assunto para o próximo texto!
Fotos por Dani Moreira