“Como o pensar infantil fascina/De dar inveja, ele é puro, que nem Obatalá/A gente chora ao nascer, quer se afastar de Alla/Mesmo que a íris traga a luz mais cristalina/Entre amoras e a pequenina eu digo ‘As pretinhas são o melhor que há.’”
Assim começa a música “Amoras”, do rapper Emicida, que foi transformado em um livro lançado no final de 2018 pela Companhia das Letrinhas.
Ilustrada por Aldo Fabrini, a obra reproduz, com delicadeza e lirismo, um diálogo que o artista teve com sua primeira filha, Estela, 7: a história é toda dedicada a ela.
Com 32 anos, o cantor também é pai de Tereza, que nasceu em junho de 2018.
Na música que originou a história, a pequena está debaixo de uma amoreira com o pai, quando este comenta sobre a beleza das amoras.
Quanto mais pretas, mais doces. É aí que a menina se reconhece e assimila sua própria identidade.
Emicida canta “A doçura das frutinhas sabor acalanto fez a criança sozinha alcançar a conclusão/Papai, que bom, porque eu sou pretinha também“.
Assim, o livro versa sobre negritude, representatividade, preconceito e autoconfiança, além de ser um exemplo de como a paternidade presente e afetiva contribui para a construção de referências positivas que levam ao desenvolvimento saudável da criança.
Com referências à religião e à resistência afro – a história cita Zumbi, Martin Luther King, Malcom X e entidades da mitologia yorubá – Emicida reforça a importância de nos reconhecermos e nos orgulharmos de ser quem somos – desde criança e para sempre.
“Um livro que rega as crianças com o olhar cristalino de quem sonha plantar primaveras para colher o fruto doce da humanidade”, diz o poeta Sergio Vaz no livro.
Emicida explicou os motivos que o levaram a fazer um livro infantil, e reforçou a importância de escolher como falar com as crianças sobre assuntos sensíveis como o racismo.
“Se a gente conseguir criar um campinho de força em volta delas para que elas tenham suas convicções de igualdade preservadas, conseguimos pontuar que quem ataca qualquer diferença que duas pessoas tenham, essa pessoa é que está errada”.
Fonte: Mães de Maio
Foto por José Holanda