Após a triunfante estreia no Brasil em maio do ano ano passado, o festival MITA retornou à cidade de São Paulo nos dias 04 e 05 de junho, proporcionando um lineup diversificado que abrangeu uma ampla variedade musical, desde rap até emocore.
Na edição de 2023 do evento, as mulheres foram as grandes protagonistas. Desde as atrações principais até as secundárias, o empoderamento feminino dominou a cena, com artistas renomadas como Lana Del Rey, Florence The Machine, Haim, Sabrina Carpenter, Nina e as talentosas gêmeas Tasha & Tracie. Além disso, uma novidade marcante foi a forte presença da pauta ESG, com intérpretes de língua de sinais nos telões, copos reutilizáveis fornecidos pela marca de cerveja Heineken e o uso de energia limpa proveniente de usinas para alimentar os palcos principais e os estandes interativos.
– Festival no Vale do Anhangabaú?
Desta vez, a festa foi realizada no Novo Vale do Anhangabaú, o que gerou muitos comentários acalorados e dúvidas entre o público durante meses, já que o local enfrenta diversos problemas sociais, além de alta ocorrência de roubos e furtos.
No entanto, ao chegar à Praça Ramos de Azevedo, o público pôde perceber que o endereço central da capital paulista foi estrategicamente pensando para receber os espetáculos. O vale e as vias próximas foram cercados por estruturas de proteção e a segurança foi reforçada.
Em ambas as datas, o acesso ao público em geral foi liberado por volta das 11h. Durante o início do festival, os primeiros fãs tiveram a oportunidade de conferir expositores de marcas que patrocinavam o festival. Porém, a grande atração foi a oportunidade de tirar fotos com alguns dos principais pontos turísticos do centro histórico de São Paulo como plano de fundo, com destaque para o Edifício Santander (antigo Banespa), Mirante do Vale e Edifício Martinelli.
– Shows
No sábado, o palco Deezer foi aberto pela talentosa cantora carioca N.I.N.A. Com uma fusão de trap e funk, letras provocativas com teor sexual e um grupo competente de bailarinas que apresentavam desde passos simples de twerk até movimentos sincronizados mais complexos, ela conseguiu aquecer a pista e arrancar aplausos do público. As faixas ‘Poesia Acústica #13’ (que conta com a participação de outros rappers do Rio de Janeiro, como Xamã e MC Cabelinho) e ‘Matemática‘ receberam uma recepção calorosa dos presentes, com dezenas de pessoas cantando junto com a artista. Antes de deixar o palco, N.I.N.A comentou que começou sua carreira na música há sete anos e que participar de um grande festival tinha um significado especial em sua trajetória.
Em seguida, no palco Deezer, veio o primeiro show inédito do lineup do MITA 2023: o duo ÀVUÀ, com participação do compositor/vocalista solo Rodrigo Alarcon. Ao longo do set, a diversidade de instrumentos que caracterizam o som do projeto idealizado por Bruna Black e Jota.pê alterou algumas das principais músicas de Rodrigo, como ‘Frágil Coração‘, ‘Piquete‘, ‘Onde Mora Deus’ e ’15b‘, adicionando passagens de samba, reggae e bossa nova em composições originalmente criadas sob bases pop. Além disso, a dupla também brilhou com os singles ‘Comum‘ e ‘Girassol‘, com a frontwoman Bruna comandando a plateia com uma dancinha que se tornou popular na rede social TikTok™.
Após esse encontro “Good Vibes” entre dois nomes populares do cenário alternativo nacional, a vocalista francesa Jehnny Beth abriu os trabalhos no Palco Centro, o principal cenário do MITA 2023, com seu indie rock obscuro e visual ousado com roupas de lycra marcantes. Como esperado, a ex-frontwoman do Savages apresentou quase na íntegra seu aclamado álbum de estreia To Love Is to Live, lançado em 2020, destacando faixas como ‘We Will Sin Together’ e ‘Heroine‘.
Em um gesto que incorporou o espírito do underground em um festival mainstream, Jehnny foi até a plateia e entregou o microfone aos fãs durante a performance de ‘Flower‘. Ela mencionou que esteve no Brasil com sua antiga banda, relembrando as boas lembranças da turnê pelo país em 2014. Para agradar o público brasileiro, ela mandou um cover de ‘Closer’ (Nine Inch Nails) e apresentou em primeira mão dois singles inéditos: ‘New World‘ e ‘More Adrenaline‘ – Nesta ocasião, Jehnny dividiu a plateia em dois lados e organizou uma competição para ver qual lado cantava mais alto, resultando em uma cena marcante. Com alta interação com o público, músicas emblemáticas e uma postura de palco poderosa, o show de Jehnny Beth só não foi mais perfeito porque não aconteceu durante a noite.
