Depois do sucesso da edição 2022 do Rock in Rio Lisboa, Roberta Medina, vice-presidente executiva do festival, fez uma breve avaliação sobre o passado e o futuro de um dos maiores eventos de música do planeta.
Ainda na expectativa para o regresso do evento no Rio de Janeiro – que se encerrou no último domingo (11/09) – a empresária fez questão de conversar com a jornalista Stefani Costa e lembrar que o Rock in Rio já nasceu plural e diverso.
“Se você olhar, o festival já tinha os grandes nomes do rock, do heavy metal e do pop. Sempre tivemos a presença da MPB e do Jazz. Desde o início, a nossa proposta sempre foi a de levar o trabalho de músicos importantes no cenário mundial ao grande público, provando que era – e continua sendo – possível juntar pessoas de raça e credos diferentes no mesmo lugar em uma fase na qual o Brasil estava saindo de uma ditadura militar”, explica Roberta.
Com 37 anos de história, o Rock in Rio acabou tornando-se um evento que vai além da música. Com um olhar mais voltado ao mercado e a indústria fonográfica, Roberta não esconde que, mesmo com o prestígio e o respeito que a marca conquistou pelo mundo, nem sempre é possível agradar a todos.
“Tem anos que a gente consegue mais, e tem aqueles que conseguimos menos. Tem dia que vai ter grandes nomes do heavy metal, e tem dia que não teremos, e na verdade sempre foi assim. O que mudou de fato é a característica da indústria. Porque quando o RiR começou, o show era uma coisa esporádica e pontual. Hoje, os concertos acabaram se tornando a verdadeira fonte de financiamento dos artistas”, pontua.
Na visão da empresária, as bandas estão cada vez mais se comportando como pequenas empresas, deixando de lado aquela ideia de que uma turnê é algo eventual ou um momento de pura diversão ou realização pessoal. Segundo Roberta, os artistas estão se profissionalizando cada vez mais e quem organiza grandes eventos está percebendo isso.
“As bandas e artistas como um todo estão se profissionalizando porque não dá mais para ficar fazendo ‘gracinha’ quando você tem show dia sim e dia não, né? As turnês atualmente são muito intensas e é óbvio que isso abre espaço para o mercado publicitário, já que não dá para pegar a estrada todo ano. Então, os artistas precisam trabalhar outras fontes de receita e a publicidade acaba sendo uma das alternativas”, complementa.
Sobre as mudanças na indústria fonográfica e do universo digital do século XXI, Roberta Medina acredita que muitas coisas precisam evoluir e que o maior desafio está ligado ao hábito do consumo de cultura como um todo. “O consumo gratuito não faz o menor sentido, pois há muita gente trabalhando por trás da produção desses conteúdos. Porém, muitas pessoas não se dão conta disso e acabam se habituando. Eu acho que ainda tem aqui uma evolução necessária a ser feita, porque é um assunto sobre valorização. Quando o consumidor não valoriza, não paga o que quer que seja, ele não dá valor à cultura como um todo. Não é só aquele produto que ele está desvalorizando. Agora, durante a pandemia, a gente viu pouquíssimos investimentos para proteger a cultura de alguma forma, não é? A indústria da cultura é reflexo do consumidor, da sua reação, porque os governos vão sempre atrás do que é importante para o público.”, afirma.
E falando sobre governos e mudanças de conjunturas, a vice-presidente do Rock in Rio fez questão de enfatizar que se considera uma pessoa “nada política”.
“Eu não estou nem aí para um ou para outro. Eu torço por quem está no comando. Se foi eleito, bicho, é para dar certo. Eu acho que a existência da Lei Rouanet no passado (que é a grande polêmica do momento), não quer dizer cuidar bem da cultura. O Brasil nunca teve um tratamento da cultura a sério. Não teve e não tem. O que é proteger a cultura do Brasil? É a Lei Rouanet? O que a gente quer fazer por ela? Qual o papel da cultura na sociedade brasileira? Alguém discute isso?”, questiona Roberta.
A respeito das eleições de outubro no Brasil, Roberta Medina acredita que mudar o comando do poder executivo não significará uma grande transformação na valorização de quem vive da Cultura no país.
“Eu acho que vai ficar igual como sempre foi, porque, quem está do outro lado, está defendendo o que é do passado. E o passado também não defendia a cultura. Eu acredito que a gente continua em lugar nenhum. Mas, vamos torcer para que as coisas melhorem. Nós vamos continuar apoiando quem tem talento e visão. A Anitta, por exemplo, é a prova do crescimento do talento nacional pelo mundo e é nisso que a gente quer apostar, independente de posições políticas”, finaliza.