Milton Nascimento: “Pra mim, o mais importante é a música tocar o coração das pessoas”


Depois de mais de 30 álbuns gravados, cinco prêmios Grammy e diversas honrarias em mais de 60 anos de carreira, Milton Nascimento se despede dos palcos com a mesma força que lhe transformou em uma das maiores personalidades da história da música.

Nascido em 1942 em uma comunidade no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, ‘Bituca’ (como é carinhosamente chamado desde criança por fazer bico quando contrariado e também em referência aos índios botocudos) deparou-se logo cedo com o primeiro desafio imposto pela vida. Depois de perder a mãe (vítima da tuberculose) e ser abandonado pelo próprio pai, foi entregue aos 2 anos de idade à avó materna, que residia na cidade mineira de Juiz de Fora.

Aos 6 anos Milton foi viver em Três Pontas, após ser adotado ​​pelo bancário e professor de matemática, Josino Campos, e pela professora de música, Lília Campos. Aos 13 ganhou seu primeiro violão e, para nossa alegria, nunca mais parou de cantar.


Milton Nascimento se despede dos palcos em 2022 com a turnê ‘A última sessão de música’
Foto: Marcos Hermes


Para dizer adeus ao público, o músico incluiu Portugal na digressão final, lembrando da sua primeira passagem pela Europa no início de 1980. Segundo Nascimento, a ‘terrinha’ já o recebia de braços abertos. Desde então, ele nunca mais deixou de se apresentar por aqui. “Portugal sempre fez parte da minha vida. E é um dos lugares onde eu mais gosto de fazer shows em todo mundo. Eu sempre faço questão de cantar para os fãs portugueses.”, explica.

Hoje, aos 79 anos e pronto para iniciar ‘A última sessão de música‘ em solo lusitano, Milton Nascimento já falou que não quer parar de escrever. “Posso dizer que sou muito feliz de ter tido a sorte de cantar (e também de compor) ao lado de grandes ídolos e amigos, como Chico Buarque, Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina, Gal Costa, Mercedes Sosa, Pat Metheny, Peter Gabriel, James Taylor, Cat Stevens, Joe Anderson, Paul Simon, Duran Duran, Bjork e Esperanza Spalding.”, relembra.

E isso, de não querer parar de produzir, fica evidente quando pensamos no presente. A canção ‘Me Corte Na Boca Do Céu A Morte Não Pede Perdão’ foi a mais recente parceria de Milton em Sobre Viver, o novo álbum do rapper Criolo. No mês passado, Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MC’s, foi eleito o 9° melhor disco brasileiro já lançado na história, numa lista onde o próprio Milton aparece em primeiro lugar com Clube da Esquina. “Pra mim, o mais importante é a música tocar o coração das pessoas. Se for rap, rock, não importa o rótulo, se emocionar já valeu à pena“, elucida ao responder se a poesia e o ritmo do rap podem inspirar a revolução brasileira.



A respeito dos trabalhos de artistas portugueses, Semente da Terra (nome de batismo concedido a Milton Nascimento pelos índios Guarani-Kaiowá) diz que, seja fado ou outros estilos musicais, existem nomes que nunca ficariam de fora da sua lista. “Independente do género, eu não posso deixar de citar Carminho, António Zambujo e, mais recente, a Maro.”, pontua.

Ciente da cronologia construída em 6 décadas de dedicação à arte de compor e cantar, Milton ainda encontrou o ponto certo em que “as portas do mundo se abriram” para receber um talento lapidado pela superação.

“Outro acontecimento que marcou muito minha carreira foi esse, de quando Wayne Shorter me convidou para gravar com ele, nos Estados Unidos, o disco Native Dancer, considerado um marco na WORLD music. Com isso, as portas do mundo se abriram. Através desse disco com Wayne, minhas músicas chegaram até Stan Getz, George Duke, e Sarah Vaughan.”, finaliza.



Milton Nascimento se apresenta pela última vez em Lisboa (dia 23 de junho, no Coliseu dos Recreios), Castelo Branco (dia 26, no Cineteatro Avenida), Porto (dia 29, na Casa da Música) e Évora (3 de julho na Feira de São João).

Texto e entrevista por Stefani Costa
Foto em destaque por Marcos Hermes


Milton Nascimento: “Pra mim, o mais importante é a música tocar o coração das pessoas”

Por
- Latino-americana, imigrante e jornalista. Twitter: @sttefanicosta