The Exploited em São Paulo: substituições à altura mantêm o espírito vivo no palco

Uma onda de azar tem marcado as últimas passagens da banda escocesa The Exploited pela América do Sul — especialmente pelo Brasil. Em 2022, durante sua primeira turnê no continente após a pandemia de Covid-19, o vocalista Wattie Buchan desmaiou durante uma apresentação na Colômbia. Na mesma turnê, um incidente também marcou o show em São Paulo: uma fã se feriu gravemente ao tentar um stage dive no Hangar 110, interrompendo o show por um longo período.

Já em 2025, durante a turnê de despedida da banda, os problemas persistiram. Em Belo Horizonte, Wattie passou mal pouco antes do show e precisou cancelar a apresentação. No Rio de Janeiro, conseguiu subir ao palco, mas voltou a se sentir mal e chegou a cuspir sangue durante o set. Diagnosticado com pneumonia, foi hospitalizado e ficou impossibilitado de se apresentar em São Paulo, no último domingo, dia 11.

Ainda assim, os demais integrantes mantiveram o compromisso com o público. Com o apoio de músicos convidados, subiram ao palco do tradicional Carioca Club e levaram o show adiante — mostrando espírito punk e respeito aos fãs.

O dia começou com a apresentação da Punho de Mahin, grupo de afro punk que vem ganhando destaque na cena underground paulistana nos últimos anos. No show, além de executarem faixas do álbum Embate & Ancestralidade (2022) — como ‘Carlos Marighella’, ‘Madame Satã’ e ‘Navio Negreiro’ — os integrantes também entoaram discursos potentes sobre racismo, genocídio indígena e luta decolonial, reforçando o papel da banda na conscientização e resistência negra no Brasil.


Na sequência, subiu ao palco a Urutu, banda paulistana formada em 2011 por músicos vindos das cenas de hardcore, punk e metal. Com um som mais voltado ao thrash metal e letras de forte teor político, a banda fez uma apresentação enérgica.



Infelizmente, por conta do Dia das Mães, boa parte do público optou por chegar mais tarde, perdendo essas performances iniciais.

Com a casa começando a encher, foi a vez da Escalpo, banda do interior de São Paulo com integrantes de cidades como Rio Claro e Piracicaba. O grupo entregou uma verdadeira brutalidade sonora ao passar por faixas do excelente álbum .I. — como ‘Eviscerando o Opressor’, ‘Escravidão Auto Imposta’, ‘Retrocedendo’ e ‘Desumanização’ — trabalho que inclusive rendeu à banda certa visibilidade internacional. A apresentação foi marcada por uma bateria absurdamente veloz, vocais guturais e riffs com breakdowns, em uma fusão intensa de death metal com hardcore. Demonstrando posicionamento político, o vocalista Neri Orleone encerrou o set afirmando que a banda canta em português como forma de resistência à cultura imperialista e valorização da cultura brasileira.



No início da tarde, foi a vez do The Chisel, diretamente da Inglaterra. Formada em 2020, a banda é hoje um dos principais nomes do punk contemporâneo, promovendo um verdadeiro revival da sonoridade do 77’ e do Oi! — estilos que marcaram o início do movimento. Em faixas como ‘No Gimmicks’, ‘Come See Me’, ‘Evil by Evil’ e ‘Class Oppression’, o grupo impressionou ao resgatar a energia crua e nostálgica de um som que raramente é explorado por bandas modernas.

O vocalista Callum Graham rapidamente conquistou o público com seu carisma: dançou, interagiu com a plateia, brincou, bebeu cerveja no palco e incentivou a participação do público com uma postura leve e descontraída. Sem dúvida, a banda entregou uma performance intensa e contagiante, justificando todo o hype em torno do seu nome e deixando claro que tem potencial para se tornar um dos grandes expoentes do punk nos próximos anos.



Na reta final do evento, subiu ao palco o todo-poderoso Ratos de Porão, verdadeira instituição do hardcore nacional, com mais de 40 anos de estrada. O quarteto entregou um setlist diversificado que percorreu todas as fases da carreira: dos clássicos ‘Caos’ e ‘Morrer’, do lendário Crucificados pelo Sistema — o primeiro disco de hardcore gravado na América Latina — às faixas emblemáticas de Brasil, como ‘Amazônia Nunca Mais’ e ‘Beber até Morrer’. Também marcaram presença composições mais recentes dos álbuns Século Sinistro e Necropolítica, como ‘Alerta Antifascista’ e ‘Conflito Violento’.

Uma surpresa do set foi a execução de ‘Exército de Zumbis’, faixa do split com o Looking For An Answer, raramente tocada ao vivo. Antes da música, João Gordo fez um discurso emocionante sobre seu trabalho social com moradores de rua na Cracolândia, ressaltando que por trás de cada pessoa em situação de rua há uma história e um ser humano digno de respeito.



No palco, Gordo mostrou estar em excelente forma: demonstrou energia de sobra, aparentando estar recuperado de lesões recentes e visivelmente mais leve desde que começou a praticar boxe. Boka e Jão impressionaram pela velocidade e precisão com que dominam seus instrumentos, enquanto Juninho completava o espetáculo com seus chutes alongados e pulos pelo palco, tornando a apresentação ainda mais intensa e visualmente marcante.

Na hora marcada para o The Exploited subir ao palco, membros da produtora Sob Controle apareceram para explicar a ausência de Wattie Buchan, informando sobre seu estado de saúde. Em seguida, foi exibido um vídeo com uma mensagem do próprio vocalista, que agradeceu o apoio dos fãs e comentou brevemente sobre sua condição. Embora alguns demonstrassem frustração, a maioria do público reagiu com compreensão e respeito.



O vocalista do The Chisel, Callum Graham, assumiu os vocais no início do set e participou de clássicos como ‘Let’s Start a War’, ‘Fight Back’, ‘Chaos Is My Life’ e ‘UK 82’. Declarando estar realizando um sonho ao cantar com seus ídolos, Callum mostrou a mesma energia que exibiu em sua própria apresentação. Na sequência, Irish Bob, G Man Sullivan e Steve Campbell tocaram algumas faixas sozinhos, mantendo o público agitado no moshpit. Os músicos incentivaram a participação da plateia, e até Bruno Genaro, da NDP Productions, subiu ao palco para contribuir nos vocais.

Na reta final, os brasileiros Jão e João Gordo foram convidados ao palco e incendiaram a plateia com ‘Dogs of War’, ‘(Fuck the) U.S.A.’ e ‘Sex & Violence’ — esta última encerrada com uma verdadeira invasão coletiva no palco, em clima de celebração.

Apesar da inevitável frustração com a ausência de Wattie, foi emocionante ver os demais integrantes segurando a responsabilidade e transformando o show em uma verdadeira homenagem ao vocalista. A noite terminou com um forte sentimento de união e respeito, tanto ao legado do The Exploited quanto à luta pessoal de seu frontman pela recuperação.

Fotos: Mazzei (fornecidas pela Tedesco Mídia Assessoria)





Texto: Guilherme Góes

Agradecimento Especial: Maria Correia (Heavy Metal Online)

The Exploited em São Paulo: substituições à altura mantêm o espírito vivo no palco

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- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.