Festival Bananada proclama voz de resistência no meio do cerrado

A edição do Festival Bananada 2019 fez história celebrando a rica diversidade cultural do nosso país realizando um evento gigante bem no coração do Brasil: o cerrado!

O fest, que completou 21 anos, aconteceu nos dias 12 a 18 de agosto, com mais de 140 atrações, essas que tiveram representação de artistas consagrados, como Criolo, Pitty e, também, artistas em ascensão: Baco Exú do Blues, Tuyo, Duda Beat e Drik Barbosa.

Durante a semana o evento não se concentrou em apenas um local, promovendo ações em várias casas noturnas da capital de Goiás e no consagrado Teatro Goiânia – que trouxe as atrações lado B e artistas que estão começando a sua caminhada pela música. A expectativa de público para a semana foi de 500 pessoas por dia, já nos finais de semana, em que aconteciam as atrações principais, foi de 7 mil.

Festival Bananada 2019 – Foto: Eduardo Costa



Essa edição do Bananada tinha como proposta enaltecer as diferenças culturais e suas tribos, fossem elas dos mais variados gêneros; e com a influência do papel da mulher na sociedade contemporânea podemos dizer que esse festival foi feito para elas. Muitas artistas com empoderamento feminino foram vistas no palco. Uma atenção especial às cantoras Luedji Luna, Duda Beat e Drik Barbosa que, além do feminismo, fortaleceram a luta da mulher negra na sociedade, e, claro, a Pitty, atração mais esperada do festival e que dispensa comentários quando se trata do engajamento feminino e a valorização das mulheres.

Na sexta-feira, 16 de agosto, um dos nomes mais esperados foi o da cantora ‘Liniker e os Caramelows’ com sucessos do seu primeiro álbum como ‘Zero’ e músicas do seu mais novo trabalho ‘Goela Abaixo’ com a famosíssima ‘Calmô’, que fez o público todo cantarolar num uníssono maravilhoso. Realmente uma das maiores cantoras com expressividade do nosso país!

Liniker e os Caramelows – Foto: Rennan Potter



Contudo, vale ressaltar que a principal atração da sexta foi o Baco Exú do Blues, que trouxe um carisma sem igual vindo direto da Bahia; cantou sucessos do seu primeiro álbum como ‘Esú’ e ‘Te amo desgraça’, essa última a mais cantada pelo público.


Baco conseguiu contagiar a plateia interagindo diretamente com eles. Fez todos pularem “batendo o recorde de pessoas pulando ao mesmo tempo” (claro que essa marca é fictícia). Um dos pontos altos do show foi quando na música ‘Abre Caminho’, Baco pediu para que o público fizesse uma espécie de ‘Wall of Death’, muito visto em shows de metal. A galera se divertiu ‘horrores’ e eu que estava filmando tudo e também me diverti!

Baco Exú do Blues – Foto: Rennan Potter



Não podemos esquecer de outras três atrações: o rapper Black Alien com o seu novo álbum ‘Abaixo de zero: hello hell’ e seu não tão empolgante show, pois o cantor está em uma fase de transição em sua vida, mas quem curte o som dele não reclamou de nada; Edgar, com seu rap apocalíptico e cheio de dedo, com uma rima rasgada e que te enfia goela abaixo toda a podridão da sociedade brasileira e suas mazelas; e a cantora Luedji Luna que, com a sua voz maravilhosa e poderosa, entoou cantigas que canonizam a ‘brasilidade’ da nossa música.

Luedji Luna – Foto: Rennan Potter



O sábado também foi bastante especial e histórico. O dia mais cheio do festival contou com nomes de peso, como Tulipa Ruiz & João Donato (comemorando 85 anos de idade), Drik Barbosa e Criolo.

A noite foi iniciada ao som do ‘carimbó-brega-pop-indie’ de Felipe Cordeiro, que fez o público dançar e cantar como se amassem os ritmos vindos do norte do País (Pará). As músicas ‘Problema Seu‘ e ‘Ela é tarja preta’ estavam na boca da galera e foi muito divertido ver essa diversidade musical no palco Natura.

Logo em seguida, no Red Bull stage, o show da Tulipa Ruiz & João Donato encantou o público pela parceria que rendeu um ótimo espetáculo. A voz inconfundível de Tulipa ecoou longe com sua técnica ímpar de canto. Sucessos como ‘Proporcional’, ‘Reclame’ e ‘Efêmera’ estavam presentes.

Tulipa Ruiz e João Donato – Foto: Rayssa Guth



Já a cantora Drik Barbosa era uma das mais esperadas. Seu rap de protesto contra esse (des) governo foi cantado por seus fãs, que ouviram um discurso sobre a importância da mulher negra na sociedade, dentro e fora do cenário musical. “Rap é compromisso!“.

Drik Barbosa – Foto: Rayssa Guth



A mais aguardada performance da noite foi do MC Criolo, que, de forma insatisfeita com os rumos do nosso país, dialogou com a galera alertando sobre o obscurantismo que paira em nossa sociedade. As músicas do álbum ‘Convoque seu Buda’ foram as mais cantadas, juntamente com um dos seus principais sucessos ‘Subirusdoistiozin’. O ponto alto do show foi quando, ao final de uma de suas canções, gritos de: “ei Bolsonaro, vai tomar no c.” vindos da plateia, fizeram com que o cantor mostrasse seu dom no ‘passinho’ e com uma ‘dancinha’ maneira arrancou urros da galera! O vídeo que captei acabou ‘viralizando’ nas redes sociais (ainda bem!).

Outro nome importante da noite foi o de Luiza Lian. Com sua voz doce e efeitos de luz high-tech, ela saudou a diversidade da música brasileira que foram embaladas por pegadas eletrônicas, psicodélicas e com referências de pontos de Umbanda e Candomblé.



