O tradicional clube da Barra Funda ficou pequeno durante a apresentação do estadunidense, que destacou um repertório fantástico, incluindo faixas de todos os seus lançamentos e covers. Confira:
Sem fogos de artifício, queda de cortinas e explosões de efeitos visuais, o show do estadunidense Shawn James na Fabrique, no último sábado (15), começou de maneira modesta, com direito ao próprio músico arrumando os instrumentos no palco e afinando seu violão. Após configurar todos os detalhes de seu ‘setup’, ele observou o clube completamente abarrotado e aproveitou para comentar: ‘Esse é o maior show que já toquei na vida! Agradeço a todos que compareceram’. Como resultado, acabou recebendo uma salva de palmas da plateia e iniciou o set com a música ‘Flow‘, com o clima de ‘evento ganho’.
O rapaz não precisava fazer mais nada para manter o respeito de seus fãs brasileiros. No entanto, um dos maiores representantes do ‘Dark Country’ (uma mistura de ‘música de viola raiz norte-americana com letras melancólicas e profundas’) tudo de si, entregando toda a potência de sua voz, que ecoou de forma estrondosa no pequeno espaço em uma apresentação que durou mais de 1 hora e 30 minutos.
Shawn não se contentou em apenas executar suas músicas com competência exímia. Ao longo do set, fez questão de se comunicar bastante com os fãs brasileiros, misturando um clima íntimo de ‘apresentação de pub’ com uma atmosfera de espetáculo sediado em um estádio de futebol gigantesco. Sem receios, o cantor comentou sobre como certas experiências que passou ao longo da vida influenciaram em sua maneira de compor, como o câncer enfrentado por sua irmã durante sua infância, a despedida de um de seus melhores amigos para servir em um trabalho militar no Afeganistão e as vivências frustradas que encarrou logo no início da carreira, quando algumas pessoas próximas falaram que ele deveria desistir da vida artística, pois não tinha vocação para ser um músico profissional.
As demonstrações de que é um ‘músico do povo’ não se limitaram a declarações abertas sobre sua vida pessoal, como se estivesse na mesa de um bar conversando com um amigo próximo. Diversas vezes, Shawn fez questão de incluir os fãs em sua própria apresentação, como em um momento em que quebrou algumas cordas de seu violão, mas não interrompeu o show e foi ao público para cantar uma versão ‘à capella‘, apenas batendo palmas e deixando os presentes na pista assumirem a letra da música.
A ‘estrela da noite’ também não se incomodou em autografar violões no meio do set, quando seus seguidores começaram a enviar objetos pessoais ao palco. Além disso, em uma pausa durante o repertório, perguntou qual música a galera gostaria de ouvir, e acabou atendendo um pedido de ‘Like a Stone’, um dos principais sucessos do Audioslave.
Para ‘encorpar’ canções como ‘Burn The Witch’, ‘There It Is’, ‘The Curse Of Fold’, ‘Haunted’ e o megahit ‘Through The Valley’, responsável por elevar a popularidade do compositor devido à presença na trilha sonora do game ‘The Last Of Us’, Shawn trouxe músicos virtuosos que enriqueceram a experiência geral. Vale destacar a performance do violinista, que, ao executar passagens em modelo elétrico do instrumento, acabou trazendo um certo ‘toque’ de inovação.
Ao vivo, suas músicas despertaram sentimentos mistos. Algumas faixas tinham certos elementos folclóricos que despertavam reflexão e curiosidade, enquanto outras, com bases country e refrões ‘catchy/pop‘, causavam vontade de cantar a plenos pulmões, além de levantar questionamentos sobre o porquê daquelas canções não estarem tocando nas rádios.
Após um show relativamente tímido no ano passado, Shawn James voltou ao Brasil com força total. Foi impressionante vivenciar a capacidade do artista em remodelar completamente seu espetáculo em um período tão curto de tempo, e ainda atrair um número expressivamente maior de pessoas para conferir sua apresentação, demonstrando grande carisma, domínio dos fãs e presença de palco matadora.
Fotos
Texto por Guilherme Góes
Fotos por Tamires Lopes
