Poucos grupos foram tão relevantes para o underground brasileiro durante a década passada quanto o Pense HC. Ao longo dos últimos dez anos, a banda formada em Belo Horizonte lançou 3 álbuns full length, realizou uma turnê pela Europa, conquistou uma base de fãs sólida e levou multidões aos seus shows explosivos em todos os cantos do país.
Além disso, com o disco “Realidade, Vida e Fé”, lançado no ano de 2018, os mineiros conquistaram credibilidade máxima dentro do cenário independente. Devido às suas composições marcantes e elaboradas, o álbum foi responsável por atrair centenas de pessoas que não estavam familiarizadas com o hardcore, causando certa renovação dentro do movimento.
No entanto, apesar de ter se tornado um dos nomes mais importantes do rock melódico da geração em sua formação atual, alguns de seus principais integrantes (Lucas Guerra, Charles Taylo e Cristiano Souza) decidiram deixar o conjunto para focar em projetos pessoais e outros trabalhos artísticos.
Porém, através da “#mudançastour” — série de apresentações que ocorreu em algumas das principais capitais do país durante os meses de março e abril — a banda concedeu aos fãs a oportunidade de dar o último adeus ao arranjo responsável por impactar positivamente a vida de tantas pessoas.
O primeiro show da tour na cidade de São Paulo aconteceu no sábado (02/04), no lendário Hangar 110. Devido ao clima frio e garoa pesada, o público não compareceu logo nas primeiras horas do evento, gerando um cenário atípico na rua Rodolfo Miranda, que geralmente fica completamente movimentada em dias de apresentações de grupos populares.
Por volta das 19h, a casa abriu ao público geral. Durante 40 minutos, os presentes foram entretidos pelos telões do clube com uma filmagem bootleg do show de lançamento do álbum Glow On, da banda estadunidense Turnstile.
Após a entrada de um maior número de fãs, Nevare iniciou seu set alguns minutos depois das 20hrs. O grupo formado na cidade de Osasco “mandou de cara” a faixa instrumental “Um novo tempo”, e seguiu com “Caos interior” e “Ego”. Executando um som extremamente refinado, que mistura as batidas rápidas do hardcore, riffs de guitarras complexos e trabalhados e até rimas freestyle, os rapazes reuniram seus seguidores que destacavam camisetas da banda e subiam ao palco para participar das canções junto ao vocalista Gustavo Cruz. Após agitar o público por 20 minutos, o conjunto encerrou sua apresentação destacando os singles “Antes de tudo” (canção que conta com um videoclipe recém-lançado) e “Respiro” — faixa marcada pela participação de Milton Aguiar, vocalista do Bayside Kings.
Em seguida, uma pequena troca de equipamentos ocorreu no palco, enquanto a galera curtia a apresentação do grupo britânico Idles no programa KEXP. Após pequenos ajustes, às 20h45, o grupo paulistano I am Hell apareceu para dar continuidade ao evento. Sem o pedido de manifestação por parte dos integrantes, ainda antes da primeira música, os presentes na pista iniciaram um coro uniforme, gritando em voz alta “Hey, Bolsonaro, vai tomar no c*”, motivados pela estampa da camiseta do baterista Will Vieira, que destacava uma paródia da capa do primeiro álbum do Bad Religion com a frase “Fora Bolsonaro”. Em seguida, os donos de um curiosa fusão entre hardcore e influências psicodélicas encantaram o público com as suas canções rápidas e agressivas, entre elas: Crumble, Reconstruir, Back from Hell e Just for today. Durante toda a apresentação, o vocalista Victor Deaf correu pelo palco, lançou stage dives e dividiu o microfone com os fãs. Ao término do set, o Rapper Felipe Flip foi convidado para fazer uma participação durante a música Anti-hero e em um cover de Territorial Pissings — um dos hits mais barulhentos do eterno Nirvana.
Já com a casa em sua lotação máxima, a atração principal da noite subiu ao palco perto das 22h. Após uma introdução com um áudio do artista plástico Eduardo Marinho e o tradicional “grito de guerra” ecoado pelos fãs, a banda deu início ao set com a música “Revitalizar”, e seguiu com “Aponte para o espelho”, “Gota a gota” e “Corpo, mente e espírito”, transformando o cenário local em um ambiente caótico. Em seguida, o vocalista Lucas Guerra convidou Victor Deaf (I am Hell) para participar em “Caímos juntos, Levantamos juntos”. Posteriormente, a apresentação continuou com uma fusão de faixas dos últimos três álbuns do grupo, entre elas: “Existência”, “Amigos valem mais do que asfalto”, “Todo momento é o agora” e “Seguro Demais”. Devido às circunstâncias exclusivas do evento, os rapazes incluíram edições especiais de algumas de suas músicas, e apresentaram “Espelho da alma” e “O mundo é dos espertos” em versões acústicas.
