A necessidade urgente de ouvir Maria Bethânia

Como explicar o espetáculo ‘Claros Breus‘ de Maria Bethânia ou sua presença, que por si só, brilha como uma joia preciosa? Tão leve, tão poderosa…

Talvez não seja assim para todo e cada brasileiro, mas falo por mim quando digo sentir uma leve melancolia ao olhar tudo que estamos vivendo. Um amigo músico me disse há pouco tempo: “pára de ficar triste”.

E como não se sentir assim em 2019? Busque a contramão.

Maria Bethânia é a contramão. Caetano Veloso é a contramão. Os músicos independentes e fortes desse Brasil são a contramão! A arte é a contramão, a nossa cultura e os trabalhadores são a contramão; as crianças, os animais e a natureza são a contramão… E a natureza tem a força que muitas vezes nos falta, pois é ela que devolve com força aquilo que lhe é oferecido.

Devemos aprender com quem entende o que é a alegria. Essa é a maior arma contra o fascismo. E esta não é uma visão romântica.

Observando o Credicard Hall, cada músico no palco, cada instrumento, o piso vermelho, as cortinas encarnadas e as luzes no chão… Tudo isso colaborou para a formação de um solo sagrado onde os pés descalços de uma das mulheres mais imponentes da música popular brasileira dançariam, correriam, andariam com calma, pisariam com força e chamariam da terra a força feminina que ela carrega na voz.

Uma coisa inédita para mim: do público mal se ouvia a voz. E tenho certeza absoluta que o acordo silencioso que fechamos foi a necessidade urgente de ouvir Maria Bethânia.

Em alguns momentos, por total necessidade do coração, entregamos nossa voz, cantamos baixinho com ela, dando espaço para que apenas o seu timbre prevalecesse.

Ainda é possível sentir uma alegria em ser brasileiro, pois na essência somos a gente da terra, somos as mães, as mulheres, somos as maravilhas do nordeste e o povo nordestino… Foi aqui em que Vinícius de Moraes andou e escreveu palavras lindas; foi no Brasil que grandes poetas receberam a inspiração necessária para exercer a caligrafia e o canto.



Na voz de Bethânia, ouvimos ‘Águia Nordestina‘ e ‘Luminosidade‘ de Chico César. Ela também cantou ‘Evidências‘, uma versão tão linda que foi possível esquecer das glosas judiadas nos ‘karaokês’ da cidade de São Paulo.

Próximo ao final do concerto, Maria Bethânia interpretou o samba enredo de 2019 da Mangueira, ‘História Pra Ninar Gente Grande‘, onde o nome de Marielle Franco é citado. A composição é de uma importância absurda para não esquecermos da nossa história, do nosso passado e para não ignorarmos o presente.

Caso você busque no dicionário, breu é a escuridão. Claro é o que clareia, traz luminosidade. A poesia, a música e a força dessa mulher chamada Maria Bethânia veio muito bem representada no nome do espetáculo.

Vivemos em tempos de escuridão, e ela, com todo sua sabedoria, nos trouxe luz através de suas canções.

O resultado? Recuperamos a alegria de estarmos vivos!

Texto por Dani Melo
Foto por
Yuri Murakami

A necessidade urgente de ouvir Maria Bethânia

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