Wiegedood: a força obscura e a raiva visceral do black metal anti-modernista

Presságios de que a noite de imersão ao peso brutal desse power trio belga seria algo realmente estupendo ocorreu logo na porta do Musicbox, em Lisboa, pouco antes da abertura do evento. Um punk de cabelos descoloridos e espetados chegou perguntando em inglês “a que horas os Wiegedood tocam?”. Satisfeito com a resposta de que só iriam começar depois das 21h, ele sorriu e disse: “ah, que bom, ainda dá tempo de tomar mais uns copos aqui na rua rosa!”.

Foi possível notar uma evidente ansiedade para contemplar esse furor fenomenal do black metal nomeado Wiegedood. E o gajo lá estava, mais cedo, ainda a tempo de pegar a apresentação do Cavernancia, um cidadão do Barreiro que arrastou o seu drone de turntable, meticulosamente sinistro, até ali para dar a atmosfera tenebrosa da noite.

Levy Seynaeve (vocal e guitarra), Gilles Demolder (guitarra) e Wim Sreppoc (bateria) subiram ao famigerado ‘palco cavernoso’ um pouco antes das 22h. Sem quaisquer rodeios, já vieram com a pedrada ‘FN SCAR 16’, faixa que inicia também, primorosamente, o novo álbum deles: There’s Always Blood At The End of The Road.

O baixo não faz falta, porque as guitarras de Gilles preenchem bem os tons graves e casam perfeitamente com a sonoridade de médios e agudos de Levy. Já o tempo das batidas de Wim é absolutamente impressionante, calhando como um motor que dá propulsão à ritmicidade marcante e feroz do grupo.

No público, além do simpaticíssimo punk rocker citado no começo desta resenha, havia também black (sem trocadilhos ao género musical) com penteado afro-dread amarrado para cima, rockeiros diversos e até um senhor de mais idade com uma camisa social à la Nicolas Cage. Ou seja, houve diversidade! A pluralidade etária e étnica só têm a acrescentar, em qualquer segmento que seja. Que o black metal possa, cada vez mais, abrir o seu espectro e incorporar inspirações advindas de nuances variadas, distintas e interessantes.



A sequência veio com ‘And in Old Salamano’s Room, the Dog Whimpered Softly’, também do álbum lançado em janeiro deste ano. Outra ‘pancada’! E foi mesmo na ordem a seguir, sendo que esse é o segundo tema de There’s Always Blood At The End of The Road. Uma faixa na qual há um cativante e notável trecho cadenciado, intercalado por uma parte solada com o timbre lindíssimo da guitarra Gibson Les Paul de Levy.

Desse álbum mais recente tocaram ainda ‘Until It Is Not’, ‘Noblesse oblige richesse oblige’ e ‘Now Will Always Be’ (com um instrumental totalmente inspirador, que por vez lembra até o post-metal do Cult of Luna), ‘Nuages’ e ‘Carousel’ (que foi a derradeira).

Das mais antigas apenas ‘Ontzieling’ e ‘De doden hebben het goed II’ (que deu nome ao lançamento de 2017 dos Wiegedood) foram tocadas.

Vale ressaltar que a exímia configuração do áudio da banda ao vivo aliada à excelente acústica da sala de concertos do Musicbox, propiciou uma experiência formidável que vai ficar sempre na memória de todos aqueles que lá marcaram presença. Mais uma vez a Amplificasom acertou em cheio e trouxe-nos o que há de melhor nesse estilo.

Fotos por Stefani Costa




Wiegedood: a força obscura e a raiva visceral do black metal anti-modernista

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- Comunicador cultural, editor e fundador da Hedflow Mídia.