“Um mundo bom para os chargistas é um mundo ruim.”
Não me lembro do autor da frase, porém, preciso concordar. Estamos em Junho de 2020 e foram produzidas inúmeras charges para assuntos que envolvem os últimos acontecimentos do ano. E todo dia algo tem acontecido.
A política acaba sendo o tema central, tomou o holofote da pandemia. Hoje, ouso dizer que a quarentena é apenas o cenário para o espetáculo de horrores que observamos dia após dia.
Por que as charges incomodam tanto? A explicação é simples: elas são um tipo de ilustração, feita por cartunistas, que utilizam de humor e sarcasmo para expor situações do cotidiano como forma de crítica.
De forma certeira, a charge consegue traduzir em imagem e com poucas palavras, situações que muitas vezes são transmitidas de maneira complexa. A charge facilita o entendimento e a compreensão da realidade em que vivemos.
O Renato Aroeira criou uma charge onde mostrava Jair Bolsonaro pintando uma suástica em uma cruz vermelha com a frase “bora invadir outro”, numa clara referência ao pedido que o presidente fez aos seus seguidores para invadirem hospitais e que filmassem os leitos. O governo entrou com um pedido de investigação contra o chargista e contra Ricardo Noblat, jornalista que também compartilhou a imagem.
A decisão de investigação aprovada pelo ministro da Justiça, André Mendonça, foi repudiada pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e por diversas outras entidades da sociedade brasileira.
Ora, um governo com representantes que reproduzem discursos de membros do nazismo, que recriam cenários inspirados em momentos históricos do nazismo deveria ser retratado como? Não deixem cair no esquecimento o discurso mórbido de Roberto Alvim, ex-secretário de cultura que fez uma clara referência ao nazista, Josef Goebbels.
Quando a imprensa vê sua liberdade sendo ameaçada, quando chargistas são perseguidos por retrarem a realidade, quando humoristas sofrem ataques terroristas, o medo que se sente tem nome: é ditadura, totalistarismo, fascismo.
Mas, esse medo ainda não conseguiu calar jornalistas e artistas. Como forma de apoio ao chargista Aroeira e ao jornalista Ricardo Noblat, artistas criaram a ‘charge continuada’. No Instagram, através da hashtag #chargecontinuada, é possível localizar quase 200 obras inspiradas na criação de Aroeira.
E para fechar, deixo a fala do próprio Renato Aroeira dita em entrevista para o Brasil de Fato:
“Oprimidos têm superioridade moral em relação a fascistas”
“Eles detestam ser chamados pelo que são”.
A entrevista na íntegra está neste está aqui: Aroeira sobre censura.
Você também pode assistir a conversa que tivemos com outro grande chargista, Carlos Latuff, na hedflow TV: