Garage Sounds estreia no Rio sob protestos contra o governo e o feminicídio


Abrindo as comemorações sobre o dia Mundial do Rock, o Rio de Janeiro recebeu a primeira edição do Garage Sounds 2019! Com um sincretismo musical tomando conta de ambos os palcos que abrangeram as mais diversas faces do gênero, o festival contou com a presença de bandas que vão do alternativo ao death metal, passando pelo hardcore, punk, thrash e, claro, sempre abrindo espaço para as bandas undergrounds locais se apresentarem!

O local escolhido foi o excelente Hub Rio. Sob um sistema ‘don’t stop’, praticamente não houve atrasos, acumulando 15 minutos durante todo o festival, em uma edição com 16 atrações e uma organização impecável!

Pelas bandas programadas, o Garage Sounds tinha tudo para ser um evento sobre resistência ao governo atual, que atinge o maior grau de impopularidade já visto entre os presidentes em um primeiro mandato; e logo que a primeira performance ocupou o palco, a Join the Dance, banda de hardcore melódico de São Gonçalo, que divulga o EP intitulado Think For Yourself, a vocalista, La Veggie, se posicionou contundentemente contra o novos governantes, fazendo um discurso feminista e exaltando o valor da mulher na sociedade. Lembrando que isso ocorreu em praticamente todas as apresentações. 

Rapidamente foi a vez do projeto Ladrão ocupar o espaço! A banda formada em Juiz de Fora, Minas Gerais, tem em sua formação Formigão (Planet Hemp) no baixo, Daniel Vitarelli (bateria, voz e programação) e Farrah na guitarra. Os mineiros, que praticam um rock autoral com influências claras de Funk/Groove/MangueBeat, tomaram conta do palco aquecendo os ânimos do público aos poucos com suas letras altamente politizadas.

O terceiro grupo a se apresentar foi o Tamuya Thrash Tribe, uma banda autointitulada ‘brasileira de Metal Nativo’, e que estava divulgando o disco The last of the Guaranis. Sempre polêmica e com discurso claro contra qualquer tipo de preconceito, racismo ou ódio a qualquer minoria, os cariocas exaltam e defendem a cultura indígena, sugerindo, inclusive, um movimento em defesa do povos nativos e ao metal genuinamente brasileiro. Definitivamente, eles conseguiram levantar a galera!

Já no palco B dava-se início à performance da Banda Nove Zero Nove, também do Rio de Janeiro, mais precisamente da Lapa. O grupo, que faz um Rock n’ Roll pesado e bem arranjado com um baixo extremamente presente, divulgou o álbum chamado Blindado e, de cara nova, o vocalista transgênero não binário, Mergener.

Alternando os palcos e os variados tipos de rock, novamente o metal entra em cena, agora em sua vertente macabra! A banda de black metal Enterro, que conta com a presença do guitarrista Donida, integrante do Matanza Inc., liderada pelo baixista e vocalista, Alex Kafer, foi o grupo responsável por não deixar a poeira baixar!



Voltando ao palco B, foi a vez da banda Pavio se apresentar. O vocalista, Marcelo Prol, conduz a apresentação com maestria, sendo auxiliado pela vocalista ‘Lo Ferrera’ Quadros, da banda Quantum, em ‘Mulheres Fortes’, uma convidada mais que especial já que o sexismo e o feminícidio são temas fortes presentes não só nas letras, assim como na postura da banda.

Em seguida, a Malvina tomou o palco A para apresentar o seu hardcore rápido, porém com muitos detalhes e bons arranjos com linhas beirando o thrash metal. Com letras em inglês e divulgando o disco Hybrid War, a banda bem entrosada foi capaz de prender a atenção pela execução técnica de suas músicas.

Esteban, a banda do baixista do Fresno, Rodrigo Tavares, traz um rock ‘melodramático’ que, nesse show, se apresentou em trio, surpreendendo e mostrando ser bem conhecida entre alguns dos presentes que cantavam praticamente todas as letras, apesar do festival ser dominado por bandas pesadas ou rápidas. Sua performance instrumental é acima da média e a improvisação em solos foi algo admirável.

