Conversar com o Tiago Pinheiro nos faz viajar num mundo onde demônios, samurais, meninos que não piscam, ratos e sapos habitam o mesmo lugar.
Tenho 3 quadrinistas favoritos: Liniers, Sarah Andersen e Charles M. Schulz. São nomes que você já deve ter escutado por aí. São os únicos? Não. Novas histórias são contadas todos os dias por artistas independentes, basta um pouco de curiosidade pra descobrir o que eles têm a dizer. Os grandes sempre foram grandes, mesmo quando pequenos. É assim que vejo o quadrinista Tiago Pinheiro.
O artista costuma se apresentar na última página dos seus quadrinhos, e esta é a descrição que o próprio faz de si mesmo: Paraibano, São-Bernardense, ilustrador, diretor de arte e, segundo alguns, quadrinista. De dia trabalha em agência de publicidade, à noite em quadrinhos.
Até o momento, Tiago tem dois projetos de quadrinhos publicados nessa. Um deles é o Animalz, que ganhou meu coração com a história de dois amigos, um rato, o Mause Valentim, e um sapo, o Frogue Napoleão. Mause representa o medo, Frogue representa a sorte. Os dois juntos se tornam a verdadeira coragem. E é com essa coragem que eles enfrentam um apocalipse juntos.
Além de fazer todas as ilustrações, foi ele quem criou o roteiro. É fácil ver muito das emoções humanas nos personagens: o medo, a vontade de sumir, a sensação de estar se afogando e não ver saída; a saudade de um passado que não volta mais e de pessoas que continuarão vivas em nossas memórias. Assim, ele faz questão de nos contar que o avô, de certa forma, foi sua inspiração. Era ele a pessoa que o encorajava, que dava força, que fazia ele acreditar que um menino seria capaz de vencer o mundo. Talvez, Tiago tenha um pouco do Mause Valentim e o avô fosse um pouco do Frogue Napoleão.
Com sorte você também deve ter esses personagens na sua vida, e aí se descobre corajoso diante de qualquer apocalipse que possa chegar.
Para o lançamento de Animalz, Tiago se organizou juntando mês a mês a quantia necessária para sua impressão, em 2016. O resultado, mas do que um quadrinho impresso, é a materialização de um trabalho criativo genuíno, despretensioso, sensível e sincero.
O segundo quadrinho, Xitomati, foi publicado em 2018, e conta a história de demônios que andam sobre a terra se alimentando de almas. O ‘bem’ não deu proteção aos homens, apenas rituais de defesa: o ‘ritual triangular’.
Através da energia de dois samurais, o demônio é enviado para dentro de um terceiro Samurai, para eliminá-lo de dentro do seu próprio templo: o seu corpo. Uma das piores brigas que existem é a interna, aquela que acontece dentro do coração e da mente.
“Sobreviva aos seus demônios” foi a descrição que ele mesmo deu à história que é contada. O tempo todo nos sabotamos, somos cruéis com nós mesmos, nos enganamos, nos cobramos demais, nos colocamos pra baixo… Existem batalhas que apenas nós conhecemos e cada um tem seus demônios. Você conhece os seus? Já pensou como seria se pudesse confrontá-los e entender que, na verdade, eles também fazem parte da sua pessoa?
As histórias contadas nos dois quadrinhos só ganharam vida porque, além de desenhar há anos, Tiago sabe ouvir, conhece histórias, vê com bons olhos até os perrengues que a vida já ofereceu (e que ainda oferece). São tempos difíceis, é verdade, mas, durante o meu papo com ele, Tiago me disse, com a mesma voz tranquila com que nos dá bom dia, que “as coisas sempre se ajeitam” e todo o caos pode ser ultrapassado com um lápis e papel nas mãos.
Sendo assim, deixo aqui meu convite para que, além do Tico, outros artistas independentes consigam espaço para nos contar suas histórias e compartilhem um pouco de arte, algo que acredito fielmente ser a nossa salvação.
No mundo online, você pode encontrar o Tiago AQUI ou AQUI.