Hugo do Moita Metal Fest: “Qualquer discurso de ódio e discriminação é rejeitado por nós!”

Já estamos próximos da edição 2020 do Moita Metal Fest, que este ano contará com mais um cartaz de peso: Ratos de Porão, GBH e Rotten Sound. Seguindo a tradição de sempre valorizar artistas nacionais, o Moita também abre espaço e dá destaque às bandas portuguesas, com a promesa de grandes performances dos Besta, Devil In Me, Destroyers Of All, Toxikull, entre outras.

Mesmo com o avanço do novo coronavírus em Portugal, a organização do festival confirmou que o evento está mantido e que, até o momento, não houve nenhuma indicação das autoridades locais e/ou da Direção-Geral de Saúde (DGS).

O evento, que se realiza nos dias 3 e 4 de Abril, na Moita, região da grande Lisboa, movimenta não só o cenário musical, mas a economia local. Segundo Hugo Andrade, organizador do festival, nos últimos anos foi possível levar à região cerca de 2000 pessoas. “É fácil perceber que, para uma Vila pequena como a Moita, o impacto será significativo”, comenta.

Em entrevista à Hedflow, que já esteve presente nas últimas duas edições do evento, Hugo também conta um pouco mais sobre a história do Moita Metal Fest e quais são as perspectivas para o futuro. “Não seguimos grandes tendências na hora de preparar o festival. Fazemos as coisas da forma mais simples e dentro das nossas limitações. Afinal de contas, antes de sermos uma ‘promotora’, somos um grupo de amigos e esta é a nossa festa anual”, explicou.

Confira a entrevista completa feita pela jornalista Stefani Costa com o organizador do Moita Metal Fest, Hugo Andrade:





Stefani – Hedflow: Olá, Hugo! Primeiramente, obrigada por falar com a nossa audiência. O Moita Metal Fest foi criado em 2004, certo? Quais foram os principais motivos que levaram você a perceber a necessidade de um evento dedicado ao metal na Vila?

Hugo Andrade: Antes de mais nada, obrigado pelo interesse e pela oportunidade de fazermos esta entrevista que ajuda a promover o festival!

A resposta é bem simples: em 2004 fizemos a 1ª edição do Moita porque a nossa banda (Switchtense) queria tocar na nossa terra (Moita) e não existia nenhum sítio/evento em que isso fosse possível. Naquela altura, a Autarquia local lançou um desafio aos jovens do concelho para que estes se juntassem e apresentassem projectos que gostariam de ver sendo desenvolvidos durante a Quinzena da Juventude. O nosso foi o de fazer um festival de metal na Vila. O Moita passou por várias fases e locais até chegar ao que é hoje. Foi um crescimento lento, mas pensamos que bem sustentado. Por isso, nunca tivemos nenhum ano sem o fazer desde que começamos.


Equipa Moita Metal Fest 2018 – Foto: Divulgação




Stefani – Hedflow: Como é feito o processo de escolha das bandas para o cartaz? Existem alguns requisitos primordiais para optar por artistas? Vocês se preocupam com o histórico dos músicos, principalmente em um momento onde o autoritarismo e os pensamentos de extrema-direita crescem no mundo?

Hugo Andrade: A escolha das bandas para o cartaz passa por vários critérios: gosto pessoal dos elementos da organização, bandas disponíveis nas datas do festival, condições financeiras e técnicas das bandas, edições de álbuns, etc. Qualquer discurso de ódio e discriminação é rejeitado por nós. Obviamente, que temos essa questão, e que achamos muito importante, sempre colocar em consideração.

Stefani – Hedflow: Você sabe nos dizer, mais ou menos, a nacionalidade dos estrangeiros que visitam o festival? Qual a origem mais longínqua?

Hugo Andrade: Temos publico que vem de Espanha, Alemanha e França. No ano passado, tivemos 2 pessoas da Finlândia que aproveitaram o festival para visitar Portugal e curtir o Moita.

Stefani – Hedflow: Como você avalia a malta do metal de 2004 para os dias de hoje? Na sua opinião, quais foram as principais mudanças e quais delas merecem destaque na hora de pensar e preparar o festival?


Moita Metal Fest 2018 – Foto: Igor Ferreira



Hugo Andrade: A maior diferença de 2004 até aos dias de hoje é que as pessoas estão mais velhas (risos). Ainda pensamos em arranjar umas zonas de descanso e para a geriatria, mas como o Moita Metal Fest fica mesmo ao lado de um lar da 3ª idade, não achamos necessário (risos).

Mais a sério: não seguimos grandes tendências na hora de preparar o evento. Fazemos as coisas da forma mais simples e dentro das nossas limitações. Afinal de contas, antes de sermos uma ‘promotora’, somos um grupo de amigos e esta é a nossa festa anual.

Cartaz da 1ª Edição do Moita Metal Fets (2004)



Stefani – Hedflow: Você costuma frequentar outros eventos do gênero para buscar inspirações? Quais seriam?

Hugo Andrade: Infelizmente com muito menos frequência que aquela que gostaria, pois a vida profissional não me permite. Temos em Portugal bons festivais e para todos os gostos. O meu preferido já nem existe: era o Metal GDL em Grândola. Terminou há uns 5/6 anos. O SWR (Barroselas) só fui uma vez, quando tocamos em 2007. No Vagos, estive em 2018 para ver os Suicidal Tendencies e pareceu-me fixe. Contudo, o MMF é um festival menor, com um ambiente mais familiar e penso que nesse aspecto é único no nosso panorama.

Stefani – Hedflow: Quais foram, até hoje, os impactos econômicos do MMF na região de Moita?

Hugo Andrade: Nunca fizemos um estudo sobre isso. Talvez esteja na hora. Entretanto, e tendo em conta que nos últimos anos temos tido entre 1500/2000 pessoas a visitar o festival, é fácil perceber que, para uma Vila pequena como a Moita, o impacto será significativo. O mais importante é que todas as pessoas se divirtam e passem um bom bocado na nossa terra!



Stefani – Hedflow: A maioria dos festivais estão propondo diversas ações ambientais para controlar os impactos no meio ambiente. Como o Moita têm tratado este assunto?

Hugo Andrade: Nós nunca poluímos e deixamos sempre tudo limpo ao final do evento. É um compromisso anual que temos como organizadores de eventos.

Stefani – Hedflow: Você poderia nos recomendar três concertos imperdíveis nesta edição?

Hugo Andrade: Acho que o cartaz é extremamente equilibrado e com vários estilos representados e com vários pontos de interesse, mas destacaria o regresso a Portugal de Ratos de Porão pela milésima vez (nunca é demais ) e o concerto de celebração dos 40 anos de carreiras dos históricos (Charged) GBH.



Reveja também a entrevista da Hedflow TV com a banda No Fun At All, realizada na edição 2019 do Moita Metal Fest:



Hugo do Moita Metal Fest: “Qualquer discurso de ódio e discriminação é rejeitado por nós!”

Por
- Latino-americana, imigrante e jornalista. Twitter: @sttefanicosta