Chegado o momento de um dos destaques se apresentar, em evidência no underground, não só pela qualidade técnica, mas pelo posicionamento político ferrenho, os santistas do Surra apresentaram seu thrashcore rápido com pitadas de death metal empunhando uma bandeira ‘metal-antifa’; o power trio ‘vomitou’ mais de 15 músicas em 30 minutos de apresentação, lembrando a época mais entrosada dos veteranos do Ratos de Porão.



Em seguida, com mais velocidade, só que dessa vez acompanhados de muita melodia, os paulistanos do Hateen tocaram músicas de toda a carreira, que ficou eternizada no DVD Obrigado Hangar 110 – ao vivo, lançado recentemente. Seu hardcore melódico é conhecido justamente por ser um dos últimos expoentes lançados pela MTV brasileira. Muitos dos presentes cantavam as letras e em alguns momentos pulavam juntos com Rodrigo Koala, o único da formação original.

À meia-noite, os cariocas do Zander tomaram o palco! Por ser uma banda local, tão rápida quanto a banda anterior e por conter um bom número de seguidores, víamos as rodas se abrirem e a animação aumentar consideravelmente. A presença de palco do líder Gabriel Zander também ajudou na empolgação da galera, preparando o terreno para os grupos que viriam a seguir.

O Molho Negro do Belém do Pará tocou em um ótimo horário, sendo esperados ansiosamente devido ao show que fizeram no Lolaapalooza deste ano. A irreverência e o sarcasmo marcam algumas músicas já conhecidas e foram cantadas em uníssono e, em meio ao público, o vocalista e guitarrista, João Lemos, encerrou a participação da banda.

A atração mais extrema do festival, o Krisiun, iniciou os trabalhos pela madrugada, mesmo tendo um tempo maior de duração do show que as demais. Clássicos como ‘Combustion Inferno’ e ‘Blood of Lions’ não poderiam ficar de fora! E como já é de costume, os irmãos fecharam o concerto com um cover de Motörhead, ‘Ace of Spades’.



Também com 40 minutos de apresentação, os paulistas do Gloria tocaram músicas de toda a sua carreira, que foi iniciada em meados dos anos 2000. Com o seu metalcore contagiante, a cada dia o som se torna mais pesado e as vozes ficam ainda mais entrosadas, destacando a atuação do vocalista, Mi Vieira, e do guitarrista, Elliton Reis. Infelizmente, devido ao horário, durante a performance alguns dos presentes foram aos poucos deixando a Hub Rio, uns por conta do transporte e outros pelo cansaço.

Selando o festival, o Psilocibina tomou o palco A às 2 da manhã. Provavelmente sendo a banda mais inusitada do evento, improvisaram e solaram a esmo, porém não ocupando totalmente os 30 minutos. Jazz, rock e fusion compõem o universo sonoro do trio, que provavelmente seriam ‘melhor’ apreciados num outro momento do fest. Será que a intenção da curiadoria foi a de ‘purificação dos tímpanos’ naquela altura? Talvez…

Fechando o Garage Sounds 2019 edição Rio, no palco B, quase às 3 da manhã, o New Day Rising tocou seu hardcore preciso e rápido sem a presença de muitas pessoas, que cansadas já tinham se retirado do local, o que não impediu a banda de deixar a sua marca.

Durante todo o festival a sensação de ‘quero mais’ se tornava latente, e esperamos que mais iniciativas como essa sejam de costume; a mescla de bandas veteranas a bandas locais compondo um evento com aparelhagem de primeira e grandes palcos, se faz necessária. Assim como o posicionamento frente a esse desgoverno, deixando clara a insatisfação política e o retrocesso à condição humana, pois ser isento é ser conivente!


Texto por Gil Oliveira
Fotos por Thayná Gomes




Garage Sounds estreia no Rio sob protestos contra o governo e o feminicídio

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