Com o sol a se pôr mais tarde nesta temporada de verão europeu, a banda alemã Kreator (que está completando 40 anos de atividade este ano) trouxe o seu thrash metal aniquilador à Portugal novamente de forma vigorosa.
Os pontos mais impactantes da apresentação, que começou um bocadinho depois das 19h00 programadas, ocorreram aos sons de ‘Awakening of the Gods’ e ‘Flag of Hate’, as quais fizeram três rodas enormes se abrirem no meio do público em circle pits altamente ensandecidos.
O grupo está em tour no momento para divulgar o seu novíssimo álbum, ‘Hate Über Alles’, que foi lançado no dia 10 de junho deste ano. E a faixa-título foi a escolhida para apresentar o novo trabalho à malta metaleira, com muito boa aceitação por sinal.
Depois, foi a vez do Megadeth. Mustaine e sua trupe vieram brindar a todos os ávidos pelo virtuosismo do speed e do heavy metal. E o arranque contou com ‘Hangar 18’, que colocou o povo a se mover.
‘Dread and the Fugitive Mind’, ‘The Threat Is Real Play’ e ‘Angry Again’ deram andamento a todo vapor e os mantiveram conectados à plateia de maneira incessante.
Havia ainda projeções com representações gráficas relacionadas à temática dos sons, criando uma envolvência absolutamente contagiante.
Ao fim de ‘Dystopia’, o renomado guitarrista brasileiro, Kiko Loureiro, foi aclamado pelo público. Aos gritos de “Kiko, Kiko, Kiko” uma longa salva de palmas veio com o devido reconhecimento pela tecnicidade louvável de Loureiro em seus solos primorosos!
No entanto, a faixa que mais mexeu com os assíduos seguidores dos Megadeth foi mesmo ‘Symphony of Destruction’ (do álbum ‘Countdown to Extinction’ de 1992).
O vocalista e guitarrista, Dave Mustaine, olhou de um lado a outro, respirou fundo, aproximou-se do microfone e disse: “eu não quero ir embora!”. Porém, ele já havia ressaltado um pouco antes que estará de volta muito em breve; tendo em vista que no dia 2 de setembro deste ano vai sair ‘The Sick, the Dying… and the Dead!’ (o tão aguardado décimo sexto álbum de estúdio da banda).
A derradeira foi a famigerada ‘Holy Wars… The Punishment Due’ (do início dos 90) que, claro, teve um gostinho bom de ‘até já’!
Aí veio o momento de aguardar a montagem da imponente estrutura de palco dos franceses do Gojira. E após 17 minutos de atraso (das 23h estabelecidas no cronograma do evento), foi a vez da espera acabar e finalmente podermos ouvir as harmônicas de guitarra em meio ao rufar da caixa na introdução de ‘Born for One Thing’ (que também abre ‘Fortitude’, o mais recente álbum deles, de abril do ano passado).
Sem tempo para assimilar direito a arrancada repleta de energia nesse retorno às atuações ao vivo de Joe Duplantier (nos vocais e na guitarra base), Mario Duplantier (na bateria) Christian Andreu (na guitarra lead) e Jean-Michel Labadie (no baixo), a pesada e poderosíssima ‘Space Time’ veio praticamente adjunta à intro.
Só então que Joe saudou os seus espectadores dizendo: “é disto que se trata, muito obrigado por nos receberem. O próximo tema é chamado ‘Backbone’!”
A seguir presentearam-nos com as magníficas ‘Stranded’, ‘Flying Whales’ e ‘The Cell’. E aí o frontman tentou falar um bocadinho de português: “queres mais chá?” (foi o que saiu, com muito custo, com a clara intenção de ter dito “querem mais uma?” ou “já querem mais?”). Só que muitos aplaudiram o esforço na mesma.
Ele então voltou ‘a chave’ para inglês e perguntou se queríamos ouvir mais um tema velho, do primeiro álbum (Terra Incognita, de 2001). Obviamente um uníssono geral de “yeah” foi respondido de prontidão. Assim, ‘Love / Remembrance’ foi iniciada em meio à euforia toda.
Seguida por ‘Hold On’, ‘Grind’ e ‘Silvera’ a performance continuou infalível.
Ainda houve tempo também para ‘Another World’ (que teve a sua animação do videoclipe oficial reproduzida no telão, posicionado atrás dos músicos), além da emblemática ‘L’enfant sauvage’, da mais nova ‘The Chant’ e, por fim, da emocionante ‘The Gift of Guilt’.
Esse segmento fez com que o público clamasse por mais. E aos gritos de “Gojira”, o encore surgiu com as aguardadíssimas ‘New Found’ e ‘Amazonia’ (ambas constam no álbum ‘Fortitude’, o mais recente do grupo). Sendo que essa última traz a temática das queimadas criminosas ocorridas na região amazônica brasileira.
O ano de 2021 foi o terceiro ano com o pior índice de queimadas registradas no Amazonas, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe). Entre janeiro e novembro do ano passado, para se ter uma ideia, mais de 14 mil focos de incêndio foram registrados.
Em junho, mês passado deste ano, o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira foram assassinados, esquartejados, queimados e tiveram as partes dos seus corpos enterrados na mata.
A segunda maior terra indígena do país, o Vale do Javari, tem sido um local de matança de indígenas para o avanço ilícito do garimpo.
Infelizmente, não só a floresta está a arder, mas todos os que se dispõem em defesa dos povos originários do território hoje conhecido como Brasil.
E os integrantes do Gojira sabem da importância iminente que temos ao nos assegurarmos de que ‘o pulmão do mundo’ continue a propiciar-nos uma Terra que possamos habitar.
Força, Gojira!
Fotos por Stefani Costa