A CÄBRÄNEGRÄ surgiu entre o fim de 2018 e início de 2019 em um momento muito significativo para a definição do atual cenário de crise estrutural do capitalismo e avanço das forças mais retrógradas e conservadoras, principalmente na América Latina. Como uma forma de, antes de tudo, denúncia das contradições e desigualdades através de letras críticas e diretas, a banda segue com uma forte influência do grindcore.
Renan Evaristo, Roger Loss e Brudo Reichert vêm com uma presença e conteúdo não só admiráveis mas necessários, principalmente se levarmos em conta a forte presença do neofascismo e apoio ao desgoverno brasileiro em Santa Catarina. Entretanto, são gritos não apenas de queixa e revolta jogados ao vento, mas uma possibilidade de construção e organização com e daqueles e daquelas que ainda insistem em resistir neste cenário, mantendo viva a arte como forma de unidade e crítica da lógica individualista neoliberal que faz com que vejamos uns aos outros como competidores, “ídolos inalcançáveis’” ou “messias inquestionáveis”.
Exemplo disso é que, desde o início, a CÄBRÄNEGRÄ se apresentou/organizou ao lado daqueles que compartilham com esses ideais e essa visão de arte coletiva e apoio mútuo.
Seu primeiro EP foi gravado em Curitiba (Estúdio Sabine), trazendo críticas ao liberalismo, denúncia da reforma da previdência e até mesmo falando sobre mais-valia, ou seja, já mostrando uma consciência de classe marcante.
Seu segundo registro, o EP Abismo, foi gravado no mês de Novembro de 2019, em São Paulo (Family Mob / ExpFM) e significa um marco importantíssimo. O projeto ainda traz remixes de Martinelli (ODD), Douglas Leal (Deaf Kids), Gustavo Paim (Meia-Vida) e Luca Lucena, desconstruindo o padrão convencional ao unir grindcore e música eletrônica underground.
É interessante notar que as letras, em sua grande maioria escritas pelo Brudo, afirmam a ideia de que a banda é muito mais que denúncia ao ouvirmos o que dizem em ‘Destruir/Reconstruir’: trata-se de ação transformadora, afinal, uma nova sociedade somente surgirá sobre os escombros e cinzas da velha sociedade.
Através do CÄBRÄNEGRÄ e do Coletivo Espelho Cego, foi feito um intercâmbio de apresentações e experiências com bandas locais e também de outros estados e países. Todos os eventos foram inesquecíveis e, repetindo, necessários se tomarmos a arte como realmente deve ser: um direito (não só para aqueles que podem investir altos custos) ou, melhor dizendo como Maiakóviski: “a arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo”.
Texto por Gaia (Coletivo Antítese)