Após uma rápida alteração no cenário, Lucas afirmou que “a banda Pense não se resumia aos cinco integrantes, mas sim a uma ideia”, e acrescentou que “o objetivo do grupo sempre foi fazer com que suas composições transformassem seus seguidores em pessoas melhores, mesmo que tais mudanças ocorressem de forma pequena durante suas rotinas”. Em seguida, a banda continuou repaginando sua longa obra, incluindo b-sides como “Contracultura”, “O que me cega”, “Andando sobre pedras” e “Máquina do tempo”, além do single “Levanta e Vai”. Após agradecimentos da banda em relação ao apoio dos fãs ao longo dos seus 15 anos, o set foi finalizado com “Utopia”, “Eu não posso mais” (que, curiosamente, não contou com a tradicional invasão de palco) e “Expansão da consciência”.
No domingo (03/04), o público compareceu em massa para presenciar a apresentação definitiva do grupo em sua formação atual no Carioca Club. Devido ao clima favorável, muitos fãs ocuparam os bares da Rua Cardeal Arcoverde e outros estabelecimentos ao redor do Largo da Batata.
Às 18h, o Carioca Clube liberou a entrada aos fãs. Durante uma hora, DJ Nico aqueceu a pista com uma tracklist marcada pela diversidade em explorar os mais variados estilos do Rock atual.
Por volta das 19h, Continue deu início às apresentações ao vivo do evento. Em um set curto, a banda apresentou algumas de suas canções mais populares nas plataformas nas redes sociais, entre elas: “Ciclo sem fim”, “Em pedaços” e “Sincero”. Antes de se despedir do palco, a vocalista Naty Zanellato afirmou que dividir o palco com o Pense era uma grande realização, pois o som dos mineiros exercia uma influência direta em seu trabalho.
Com maior público dentro do espaço, a banda Amorfo da cidade de Diadema roubou a cena e devastou o espaço com a fúria de seu som crust/grindcore barulhento. Sem diálogos longos com os presentes na pista, os rapazes destruíram tudo apresentando um set composto por faixas dos materiais “Prazo vencido” (2018) e “Humanidade” (2016). Ao som de “Mesa farta”, “Maldita violência” e “Desgraça”, o público respondeu com moshs caóticos, e muitos agitaram do início ao fim.
Com maior público dentro do espaço, a banda Amorfo da cidade de Diadema roubou a cena e devastou o espaço com a fúria de seu som crust/grindcore barulhento. Sem diálogos longos com os presentes na pista, os rapazes destruíram tudo apresentando um set composto por faixas dos materiais “Prazo vencido” (2018) e “Humanidade” (2016). Ao som de “Mesa farta”, “Maldita violência” e “Desgraça”, o público respondeu com moshs caóticos, e muitos agitaram do início ao fim.
Já o show do Pense foi bastante parecido com a apresentação que ocorreu no dia anterior no Hangar 110. A banda destacou o mesmo setlist, passou por singles e b-sides e manteve as versões acústicas. Certamente, o maior diferencial foi o telão de LED do clube, que destacou incríveis efeitos artísticos e “decorou” o palco e o público que agitava no mosh e stage dives.
Durante um breve intervalo entre as faixas, Lucas cedeu espaço para que um fã solicitasse sua noiva em casamento. Após a execução da música “Expansão de consciência”, o quinteto encerrou a edição da “#mudançastour” com o marcante single “Dia corrido”, cujo videoclipe impulsionou a carreira do grupo durante o início da década de 2010.
Lucas, Cris e Charles se despediram com chave de ouro do público paulistano. Através da emoção e do respeito em duas apresentações sold out, os rapazes tiveram a oportunidade de conferir pela última vez a força de suas canções, que certamente foram importantes na vida de centenas de pessoas.
Fotos por Roberto Rivas
Sábado (02/04)
Nevare
I am hell
Pense
Domingo (03/04)
Continue
Amorfo
Pense