De volta ao Palco Deezer, Duda Beat, uma das principais estrelas da música brasileira atual, brilhou intensamente durante seu espetáculo. Após uma emocionante introdução com ‘Tu e Eu’, a talentosa artista pernambucana declarou que falaria pouco e cantaria muito, pois seu tempo de apresentação era limitado. Em seguida, uma sequência de hits consagrados da música nacional em 2020 encheu o palco, como ‘Parece Pouco’, ‘Nem Um Pouquinho’, ‘Meu Pisêro’, ‘Bixinho’ e ‘Tocar Você‘ – infelizmente, essa última teve que ser cortada devido ao tempo excedido da apresentação. Entre as surpresas, vale destacar a participação especial de Felipe Veloso no contrabaixo em ‘Bolo de Rolo’, os impressionantes efeitos especiais durante a cover de ‘Tangerina’, originalmente gravada por Tiago Iorc, e ‘Chapadinha’, uma releitura de ‘High On The Beach’ de Lana Del Rey.
Apesar da excelente produção e do talento impecável de Duda e sua equipe de bailarinas, o show acabou sendo um tanto repetitivo, lembrando suas últimas apresentações. No entanto, esse fato pode ser perdoado, considerando que a musa nordestina está atualmente envolvida na gravação de seu novo álbum e esteve ausente dos palcos nos últimos meses.
O BadBadNotGood proporcionou uma das experiências mais psicodélicas de todo o MITA Festival. Além da sonoridade exótica que mescla jazz, rock e instrumentais, bastante diferente das outras atrações do lineup, os talentosos canadenses também trouxeram ao palco um projeto visual envolvente, exibindo cenas em rolos de fotografias de metrópoles como Tóquio e Nova Iorque em um telão principal no Palco Centro. Sem dúvida, a banda não estava buscando apenas agradar seus fãs mais fiéis, mas aproveitou o MITA Festival como uma oportunidade de conquistar novos seguidores.
Seguindo com as apresentações especiais planejadas exclusivamente para o MITA, foi a vez do set especial dos rappers Djonga e BK’. Ao contrário do show do ÀVUÀ com Rodrigo Alarcon, onde rolou uma espécie de mashup, cada músico se apresentou separadamente, com apenas algumas colaborações próximas ao final do show. Djonga começou com suas músicas impactantes, com letras sobre violência policial, criminalidade e discriminação, que foram cantadas em alto e bom som por centenas de pessoas que se aglomeraram próximo à grade de proteção. Além de uma performance matadora e enérgica, pulando de um lado para o outro do palco, o mineiro também deu espaço para que os fãs participassem do show. Em ‘Leal’, ele convidou casais de diferentes orientações sexuais presentes na plateia para subirem ao palco, afirmando: “Aqui, todas as formas de amor são permitidas”. Em seguida, surgiu BK’, com rimas mais acessíveis, porém igualmente poderosas e envolventes. No final, a dupla se uniu para tocar ‘Continuação de um sonho’ e ‘Olho de Tigre‘, dois hinos do rap atual, resultando em uma onda de centenas de pessoas pulando em sintonia.
Representando a música eletrônica, o DJ australiano Flume assumiu a responsabilidade de aquecer a pista do Palco Centro antes da apresentação principal de Lana Del Rey. Com uma proposta mais visual e interativa, o show do músico contou com efeitos especiais impressionantes, especialmente nos telões de LED. Para acompanhá-lo nas pick-ups, as cantoras Kučka e Vera Blue apareceram em momentos estratégicos, adicionando suas vozes às composições instrumentais. Infelizmente, devido à ansiedade pela atração principal, o show de Flume acabou passando um pouco despercebido. Certamente, ele foi uma das atrações mais subestimadas de todo o MITA Festival.
Após o encerramento do show do Natiruts no Palco Deezer, ocorreram algumas falhas na estrutura do Novo Anhangabaú. Próximo à apresentação de Lana Del Rey, o público se dirigiu à pista premium, causando certo congestionamento e impedindo que centenas de fãs e profissionais de imprensa chegassem ao local (incluindo este repórter que vos escreve). Não teve jeito: uma parcela considerável teve que assistir ao show pelos telões e do lado de fora da área mais próxima ao palco.
Além dos problemas com a multidão, a artista subiu ao palco com quase 50 minutos de atraso, o que deixou muitas pessoas irritadas. Lana também enfrentou algumas dificuldades em seu retorno, o que acabou frustrando a experiência geral.
No entanto, à medida que o show avançava, Lana foi gradualmente contornando a situação. Ela demonstrou uma enorme preocupação em reconquistar a devoção dos fãs brasileiros após cinco anos desde sua última visita ao país. Em vários momentos, emocionou-se ao ver o público cantando suas músicas e expressou o quanto aquilo significava para ela. Demonstrando gratidão, atendeu a pedidos das músicas ‘Get Free’ e ‘Cinnamon Girl’.
Apesar disso, o grande destaque foi a beleza e o capricho na decoração do cenário, com luzes deslumbrantes, efeitos encantadores nos telões, trocas de figurino e uma banda talentosa que dominava o público. Embora minha experiência com o show da Lana Del Rey tenha sido parcial, pude observar que a cantora consegue entregar um espetáculo fenomenal, digno de toda a expectativa criada em torno dele.
Quer saber como foi o segundo dia? Em breve, resenha aqui na Hedflow!
Fotos
Jehnny Beth
Duda Beat
BadBadNotGood
Djonga e BK’
Flume
Lana Del Rey
Texto por Guilherme Góes
Fotos: Tatiane Silvestroni (profissional credenciada pelo site MoodGate, que gentilmente compartilhou seu trabalho com a Hedflow).