Petbrick é o nome do projeto que junta Iggor Cavalera (Sepultura/Soulwax/Mixhell) e Wayne Adams (Big Lad, Death Pedals). O duo estreia em Portugal no mês de Janeiro em duas datas: dia 16, no Porto, e 17, em Lisboa. A passagem dos músicos por terras lusitanas também trará o I, nome do disco de estreia lançado em Outubro deste ano, via Rocket Recording.
A Hedflow teve recentemente a oportunidade de conversar com Wayne Adams. Ele nos contou sobre as suas influências pessoais, além de ter tratado também acerca da parceria dele com o Iggor e de como funcionou o processo de criação do álbum novo.
No mais, o músico falou ainda de questões políticas atuais que envolvem censura e autoritarismo:
“É incrivelmente triste que tenhamos de lutar, mas infelizmente parece mesmo ser o caminho a ser tomado.”, afirmou.
Confira na íntegra a entrevista feita por Fernando Araújo:
Fernando – Wayne, muito obrigado por falar ao público da Hedflow! Para começar, gostaria de saber como foram os seus primeiros contatos com a música e quando ocorreu a transição para sons mais pesados? Houve algum álbum em específico que mudasse a sua vida?
Wayne – É bom estar aqui! Uma das primeiras lembranças que tenho, em relação à música, é de mim deitado no chão do corredor da minha casa com uns 6 ou 7 anos de idade e um toca-fitas portátil que eu tinha. Meu pai me deu uma cópia do Black Sabbath – Black Sabbath em cassete, e eu ficava ouvindo aquilo! Falava pra minha irmã mais nova que ela não podia escutar porque era muito assustador. Outra coisa estranha é que eu tinha também o LP ‘Bad’ do Michael Jackson. Só que eu o colocava pra tocar a 45 rotações por minuto ao invés vez das 33 RPM, pois achava que soava bem melhor assim! Isso explica muito! Mas, quanto a álbuns que mudaram a minha vida, há tantos que nem dá pra citar!
Fernando – Iggor, seu parceiro de Petbrick, é reconhecido como um dos bateristas mais inventivos do metal. As viradas e a maneira com que ele intercala as batidas nos riffs são absolutamente peculiares. Como tem sido tocar com ele e o que você acha que ele acrescenta de diferente a esse projeto musical?
Wayne – Como você disse, o jeito que ele toca bateria é completamente único, então, obviamente, apenas por estar no projeto, o ‘espírito musical’ dele está por toda parte! Mas, ele também traz muito à mesa os noises e os sintetizadores. O riff de sintetizador em ‘Horse’, que abre o nosso novo álbum, é dele! Portanto, tocar com alguém que tem trazido tanta inovação à música pesada ao longo dos anos será sempre um prazer!
Fernando – Como funciona o processo de criação musical entre vocês? Vocês trocam algumas ideias primeiro sobre como querem que uma faixa soe ou simplesmente tocam juntos, mantendo nas estruturas dos sons o que acham mais legal?
Wayne – Na verdade, esse não é um projeto que vem da reprodução ao vivo, isso é algo posterior. Esse trabalho é mais de estúdio, composto diretamente em um computador. Trabalhamos os arranjos entre os instrumentos e o computador… E, assim que ficamos contentes com o resultado, descobrimos juntos o que fazer para as performances ao vivo!
Fernando – Você vê a música apenas como um entretenimento ou acha que ela tem um papel mais especial? No Brasil, estamos enfrentando uma fase muito difícil, também na comunidade artística. Como você vê a ascensão de governos autoritários em todo o mundo, ainda mais esses que planejam censurar e proibir apresentações de artistas de cunho mais subversivo?
Wayne – Eu acho que serve para ambos os papéis, porém no mainstream acredito que a música seja consumida mais como mero entretenimento pela maioria das pessoas. Só que os artistas usam táticas subversivas para transmitirem ideias, pensamentos e sentimentos em um nível bastante subconsciente. No Reino Unido, algumas das maiores estrelas do pop são ativas politicamente. Stormzy, por exemplo, tem sido muito incisivo ao apoiar a ala da esquerda, e sua atuação em Glastonbury também foi politicamente muito carregada. No que diz respeito ao underground, já vejo isso mais como algo que funciona de ambas as formas. Esse público é muito mais consciente e corrobora bem a mensagem dos artistas. Com relação à ascensão da extrema direita e da tentativa de proibir e censurar a arte, acho que essa é uma luta absolutamente essencial. É incrivelmente triste que tenhamos de lutar, mas infelizmente parece mesmo ser o caminho a ser tomado.
Fernando – Como você vê a cena eletrônica / industrial hoje em dia?
Wayne – Eu tento não pensar muito sobre isso, apenas continuo com o que faço e tento fazer da melhor maneira. Mas, há definitivamente um renascimento refrescante de sons industriais atualmente.
Fernando – As ferramentas de produção musical têm sido bastante sofisticadas, eficazes e rápidas ultimamente. Com o desenvolvimento da computação quântica, como você imagina a evolução da música nas próximas décadas? Você acredita que a parte orgânica / humana ainda será de suma importância ou as máquinas vão tomar conta de tudo um dia?
Wayne – Eu acho que de fato muita música será produzida dessa maneira. Infelizmente, também imagino que isso afetará o sustento por parte dos músicos. Digo, mais no sentido da música feita para a TV, talvez um pouco menos em filme. Só que a biblioteca de músicas provavelmente se tornará uma coisa do passado, porque você poderá simplesmente ‘dar um tapa’ no que você quer e esse tipo de computador vai gerar um trecho da música. Assim como ocorreu com a resiliência do vinil, acredito que a composição musical humana será transferida para o underground, para aqueles que adoram tocar. Você sabe que a música é uma via de mão dupla. Portanto, enquanto as pessoas ainda quiserem fazer som ao vivo, a composição humana nunca desaparecerá.
SERVIÇO
Petbrick em Portugal
Porto: 16 Janeiro no Maus Hábitos
Lisboa: 17 de Janeiro no Musicbox