No domingo e último dia de festival, a apresentação da banda Tuyo encantou a todos com suas letras que falam do cotidiano, amores e decepções de uma maneira mais verdadeira e pouco romantizada das coisas. Sem dúvidas era uma das performances mais esperadas por mim! O grupo se emocionou e emocionou a todos. A integrante Lio, a mais carismática e faladeira, trocou uma ideia com o público como se fosse uma amiga distante que não víamos há muito tempo; tudo aconteceu de maneira calma e natural. O único problema do show foi a iluminação frontal escura que impossibilitou a captação de boas fotos de um momento tão intimista.

No outro palco, a banda goiana de rock psicodélico Boogarins, retornava à capital depois de uma turnê pela Europa. Sentimos tanta saudades como eles sentiram da gente, e a troca de sentimentos foi recíproco. Quem estava presente se conectou com o grupo onde todos pareceram ser um só indivíduo. A música ‘Foi mal’ expressou exatamente essa sensação, sendo com certeza o ponto mais alto do show!

Tuyo – Foto: Eduardo Costa



A recifense Duda Beat foi a artista mais esperada do público LGBTQI+. Era tanta gente dentro do fosso na frente do palco que foi muito complicado fazer um registro bom da sua apresentação. Suas músicas apelidadas de ‘Sofrência indie’ foram cantadas do início ao fim e fizeram a multidão se encharcar de multiculturalismo e suor. Ela deu voz às pessoas que se sentiam discriminadas pela sua orientação sexual ou sua identidade de gênero e que sofrem homofobia todos os dias.



O Bananada foi o melhor evento para festejar a pluralidade dessa parte da sociedade tão discriminada e que merece todo o respeito. Prova disso, foi a apresentação do Teto Preto, que, liderada pela cantora Angela Carneosso, trouxe a nudez feminina numa combinação musical difícil de explicar. Pode-se dizer que é uma mistura de techno, house e música popular brasileira, com toques de cuíca e notas fortes vindas dos atabaques.

Teto Preto – Foto: Rayssa Guth



A banda paulistana de jazz Metá Metá, que é formada por Juçara Marçal (voz), Kiko Dinucci (guitarra) e Thiago França saxofone), é uma das representantes da MPB que utilizam elementos da música africana agregadas às religiões brasileiras como a Umbanda e o Candomblé. Fizeram uma apresentação enérgica e muito agradável de se ouvir e sentir. Juçara, com sua voz potente e doce, fascinou quem ainda não conhecia a banda. Dava para ver o público prestando bastante atenção ao som do grupo.

Uma das coisas que chamou atenção neste festival foi a organização. Os espaços todos grandes e com fácil acesso e localização facilitaram muito a orientação do público. Apesar das filas de caixa móvel, banheiro, água free e chopp estarem grandes, o tempo de espera não era muito extenso. Houve algumas reclamações sobre o tamanho da fila do banheiro, principalmente, para mulheres e grávidas, mas toda a reclamação era ouvida e atendida no outro dia do evento.

Pista de Skate Bananada 2019 – Foto: Eduardo Costa


No domingo foi possível perceber alguns banheiros químicos na área dos palcos principais, o que facilitou muito a logística dentro do saguão fechado, desobstruindo algumas passagens até os palcos ‘Tropical Tranforma’, que ficavam do outro lado do recinto a uma distância de, aproximadamente, de 250 metros.

Metá Metá – Foto: Rayssa Guth



A variedade de opções culturais foi muito importante. Havia local para tatuagem, dança de games, pista de skate, stand da Natura e até um mini palco montado para prender a atenção da galera! Certamente o Bananada será cada vez maior e mais bonito, dando acesso para todos os tipos de pessoas e suas variadas tribos, sem preconceito, com respeito e amor!

No auge dos seus 40 anos, a cantora Pitty apresentou pela primeira vez em Goiânia a turnê do álbum ‘Matriz, lançado no início deste ano. Porém, o setlist foi repleto de sucessos passados, provando que a baiana já possui uma belíssima e forte trajetória na música brasileira.

Eleita como o grande nome do Bananada 2019, Pitty conseguiu mostrar o brilho e a importância da sua história para uma geração de jovens, provando que é possível sim fazer uma carreira sólida misturando pop, rap, reggae e ritmos baianos sem perder a essência rock and roll que a trouxe para o ‘mainstream’.

Um dos pontos fortes da sua performance foi a interpretação de ‘Motor’, de Maglore (que ficou conhecida na voz de Gal Costa). A sua entrega no palco fez com que cada palavra cantada penetrasse na alma das pessoas que pareciam hipnotizadas por sua voz.

Além de revisitar o seu projeto ‘Agridoce’, responsável por consolidar de vez a sua carreira no Brasil, Pitty também fez questão de voltar ao início de tudo, pegando um violão e pedindo ao público que voltasse com ela para o seu “quartinho de adolescente em Salvador”, protagonizando um momento de muita emoção ao som de ‘Teto de Vidro’.

Pitty – Foto: Rayssa Guth



Mesmo com as músicas novas funcionando bem, como ‘Roda’, em parceria com a banda BaianaSystem, continua sendo de arrepiar quando a cantora deixa o público cantar à capella canções como ‘Me Adora’ e ‘Equalize‘.

Foi o encerramento certo para um festival potente, intenso e necessário para todo o centro-oeste brasileiro!


Texto por Eduardo Costa
Fotos por Rayssa Guth, Rennan Potter
e Eduardo Costa
Vídeos: Eduardo Costa e Rennan Potter


Festival Bananada proclama voz de resistência no meio do cerrado

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