Sergio Vega está fora do Deftones de maneira minimamente questionável

O músico resolveu fazer uma declaração direcionada aos fãs da banda californiana após uma alteração da foto do Spotify do grupo que não o incluía.

No vídeo em que lê um comunicado sobre a história com o Deftones, Vega lembra de sua entrada na banda, inicialmente como substituto temporário de Chi Cheng (o baixista original), ocupando a sua posição definitivamente a partir de 2009, dois anos antes do seu falecimento (após ter ficado em estado minimamente consciente desde um acidente de carro ocorrido em 2008 na região de Seaside, Califórnia).

Apesar de mais de uma década na banda, Sergio Vega jamais foi integrado oficialmente ao Deftones em termos de contrato fixo com divisão majoritária de lucros. Ele havia aceitado tocar em regime de contrato a prestação de serviços, renovado de tempo em tempo, com a promessa de um dia ser incluído efetivamente como membro fixo.

Durante a pandemia, não houve qualquer renovação.

“Comecei a questionar o meu lugar na banda e o futuro que eu queria para a minha carreira. Eu realmente comecei a precisar de algo estável.”

Apesar de não ter renovado com o Deftones, Vega afirma que foi chamado às pressas a Los Angeles para ajudar o grupo com “uma questão interna”. O baixista reafirmou o compromisso com o Deftones, mas avisou os colegas sobre a impossibilidade de seguir com o mesmo regime de contrato firmado anteriormente.

“Nossos empresários tiveram uma conversa para discutir um novo contrato e me ofereceram o mesmo acordo. Nesse ponto, ficou evidente que não havia oportunidade de crescimento para mim. Então recusei a oferta. Aí liguei para os caras imediatamente a fim de descobrir onde estava a falha de comunicação e resolver isso. Mas não houve resposta”, continuou.

A última comunicação do grupo com Sergio foi por meio de um advogado da banda, via e-mail. A mensagem consistia na retirada da oferta de manter o contrato, e, ela foi finalizada brevemente desejando ‘sorte’ ao músico.

Sem qualquer vínculo com o Deftones desde o ano passado, o baixista continuará trabalhando como compositor e produtor musical, além de focar no trabalho com a sua banda de origem: a Quicksand.

“Por fim, obrigado aos ‘Tones’! Queria ter a chance de dizer isso pessoalmente…
Aprecio todos os anos que passamos juntos. Aprendi muito com cada um de vocês. Quando vocês me recrutaram, criaram um novo sentimento de paixão pela música que eu sempre vou amar e carregar comigo. Vocês realmente mudaram a minha vida.”, concluiu Sergio.

Tudo isso nos faz também lembrar do que houve de similar com bandas como Slipknot, Fear Factory e Soulfly nesses últimos anos. Desavenças por conta de divisão dos lucros, direito pelo nome da banda e inúmeras ações judiciais levaram Burton C. Bell (ex-vocalista do Fear Factory) a deixar o grupo.

Bell chegou a dizer à Revista Kerrang! que a sua separação com a banda demorou muito. “Isso está na minha cabeça há um tempo”, disse ele. “Essas ações judiciais [sobre os direitos do nome Fear Factory ] simplesmente me drenaram. Os egos, a ganância… Não apenas dos membros da banda, mas dos advogados envolvidos. Eu simplesmente perdi meu amor por isso.”

Dino Cazares (guitarrista) chegou a publicar um comunicado no fim de 2020 dizendo que “a porta para Burton voltar ao Fear Factory não tinha como ficar aberta para sempre”. O músico havia então revelado também que Burton perdeu o direito de usar o nome ‘Fear Factory’ após uma longa batalha judicial com o baterista Raymond Herrera e o baixista Christian Olde Wolbers . “Tive a oportunidade de fazer algo certo e senti que obter o nome completo foi a coisa certa a fazer por nós. Então, depois de quase quatro anos, podemos continuar como Fear Factory para fazer mais discos e turnês.”

Já com o Slipknot, as tretas foram ainda mais sinistras. Joey Jordison saiu do Slipknot em 2014, e, segundo um comunicado da banda naquela altura, o músico simplesmente “deixou” o grupo “por motivos pessoais”. Finalizaram a nota desejando a ele “o melhor em seus novos projetos”.

Entretanto, o próprio músico desmentiu o anúncio oficial do grupo, alegando que foi demitido por email e condenou a forma de sua demissão como “covarde.”

“Nenhuma reunião com a banda? Nenhuma! Alguma coisa do empresário? Não, nada! Tudo que recebi foi um email estúpido dizendo que eu estava fora da banda, à qual fodi com a minha vida toda para criar.” falou Jordison em entrevista à Metal Hammer.

