Slayer: agora sim podemos começar a falar sobre saudade!


Para os que acharam que as emoções do primeiro dia do VOA Heavy Rock não podiam ser superadas, nos deparamos com uma massa de ‘headbangers’ estampando em suas faces uma saudade que ainda não havia concretizado-se.

Era noite de despedida do Slayer, uma banda que formou quatro gerações distintas através do seu thrash metal explosivo, visceral e insubstituível.

Mas, antes de mergulharmos nesse epílogo, é preciso discorrer sobre aqueles que conseguiram preparar os nossos corações para um momento único. E nada melhor do que iniciarmos um grande dia com as apresentações nacionais de WAKO e Moonspell (que foram lembradas e reconhecidas respeitosamente por todas as outras bandas que subiram ao palco).

Os franceses do Gojira esbanjaram simpatia e demonstraram por diversas vezes um imenso carinho por Portugal, principalmente quando o vocalista Joe Duplantier se esforçava para falar em português com o público, que cantava junto com a banda em sincronia.

Nem a queda rápida do som fez com a atmosfera fosse interrompida. Era um dia de resiliência na Altice Arena. “Vamos celebrar a vida, a música!”, disse Joe.

Já o Lamb of God subiram ao palco com Randy Blythe possuído pela felicidade de estar preparando o recinto que receberia os Slayer pela última vez na história. Inclusive, para muitos, os ‘rednecks’ fizeram o melhor e mais intenso espetáculo do dia.

“Essa noite aqui em Portugal é a última em que tocaremos com o Slayer. A última! Esse é o nosso último concerto juntos. Eles têm sido muito bons para nós ao longo dos anos. Muito bons! Desde todos que estão com o Slayer, toda a equipa nos tratam muito bem. Eles merecem todo o respeito possível. Façam barulho para o Slayer!”, declarou Randy, que, não contentando-se com a manifestação da malta, exigiu uma intervenção ainda maior antes de partir, literalmente, tudo que via pela frente.

“Aí não, ‘motherfuckers’! Eu estou falando é do Slayer, maldição. FAÇAM BARARULHO PARA O SLAYER!!!”, completou aos berros.


Com lotação máxima na Altice Arena, Tom Araya, Kerry King, Gary Holt e Paul Bostaph subiram ao palco pontualmente às 23 horas para executarem 40 anos de música extrema pela última vez em Lisboa.

Visivelmente emocionado, o vocalista do Slayer preferiu comunicar-se com o público através de olhares que indicavam um sentimento de felicidade e de dever cumprido.

Iniciando com ‘Delusions Of Saviour’, os Slayer apresentaram um setlist sem muitas surpresas para os que acompanham a banda em digressões pelo mundo.

‘Show No Mercy’ , ‘Hell Awaits’, ‘Reign In Blood’, ‘South of Heaven’, ‘Seasons in the Abyss’, ‘God Hate Us All’, ‘Repentless’… Clássicos de períodos diferentes que transformaram-se em patrimônio histórico do metal mundial e que continuarão vivos na memória e na vida daqueles que se dedicam à música de peso.

A efusividade presente nos gritos de ‘SLAYEEEEER!!!!’ era tanta que presenciamos uma mistura de lágrimas e suor nos rostos de muitos homens, mulheres e crianças que, por sorte, poderão dizer que vivenciaram a experiência de ver os Slayer atuando de perto e pouco antes do fim!

Quando o pano negro com o logo do grupo veio abaixo, ganhamos de presente 90 minutos de puro thrash metal com uma ‘porrada’ atrás da outra, sem muitas delongas. As pequenas intervenções de agradecimento de Tom Araya foram suficientes para manter a sincronia com o público.

As chamas que saiam por trás dos amplificadores deram ao espetáculo um calor humano que superava qualquer adversidade, proporcionando um momento de união entre todos os presentes.

A importância do ensejo era tanta que até mesmo os trabalhadores das equipas técnicas, habituados a presenciarem grandes performances, paravam, nem que fosse por alguns segundos, para admirar e gravar em suas memórias temas de uma discografia de respeito.

Claro que durante o concerto tivemos muitos momentos de intensidade. Porém, o ápice ficou para o fim, quando já sozinho no palco, Tom Araya parou em silêncio para contemplar e agradecer, com olhos de alegria e tristeza, toda àquela multidão que movimentava-se para afagar o seu sentimento de despedida:

“Eu sentirei falta de vocês. Adeus, Tchau!”.

Agora sim podemos começar a falar sobre saudade…




Texto por Stefani Costa
Fotos por Victor Souza



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