Shellac entrega com maestria toda a intensidade do noise no segundo dia de Primavera Sound

A sexta-feira de Primavera Sound no Porto, dia 2 do festival, recebeu Shellac; o famigerado trio de rock minimalista de Chicago composto pelo insigne e histórico engenheiro de som Steve Albini (na guitarra e nos vocais), Bob Weston (no baixo e também em alguns dos vocais) e Todd Trainer (na bateria).

O grupo foi ovacionado quando subiu ao palco – precisamente quatro minutos antes das 20h10 (horário programado para o início da apresentação) – e enquanto ainda configurava os cabeçotes dos seus amplificadores com ajustes finais.

Com tudo pronto, aguardaram apenas alguns segundos restantes para o horário cravar oito e dez da noite em ponto… Então, juntamente com o cronómetro a sair do zero, ‘All the Surveyors’ foi iniciada com a sua intro pujante e abriu as atividades para o que foi, até então, uma das perfomances mais empolgantes do evento.

‘Copper’, do álbum Terraform (de 1998), deu sequência à abertura e manteve a audiência em êxtase logo no começo, sem tempo para piscar sequer.

Shellac no Primavera Sound Porto – Foto: Stefani Costa



Albini dirigiu-se de forma mais contundente ao público ao dedicar ‘Scrappers’ aos catadores de materiais recicláveis: “há diferentes nomes para essas pessoas em todos os lados do mundo. Penso que seja importante que nós as honremos. Sejam lá quais forem os nomes que usem para elas, acho que deveríamos honrar essas pessoas. Estão transformando o nosso lixo em uma existência sustentável para elas mesmas. Isso é bonito.”

Outro ponto alto foi quando ‘Dog and Pony Show’ foi tocada. A faixa é do primeiro álbum do Shellac, At Action Park, lançado em 1994. Esse trabalho segue como um dos mais inspiracionais de todos os tempos para o segmento de noise rock mundo afora.

O apogeu do concerto desse magnífico power trio estadunidense veio mesmo ao som de ‘Steady as She Goes’, do antológico Excellent Italian Greyhound (de 2007).

Logo depois foi tempo de correr para pegar a apresentação do estimado Arnaldo Antunes. Ele é um artista de senso eximiamente aguçado, e, deixou a música falar por si só em relação ao que tem ocorrido no Brasil desde que a extrema-direita chegou ao governo por lá.

Temas como ‘O Real Existe’ e ‘Põe fé que já é’ deram o tom de tempos sinistros que precisam ver dias melhores. Porque, sim, “o pulso ainda pulsa”… E foi com muito entusiasmo que o público cantou junto esse tema nomeado ‘Pulso’, lançado em 1989 pelos Titãs (banda da qual Arnaldo fez parte até 1992).


Arnaldo Antunes no palco do Primavera Sound Porto – Foto Stefani Costa


Ele também tocou ‘Judiaria’ após introduzi-la à plateia como um “rock n’ roll de Lupicínio Rodrigues. No mais a performance contou ainda com ritmos de samba e demais brasilidades à la tropicalia. (Em breve entrevista exclusiva com o músico aqui no site da Hedflow)

Nesse segundo dia ainda apresentaram-se o promissor King Krule com o seu cativante jazz fusion, além de Beck e Pavement, consagrados nomes do rock alternativo.


Galeria de fotos por Stefani Costa





Shellac entrega com maestria toda a intensidade do noise no segundo dia de Primavera Sound

Por
- Comunicador cultural, editor e fundador da Hedflow Mídia.