A banda de hardcore Escombro, que divulgou recentemente o single ‘Mundo Cão‘, o primeiro com a participação do novo guitarrista, Renato Romano, já se prepara para lançar Cicatrizes, o mais novo EP do grupo.
Confira a entrevista que a Hedflow teve a oportunidade de realizar com o vocalista, Lucas ‘Jota’ Ferreira, e o baixista, Igor ‘Ling” Fugiwara’, sobre a trajetória da banda, a chegada de um novo integrante, a importância do posicionamento social e político, e, claro, o novo projeto que será divulgado ainda neste mês!
Guilherme (Hedflow) – Olá, Igor e Jota! Satisfação enorme bater um papo com vocês! Por favor, apresentem a banda para quem ainda não conhece o trabalho do grupo.
Jota: Nós somos a banda Escombro. Somos da cidade de São Paulo e já estamos na ativa há 4 anos. Fazemos hardcore com letras ácidas e com instrumental agressivo. Pelo menos é isso que dizem (hahaha).
Guilherme (Hedflow) – Recentemente, vocês lançaram o videoclipe da música ‘Mundo cão’. Qual a principal mensagem da letra?
Igor: A faixa ‘Mundo cão’ aborda um pouco do cotidiano da maioria dos brasileiros, e fala sobre a constante luta que é sobreviver em um país extremamente desigual.
Eu me questiono o porquê para grande parte da população se faz necessário travar uma guerra diária para ter o que comer, o que vestir e onde morar. Também levanto um questionamento sobre o constante esforço dos nossos políticos e empresários em manter a população ignorante, alienada e doutrinada à base do medo.
A letra também faz menção aos rappers Sabotage e Eduardo Taddeo, além do álbum ‘Sobrevivendo no inferno’, do grupo Racionais Mc’s.
Guilherme (Hedflow) – Além disso, esse single irá fazer parte de um novo EP intitulado Cicatrizes. O que os fãs podem esperar desse trabalho?
Igor: Instrumental mais agressivo e ‘trabalhado’ que os demais lançamentos. O Jota também mudou bastante a maneira de cantar e a parte lírica deste disco. As letras abordam temas sociais e políticos, porém, grande parte da narrativa é feita em primeira pessoa e não em terceira pessoa como de costume.
Guilherme (Hedflow) – Por que vocês decidiram lançar o novo material pelo selo Canil Records?
Jota: Foi uma escolha natural, tendo em vista que já trabalhávamos com o Ian Bueno, nos anos em que o mesmo estava na One RPM. Assim que ele abriu o selo, junto com o Victor Guilherme, conversamos e decidimos por fechar com eles a parte digital que é extremamente essencial.
Guilherme (Hedflow) – Recentemente, a banda passou por uma mudança no lineup, adicionando o guitarrista Renato Romano. Como foi a experiência em realizar as gravações com um novo integrante?
Igor: Revigorante! Com sangue novo, a banda ganhou força, peso e uma nova identidade, além de um clima mais descontraído. Conhecer o Renato como pessoa foi fator determinante para que ele entrasse pra família e somasse com nosso corre. Ele é um músico exímio e uma pessoa excepcional, com referências muito próximas das nossas, o que trouxe um “tempero bom para o caldo”.
Guilherme (Hedflow) – Eu acompanho o grupo desde 2016. Particularmente, acho que as letras do Escombro são o grande destaque da banda. Na opinião de vocês, qual a importância da mensagem de protesto apontando os problemas de nossa sociedade/cenário político no momento em que estamos vivendo atualmente no Brasil?
Jota: Fico feliz em ouvir isso (hahaha). Acredito que estamos vivendo um de nossos piores momentos políticos e sociais. Isso é algo que me incomoda muito. Eu falo sobre temas que estão presentes no meu cotidiano e de milhares de pessoas. Infelizmente, enquanto houver miséria, corrupção, abuso de poder, racismo, desvio de conduta, exploração da mão-de-obra, eu não tenho o porquê e nem consigo falar de amor, de rolê, de festas ou simplesmente fingir que está tudo bem. Não está tudo bem! Nossa realidade é triste, é miserável, injusta e acima de tudo inaceitável!
Tudo que desejo com as letras que eu escrevo é informar e cultivar em cada um dos nossos ouvintes o desejo de mudança, a raiva necessária para brigar pelo que é nosso, o inconformismo, a ideia de que é necessário se unir como povo, que é preciso lutar contra o nosso sistema político que é podre, corrupto e beneficia uma pequena parcela da sociedade e que o único ódio possível e necessário é pelo verdadeiro inimigo.
“Sem engajamento, não há arte” – isso é algo que vai além do discurso para nós.
Guilherme (Hedflow) – O Escombro era uma banda bastante ativa na cena de São Paulo, e costumava realizar diversos shows por mês. No entanto, com a pandemia do COVID-19, o grupo está parado no momento. Como vocês estão enfrentando esse período tão difícil?
Igor: De fato, planejávamos pegar a estrada agora em Agosto, assim como diversas bandas que tiveram seus trabalhos interrompidos pela pandemia. Estamos trabalhando bastante pela internet. Fazendo reuniões à distância, aproveitando para compor e divulgar este novo trabalho.
Guilherme (Hedflow) – Além da banda, vocês possuem empregos formais, certo? Em um nível particular, como a pandemia tem afetado os integrantes?
Igor: Gostaríamos de viver só da banda! Quem sabe em breve! Jota trabalha como chefe executivo de uma rede de franquias chamada Cão Véio™, Felipeles é gestor de negócios familiares em Jaú, nosso novo guitarrista, Renatinho, é Dog Hero e nosso baixista, Igor, está dependendo do auxílio emergencial.
De fato a pandemia afetou e bastante a banda no âmbito financeiro, mas sempre tivemos o Escombro como prioridade e esse ‘aperto’ só reforçou isso.
Guilherme (Hedflow) – Como vocês acham os portais de música podem ajudar as bandas independentes como o Escombro?
Jota: Divulgando as bandas não apenas pelo som, mas entrevistas como esta, por exemplo, aproximam o público do artista. E neste momento longe dos palcos, nós precisamos muito deste tipo de interação. Vocês são o nosso principal veículo de comunicação com o nosso público tendo em vista que somos todos parte da contracultura.
Guilherme (Hedflow) – Pessoal muito obrigado pelo tempo. Sucesso com o novo EP. Agora, digam algo para nossos leitores!
Igor: Estamos morrendo de saudades de trocar energia com vocês, esperamos voltar aos palcos em breve e dividir nossos corpos, alma e espírito com todos.
Se cuidem, se puderem fiquem em casa e FORA BOLSONARO!