EDC lança Ensaio dos Ciclos, 3º disco da banda de metal alternativo; leia a entrevista

Com 18 anos de banda, a EDC traz de volta seu metal alternativo com o novo disco, Ensaio dos Ciclos.

Espetáculo do Crescimento, de 2006, primeiro álbum da banda, foi masterizado em Los Angeles por Tom Baker, renomado produtor que já trabalhou com bandas como Sevendust, Nine Inch Nails, Marlyn Mason, Deftones, P.O.D, Papa Roach, Stone Temple Pilots, Ministry, entre outras.

A EDC é composta pelos paulistanos André Gelo (bateria), Cléber (vocalista), Thiago Muga (baixo) e Thiago Marchtiello (guitarra). Já marcaram presença na MTV e na TV Cultura.

O EP de 2003, Estado De Choque, superou a marca de 40.000 downloads. O álbum de 2010, Em Dias Chuvosos, rendeu o belíssimo videoclipe de ‘Pássaros’, e você pode conferir o som aqui:


Se você já conhece a banda, é fã, ou tá a fim de saber sobre o metal alternativo que eles oferecem, aqui tem um papo com o vocalista da EDC, o Cléber.

Dani | Hedflow: Cléber, numa entrevista que você deu em 2008 para o Soneca Entrevista, você diz que EDC pode significar muitas coisas, e isso muda com o tempo. Hoje, 14 anos depois do lançamento do álbum Espetáculo do Crescimento, a EDC lança o álbum Ensaio dos Ciclos, o que ele significa pra você?

Vai parecer estranho o que eu vou falar, mas eu penso que o Ensaio dos Ciclos é o álbum mais verdadeiro do EDC. Não estou necessariamente falando que os outros não são, mas esse álbum foi uma epopeia de auto-conhecimento para nós, foi o primeiro álbum que nos descolamos totalmente das nossas referências e influências e mergulhamos em um processo criativo apenas nosso, criamos nossa própria bolha para continuar.

O ensaio do ciclos está ligado a isso pra mim, quando você entra num ciclo de acontecimentos, você vai aprendendo mais com as coisas que realizou, presta atenção a detalhes que deixou passar no ciclo anterior e vai se fortalecendo com isso. Se pararmos para pensar, o Ensaio dos Ciclos é um trabalho de quase vinte anos. Somos nós revendo nossos próprios ciclos e criando outro.

Dani | Hedflow: Você mesmo comentou sobre o quanto a banda Korn influencia o som de vocês, vendo os clipes e ouvindo o som, lembrei bastante de Slipknot também. Eles são uma influência pra vocês? Quais são as grandes influências da EDC?

Olha, se voltarmos em 2002, na época de nossa primeira demo, acho que o Korn nos influenciou sim, não especificamente o som, mas o clima que o Korn proporcionou na época, com afinação baixa, refrões grandes e etc.., querendo ou não, o Korn junto com Deftones e outras bandas, formaram uma cena, até um lifestyle que muitos se identificaram na época… Sobre o Slipknot, acho que o EDC passa muito longe, creio que eles sejam muito mais caóticos do que nós.

O EDC se tornou o que é hoje justamente porque os integrantes tem influências muito distintas, acho que fica mais fácil citar as influências congruentes, como Fever Ray, Faith no More, Deftones, Alice in Chains, Tool/A perfect circle, Apparat, Tears for Fears, Portishead, e etc… Mas cada integrante tem a sua peculiaridade, o Tiago gosta de Philip Glass, Steve Reich; o Gelo ama Dave Matthews e Dead Letter Circle, o Murilo eu diria é mais abrangente de todos nós, ele vai do trash ao jazz, literalmente.

Dani | Hedflow: Ouvindo o álbum Espetáculo do Crescimento, sinto uma grande reflexão sobre o luto. Existe raiva, tristeza, negação, as letras dialogam muito bem com as músicas conseguindo deixar essa sensação de peso bastante clara. ‘Dom’ é uma faixa que gostei bastante e diz num dos versos:

“Dor sobre a mente que sopra/Seu dom grita como ninguém/Sonhos teus estancam a minha aflição/O condão me livra da opressão”

Transformar o luto em música pode ajudar no processo de seguir em frente?

Pode, mas não necessariamente isso acontece pra mim em todos os casos. Acho que a música é como um pensamento ou uma sensação, tem hora que ela me conecta por completo e me paralisa, como tem hora que ela não significa nada para mim, mesmo as músicas da minha banda, e isso vai e volta, às vezes um perdura mais que o outro, depende muito da fase que estou vivendo.

Refletindo sobre a pergunta de uma outra perspectiva, a música me faz parar tudo que estou fazendo no momento, seja físico ou psicológico, e me faz pensar de maneira mais profunda sobre o que o sentimento significa.
Você citou um som do Espetáculo do Crescimento, foi na metade do  álbum que resolvemos que não falaríamos mais de maneira objetiva, procuraríamos deixar as letras mais subjetivas, para as pessoas começarem a ter suas próprias interpretações, deixar as pessoas cavarem suas próprias lembranças e emoções ouvindo nossos sons.

Dani | Hedflow: A EDC é uma banda de metal alternativo, com uma característica forte que é a composição em português. Neste nicho, se trata de um desafio. Em algum momento isso foi um problema pra vocês?

No começo não, porque nos encaixávamos em uma cena underground que era muito eclética, as pessoas absorviam esse tipo de conteúdo plenamente. A cena foi se dissipando e nós fomos nos moldando no sentido contrário, deixamos o som mais orgânico e atmosférico, mudamos o teor das letras e significados, fomos ficando um pouco mais progressivos e cada vez nos distanciando de estilos mais consolidados. Mas é o que sempre falamos, o EDC faz o som que acredita, que possa tocar a alma de todos os integrantes, se a gente se conectar com mais alguém de fora, já é um bônus.


