O Brasil e o mundo querem saber: quem mandou matar Marielle Franco?

Em Março de 2018 o Brasil sofreu duas perdas irreparáveis: a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, brutalmente assassinados a tiros no bairro Estácio, região central do Rio de Janeiro. Suspeitos foram investigados e presos, porém, as dúvidas acerca desta barbárie estão longe de terem um desfecho.

A matéria divulgada ontem pelo Jornal Nacional, mostrou que horas antes do crime, o ex-militar Élcio Vieira de Queiroz (que dirigia o carro que perseguiu Marielle), esteve na casa do então deputado federal, Jair Bolsonaro. A informação foi obtida por meio do depoimento do porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, onde vivia a família do atual presidente. A informação veiculada pela TV Globo inflamou os ânimos de Bolsonaro, que fez uma live na madrugada ameaçando a emissora de perder a concessão em 2022, caso não mude suas estratégias na forma de fazer jornalismo.

Os movimentos sociais, a sociedade civil e o PSOL (partido no qual Marielle exercia a função de vereadora no Rio de Janeiro) têm se mostrado incansáveis na luta para desvendar este crime.

A necessidade de descobrir o que de fato o motivou e quem o praticou supera os limites da fronteira brasileira. Organismos internacionais também mostram-se interessados na busca por justiça.

Mas, quem é Marielle Franco? Por que a moça negra de sorriso marcante e ativista pelos Direitos Humanos, movimenta tantas discussões no Brasil e no mundo?

 


Vale lembrar que ela representa a grande maioria do povo brasileiro, e, condoer-se pelo seu assassinato, não é diferente da dor que se tem toda vez que uma vida é ceifada no contexto da violência.

Sofrer pela perda de Marielle se assemelha a dor da perda da menina Agatha, de Claudia e do bebê Arthur, exemplos de vítimas de homicídios provocados pelo Estado nas periferias da capital fluminense.

Marielle foi ícone importante de denúncia contra mortes da juventude negra.

Por serem poucas as pessoas que enfrentam e denunciam esses casos, a vida e a história da vereadora tornou-se especial. Ela carregava a ‘brasilidade’ em sua trajetória, nos mais diversos aspectos. Era uma “cria da favela” (como gostava de ser chamada), representante de 11 milhões de cidadãos, além de ter sido uma estudante que precisou de bolsa integral para estudar Ciências Sociais na Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ), conquistada como aluna de curso pré-vestibular comunitário.

Apesar do interesse na época da faculdade, não pôde participar de atividades de extensão e dos movimentos sociais, já que tinha que dividir as tarefas estudantis com os cuidados de sua filha, Layara.

Quantos milhões de brasileiros são também ‘Marielles’?

Essa representatividade não para por aí. Ela já foi minuciosamente revistada em uma abordagem no aeroporto do Rio de Janeiro, quando vasculharam até seu cabelo e suas sandálias. Na ocasião, que foi explicada como uma ação aleatória da Polícia Federal, Marielle tinha a opção de ser revistada em sala reservada, porém, explicou que preferia ficar exposta ao público, afinal, aprendeu ao longo de sua vida que, por ser da favela, uma abordagem em público é sempre mais segura.

 

 

Pela altivez e consciência política, Marielle conquistou grande notoriedade, tornando-se assessora parlamentar do deputado Marcelo Freixo e a quinta vereadora mais votada na cidade do Rio.

Ela assumiu também a coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e teve a declaração pública de 257 acadêmicos e professores que afirmaram apoio à sua eleição.

Marielle Franco era crítica e contrária a intervenção militar na capital fluminense e acompanhava a atuação das tropas de perto.
Denunciava os abusos e toda a violência contra a população da favela, que inclui policiais também. Ela sabia que PM’s mortos eram tão vítimas quanto todos os outros que viviam nas comunidades e oferecia apoio às viúvas desses trabalhadores, além de lutar bravamente contra um sistema perverso, intimamente relacionado ao atual Poder.

Marielle foi assassinada voltando de um encontro chamado “Jovens Negras Movendo Estruturas”. Sua luta representa a esperança e o direito à vida plena de milhões de brasileiros. Em um país em que pretos, pobres e periféricos têm sofrido as mais diversas injustiças, brigar pela dignidade dos vulneráveis abala as estruturas de poder.

E mesmo com todas as dificuldades, a sociedade não tem se calado. A morte de Marielle está impulsionando a voz dos oprimidos.

A sua ausência tem sido um grito ao invés de silêncio. Seu nome tem brotado nas praças públicas, nas manifestações e em nomes de ruas, assim como seu rosto, que é utilizado como adorno para representar a resistência.

 

Texto por Isabel Rodrigues
Edição por Fernando Araújo

Foto em destaque por Mario Vasconcellos / CMRJ / Divulgação / CP

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