O baterista, que também fundou as bandas Murderdolls, Scar the Martyr e Vimic, pontuou sua demissão como “dolorosa”: “Foi exatamente isso o que aconteceu, e, foi doloroso. Eu não merecia uma merda dessas depois de tudo que fiz e passei… Passei por tantas coisas com esses caras e eu os amo muito. O que é doloroso é a forma como as coisas aconteceram. Isso não foi correto. Isso é tudo o que eu quero dizer: eles fizeram isso de uma maneira covarde! Foi mesmo uma merda!”

De acordo com Joey, o motivo da sua demissão foi ele ter sido acometido por uma doença chamada mielite transversa.

“Perdi as minhas pernas. Eu não conseguia mais tocar. Era uma forma de esclerose múltipla que eu não desejaria nem ao meu pior inimigo!”

Ele, no entanto, se recuperou após um tratamento intensivo com várias sessões de fisioterapia e relatou: “Para pessoas com esclerose múltipla, mielite transversa ou qualquer coisa do tipo, sou a prova viva de que é possível superar essa tragédia.”

Porém, ele faleceu sozinho em sua casa em Julho do ano passado, deprimido e sem contato com os ‘amigos’ do Slipknot já há anos.

Outro caso esquisito foi com o percussionista Chris Fehn, que havia acusado o Slipknot (enquanto marca) de não tê-lo compensado devidamente ao ter feito parte da banda por mais de duas décadas – ele integrou a formação entre 1998 e 2019. O músico declarou que o também percussionista Shawn Crahan e o vocalista Corey Taylor, citados no processo, enriqueceram e acumularam mais dinheiro que os outros integrantes remanejando ganhos da banda de forma ilícita.

O grupo, por sua vez, alegava que Chris Fehn era apenas um músico contratado, e não um sócio. Crahan e Taylor eram descritos como “membros fundadores” para conduzirem como quisessem os negócios da banda, enquanto Fehn constava em contrato meramente como um funcionário que “não compartilha dos lucros e perdas da empresa, nem comanda o negócio com os demais ou proporciona contribuição de capital”.

Foram acionadas as seguintes empresas: Knot Merch LLC, Knot Touring LLC e SK Productions LLC. Também foram acionados Corey, Shawn e o empresário do grupo, Robert Shore, bem como o seu escritório de advocacia, Rob Shore & Associates Inc.

Por conta de cláusulas de confidencialidade não foi divulgado se aconteceu, de fato, algum acordo. Nem sequer os termos negociados. O que tornou-se público foi apenas que Fehn resolveu retirar a acusação.

Por fim, relembramos também que com o Soulfly pareceu haver algo igualmente tenebroso. O guitarrista Marc Rizzo, que foi integrante do Soulfly entre 2004 e 2021, saiu da banda liderada pelo guitarrista e vocalista Max Cavalera. Marc falou sobre a sua separação da banda em uma entrevista concedida ao apresentador Pedro Gutierrez do canal Rock Talks.

Ao longo da conversa, Marc afirmou que durante a pandemia não recebeu nenhum apoio financeiro da banda. “Foi um ano muito difícil. Não tive suporte do Soulfly. Não houve nenhum tipo repasse monetário para os membros da banda ou para a equipe.”

Na sequência, Rizzo disse que teve que arrumar um emprego ‘normal’ para conseguir se sustentar. “Eu tive que conseguir um emprego diurno. Eu estava fazendo reforma de casa, trabalhando cerca de 10 horas por dia. Um álbum ao vivo do Soulfly foi lançado em 2020, o ‘Live Ritual NYC MMXIX‘. Nunca vi um centavo disso. Então, basicamente, depois dos primeiros seis/sete meses de pandemia, eu disse: ‘Sabe, cara, eu não quero mais isso. Dei 18 anos da minha vida para vocês!”

“Estive fazendo serviços de encanamento e reparos elétricos… Por fim, um grande amigo meu, Nic Bell, da Godsize Booking (uma empresa de eventos) me disse: ‘Escuta, cara, posso colocá-lo de volta na estrada para os estados dos EUA que estão abertos’. Então ele me levou para Montana, Texas e Flórida para fazer shows com o meu projeto solo. Aí eu pude largar o outro trampo e voltar a fazer som para sobreviver.”

Portanto, fazemos sempre questão de reafirmar aqui na Hedflow que se você é um(a) artista / operário(a) da cultura, é preciso se conscientizar de que você é parte do proletariado. Você é parte da classe trabalhadora e é usado(a) pelos detentores do capital e dos meios de produção somente para gerar a ‘mais valia’ (um acúmulo de fundos por parte desses detentores; acúmulo esse advindo da exploração e da divisão desproporcional, injusta e parcial de todas as coisas que são obtidas através da sua mão de obra).

O capitalismo vai seguir corrompendo tudo na sociedade… E com as bandas que nós tanto curtimos não será diferente.

Trabalhadores do mundo, uni-vos!

Sem mais.




Foto em destaque por Getty Images
Texto por Fernando Araújo
Edição por Stefani Costa

Sergio Vega está fora do Deftones de maneira minimamente questionável

Por
- Comunicador cultural, editor e fundador da Hedflow Mídia.