Dani | Hedflow: Para uma banda independente, o apoio dos amigos é essencial. Você poderia comentar um pouco sobre o papel dos amigos no desenvolvimento do grupo ao longo desses 18 anos?

A gente é uma banda bem introspectiva, mas a realidade é que ninguém faz nada sozinho, né? Tivemos MUITA ajuda na nossa história, o papel dos amigos é fundamental, em tudo que fazemos, acredito. Somos gratos a todos os nossos amigos, colegas, conhecidos e fãs. A motivação, a ajuda profissional, o elogio, a crítica, a divulgação espontânea e carinho nos ajudaram a nos entender melhor, a ver uma outra perspectiva de nós mesmos, e isso é um grande papel. Espero que isso continue acontecendo por muito tempo.

Dani | Hedflow: O álbum novo de vocês, Ensaio dos Ciclos, mostra uma banda mais madura e que precisou encarar seus fantasmas. Se podemos dizer que o álbum antecessor era sobre dar de cara com a dor, talvez Ensaio dos Ciclos seja sobre o que fazer com ela. Como foi o processo de criação deste álbum?

Entre o Espetáculo do Crescimento e o Ensaio dos Ciclos, tem o Em dias Chuvosos, talvez ele seja o mais emblemático para a banda, pois ele nos trouxe uma linguagem completamente diferente do anterior, ele direcionou o que a gente é, ele é um álbum cheio de camadas, menos percussivo, bem introspectivo mas ao mesmo tempo libertador, foi onde a gente começou a se entender como banda, que nosso processo criativo era muito mais olhar pra dentro da gente, do que absorver coisas de fora.

É muito difícil colocar em palavras um processo, porque ele é muito orgânico, você muitas vezes não percebe o que está fazendo pois está imerso dentro de si, mas foi um processo muito longo porque ele refletiu muitas mudanças pessoais ao longo de tempo, ele retratou a nossa aproximação afetiva, nos conectou como nenhum álbum conseguiu.

Existe muito amor nele. Penso que o Ensaio dos Ciclos não teve nenhuma amarra, nos desprendemos para termos algo muito verdadeiro, cada um da sua maneira.

O que eu acho legal na nossa composição é que se você quiser, você pode interpretar cada camada do jeito que sentir, por exemplo: a guitarra que o Tiago criou, o baixo do Murilo e até mesmo a bateria do Gelo, não reflete minha letra ou melodia vocal, cada integrante tem uma interpretação diferente de cada camada instrumental, essa é a magia da música como um todo, quando você ouve a música completa, você está ouvindo interpretações de nós mesmos, não um conceito uníssono.

Dani | Hedflow: O disco precisou ser regravado, a gravação original foi perdida pelo estúdio anterior, e você comentou que apesar de não acreditar muito, parece que há males que vêm para o bem. Coincidentemente a primeira faixa do álbum, ‘Própolis’, é sobre começar de novo. Em algum momento vocês cogitaram abandonar o álbum?

Pensamos, e chegou perto da banda acabar por causa disso, pelo tamanho do estresse que isso nos causou, pois geramos muita expectativa depois de tanto tempo sem gravar um álbum e a decepção foi grande. Imagina que em um primeiro momento você acha que deu tudo de si e descobre que aquilo se foi, que todas as emoções que você colocou naquele específico momento, não seriam reproduzidas. Foi um baque, mas como a pergunta já disse, depois de um tempo, voltamos a trabalhar com o Luís do estúdio C4 (ele já tinha feito uma demo em 2008 conosco) e ele conseguiu nos resgatar, tipo cachorro de rua mesmo, que tá mal tratado e com o tempo ele vai se recompondo depois da adoção (risos), o Luis conseguiu isso, conseguimos buscar e resgatar muito mais sentimento, precisão, eloquência, técnica e deixar tudo isso orgânico como queríamos desde o começo do processo. A ‘Própolis’ fala sobre um pouco disso mesmo, as vezes a gente acha que a destruição é o fim, mas ela pode ser visto como um começo de um novo organismo.

Dani | Hedflow: Existem bandas de metal latinas que você goste? Se pudesse indicar, quais seriam?

Sinceramente, não lembro de nenhuma, faz muito tempo que não ouço metal, e quando procuro, normalmente são as bandas australianas de metal alternativo que me atraem. Tenho ouvido muito sons mais experimentais, como Fever Ray e afins. Mas, aqui no Brasil gosto de algumas, o Huey que é um som instrumental pesadão, gosto do Bullet Bane, o Ponto Nulo no Céu faz um trabalho coerente, Baleia também gosto muito, mas não é metal.

Dani | Hedflow: Pra quem insiste em dizer que o rock está morto, o que você diria, Cléber?

Eu diria que está morto sim.  Penso que o rock não soube se adaptar, outros estilos souberam melhor. Obviamente, morto é uma palavra forte, estou me referindo ao mainstream. Por que eu faria parte de algo morto? Mas, o que quero dizer é que o rock se tornou muito menos relevante para essa geração. A arte nunca morre, mas o estilo artístico sempre perde sua força quando vem o próximo. Continuaremos fazer o que acreditamos, seja isso rock vivo ou morto.

Muito obrigado pelo espaço, Hedflow <3

O álbum Ensaio dos Ciclos está disponível nas principais plataformas digitais.

EDC lança Ensaio dos Ciclos, 3º disco da banda de metal alternativo; leia a entrevista

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- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladaninelo @daniescreve / Twitter: @danislelas