Interligar música ao setor visual. Duas expressões intensas unidas por um só mecanismo. No cenário feminino, a luta persiste árdua. Entretanto, a política de redução das desigualdades de gênero e de raça no setor audiovisual, começa, aos poucos, a transformar a indústria brasileira. Em 2019, dos 143 projetos selecionados em dez editais, 80 serão dirigidos ou desenvolvidos por mulheres.
O selo carioca Efusiva vem flertando e encabeçando essas duas paixões. Recentemente, lançou um novo projeto para fomentar, ainda mais, o movimento underground feminino protagonizado pelas bandas que vestem a camisa do selo.
A Efusiva foi criada em 2015 e atualmente é composta por Hanna Halm (historiadora, artista visual e produtora independente — na efusiva se ocupa, principalmente, da parte de comunicação visual e redes sociais), Lety Lopes (produtora, musicista, roqueira e que na Efusiva ocupa o cargo de contato e articulação com as bandas, distribuição, assessoria de imprensa), Soso (gateira, gosta de longas caminhadas pela praia, guitarrista da Belicosa, chega na produção e correrias do selo) e Vita Parente (ariana, produtora e boladona do audiovisual que atualmente na Efusiva, cuida dos registros audiovisuais e confabula pela queda do patriarcado).
A Medium bateu um papo com Lety e Hanna sobre o trabalho executado da Efusiva. Fazendo uma síntese desde que o selo foi criado, Hanna caracterizou a mudança como positiva de quatro anos pra cá.
“Mesmo recente, muita coisa mudou desde 2015 em questão de acesso, recepção e incentivo. O mercado expressa essa mudança de forma que a visibilidade das mulheres na música independente brasileira tem sido constantemente ampliada. Além disso, iniciativas de incentivo para produção cultural, bem como para projetos profissionalizantes na área fonográfica, são uma realidade que não poderíamos imaginar há poucos anos atrás pro nosso nicho. Essas mudanças não zeram os problemas de gênero da cena independente, mas, com certeza, fortalecem e viabilizam o trabalho muitas artistas”.
Motivadas pela força de resistência impressa nas produções das mulheres no cenário cultural brasileiro, a Efusiva focaliza suas realizações valorizando práticas de empoderamento feminino, LGBTQI+, racial e social. Através de atividades que possam levantar debates e reflexões que amparem a diversidade da existência artística, a Efusiva também realiza rodas de conversa de temáticas de gênero, raça e classe, além de variadas oficinas direcionadas a incentivar a produção artística e o intercâmbio de habilidades, tais como oficinas de audiovisual, montagem de palco, instrumentos musicais, pedais de efeito, defesa pessoal, grafite, e etc.
“A Efusiva foi idealizada no período que eu decidi me desligar do selo que eu fazia parte. Eu era a única menina, e sentia que faltava interesse no diálogo quando se tratava das minhas pautas. Sou mulher, mãe, e por muitas vezes tinha que enfrentar as violências de um ambiente liderado por homens que não sabiam o que significa empatia. E quem sempre me socorria eram minhas amigas. Na mesma época eu, Hanna e Sofia já fazíamos parte de uma editora de publicações independentes, chamada Drunken Butterfly, e me bateu um estalo de que seria incrível unir as duas coisas: minhas amigas e ter um selo musical, já que além de zineiras, somos musicistas”, relembra Lety.
Atualmente, o selo conta com 17 bandas e artistas. Entre elas: Pata, HAYZ, Melinna, The Lautreamonts, InVenus, Chico de Barro, Clara Ray, Charlotte Matou Um Cara, Trash No Star, Tuíra, Errática, Bochechas Margarinas, Drugged Doll, Floppy Flipper, Kinderwhores, Belicosa e Catillinárias.
Minidoc Efusiva
O “Minidoc Efusiva” consiste em registrar shows de lançamento das bandas do selo, ou quando elas passam pelo Rio de Janeiro. Neste projeto as bandas contam sobre o processo de gravação, sua história e de uma das músicas tocada do show.
“A idéia dos minidocs surgiu da necessidade de produzir conteúdo como forma de contrapartida para as bandas do selo e com isso possibilitar que essas bandas possam circular com material de divulgação, inscrição em editais e festivais. Fizemos o primeiro com a banda InVenus em SP, no SESC Belenzinho. Gostamos tanto do resultado que ficamos inspiradas em produzir para todos os lançamentos do selo”, caracteriza Lety.
“Depois do Mini doc sobre o lançamento do EP Refluxo, da InVenus, no SESC Belenzinho, lançamos o da Lautreamonts em junho. Agora estamos com o da HAYZ e o da Pata agendados para julho e agosto, respectivamente. Uma coisa interessante sobre os Mini docs Efusiva é que eles não seguem uma fórmula muito específica de roteiro e direção, muito porque o próprio momento de gravação desse material difere entre as bandas, podendo registrar tanto o momento de um show de lançamento, quanto a passagem de uma banda por determinado lugar, mas também porque temos de nos adequar às condições de captação de cada ambiente em que produzimos o material.
Dessa forma, cada Mini doc Efusiva tem um resultado bem diferente, o que também traduz um processo de descoberta e experimentação pro selo”, completa Hanna.
Esta semana a Efusiva lançou o minidoc retratando o lançamento do EP da banda Hayz, intitulado “Não Estamos Mais em Casa”. A banda conta sobre sua trajetória, o que esperam para o futuro (ainda com todas as incertezas que surgiram com os últimos acontecimentos políticos), e sobre o disco de estréia que foi lançado no Dia Internacional da Mulher deste ano numa parceria Efusiva e Howlin’ Records.
Saiba mais sobre o trampo da Efusiva, acessando:
Site: https://www.efusiva.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/efusivadiy/
Instagram: https://www.instagram.com/efusivadiy/
Texto por Francielle Cristina | Medium