Samba Makossa, um jeito de contar história através da música


A música tem o poder de transmitir uma variedade de mensagens e servir a diferentes propósitos. Ela pode ser utilizada como forma de meditação, para acompanhar exercícios físicos, em momentos de diversão, reflexão, protesto ou, simplesmente, como uma expressão de sentimentos. Compor uma letra é algo que desperta grande interesse, pois nos faz questionar o que o escritor quis nos contar.

Um exemplo disso é a famosa música ‘MMMBop’ dos irmãos Hanson, que marcou a década de 90. A música, com seus sons repetitivos e palavras aparentemente sem sentido, não possui um significado claro. No entanto, essa é apenas uma das possibilidades da canção, que também pode ser apreciada dessa forma.

Porém, existem letras que fornecem pistas sobre outras histórias, despertando nossa curiosidade. Alguns nomes são inseridos de maneira inteligente em uma melodia bem trabalhada e, sem pretensão, penetram em nossos ouvidos e se instalam em nossa memória. Inevitavelmente, nos perguntamos sobre o que o compositor está falando. Com um pouco de curiosidade, podemos fazer uma pesquisa e desvendar o mistério por trás das letras.

Um ótimo exemplo é a versão de ‘Samba Makossa’/Citação Trecho Incidental: Monólogo Ao Pé Do Ouvido’ interpretadas por Charlie Brown Jr. e Marcelo D2. Essas canções são de autoria de Chico Science & Nação Zumbi, do visionário disco Da Lama ao Caos, lançado em 1994.




Essa versão foi gravada em 2003, quase 10 anos depois do lançamento da banda de Recife. Já estávamos no novo milênio. Infelizmente, Chico Science faleceu em um acidente de carro no dia 2 de fevereiro de 1997, deixando dois discos gravados: Da Lama ao Caos e Afrociberdelia.

Na época, o grupo Nação Zumbi misturava elementos da música tradicional nordestina, especialmente do maracatu rural de Pernambuco, com rock, hip hop e punk. Esse movimento ficou conhecido como ‘Manguebeat’.

As canções de Chico Science abordavam temas sociais e eram influenciadas pelo rock, hip hop e cultura brasileira. Chico Science fazia referências ao cientista e professor Josué de Castro, autor do romance ‘Homens e Caranguejos‘, que foi utilizado por Chico para desenvolver o conceito do mangue. A temática política estava presente em suas letras, e Chico Science mencionava diversas personalidades, como Zapata, Sandino, Zumbi, Antônio Conselheiro, Panteras Negras e Lampião.

Acredito na importância de músicas com esse tipo de temática, seja para despertar a curiosidade em quem ouve, ou desenvolver o pensamento crítico e a consciência social. A frase célebre de Edmund Burke merece seu espaço aqui: “Um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la.



Foto: Maria F. Moreno – Acervo Paulo André via Wikimedia Commons


Antônio Conselheiro foi um líder nordestino que ganhou destaque durante a Guerra de Canudos no final do século XIX. Ele denunciava as injustiças sofridas pelo povo do sertão baiano em meio à transição da monarquia para a república no Brasil. Os mais pobres enfrentavam condições precárias de vida, enquanto os latifundiários controlavam tudo. Antônio Conselheiro liderou uma revolta em busca de melhores condições de vida para seu povo, e a guerra recebeu esse nome devido ao povoado de Canudos. O exército brasileiro foi enviado para acabar com o movimento, considerado rebelde pelas forças autoritárias da Bahia e do Governo Federal. Antônio Conselheiro foi morto em 22 de setembro de 1897, e sua cabeça foi levada para a Faculdade de Medicina de Salvador para estudos.

Emiliano Zapata foi um herói mexicano que liderou a Revolução Mexicana em 1910. Ele lutava contra a concentração de terras nas mãos dos latifundiários e buscava melhores condições de vida para os camponeses. Zapata é conhecido pela frase “A terra pertence àqueles que trabalham com as mãos”. Ele foi morto em uma emboscada em 10 de abril de 1919.

Augusto César Sandino foi um revolucionário nicaraguense que liderou uma rebelião contra a presença militar dos Estados Unidos na Nicarágua entre 1927 e 1933. Ele lutava pela melhoria das condições sociais dos trabalhadores nicaraguenses, que viviam em condições semiescravas. Foi chamado de ‘O General dos Homens Livres’. Sandino foi assassinado em 21 de fevereiro de 1934 por uma operação comandada por Anastasio Somoza García, um futuro ditador do país.

Zumbi dos Palmares foi um dos líderes do Quilombo dos Palmares, que resistiu aos ataques portugueses no século XVII. Palmares era um refúgio para pessoas escravizadas que fugiam dos engenhos em Pernambuco. Zumbi não concordou com um acordo que foi firmado entre Ganga Zumba, outro líder do quilombo, e as autoridades portuguesas. O acordo garantia a paz se os escravos fugitivos fossem devolvidos, mantendo apenas os nascidos livres em liberdade. Zumbi acreditava que a liberdade deveria ser para todos do quilombo. Ganga Zumba foi morto e Zumbi assumiu a liderança principal, resistindo por muitos anos até ser morto em 20 de novembro de 1695. Sua cabeça foi exposta em Recife.

Os Panteras Negras surgiram nos Estados Unidos na década de 1960 como uma forma de combater a violência policial contra pessoas negras. O grupo inicialmente se organizou como uma força de autodefesa, mas posteriormente se tornou um partido político. Os Panteras Negras acreditavam na autogestão social e defendiam projetos sociais para atender às necessidades das comunidades mais pobres. O grupo foi reprimido pelo governo dos EUA e perdeu força na década de 1980.

Lampião, cujo nome verdadeiro era Virgulino Ferreira da Silva, foi um dos líderes do cangaço no Nordeste brasileiro. Ele era visto como bandido por alguns e herói por muitos outros. Lampião jurou vingança contra aqueles que prejudicaram sua família, principalmente após seu pai ser assassinado. O cangaço era uma resposta à opressão dos coronéis na região. Lampião liderou expedições por todo o Nordeste até ser morto em uma emboscada, levando três tiros. Sua cabeça foi decapitada e exposta em diferentes lugares como prova de sua morte, marcando o fim do cangaço na região.

Claro que essa é só uma das muitas formas de experimentar a música. Mas caso você goste do tema, e queira saber um pouco mais sobre a história, existem muitas outras canções quem podem te guiar por esse caminho.

Ou talvez, quem sabe, sirva como um singelo convite para ouvir Nação Zumbi.




Foto em destaque por Fred Jordão

Samba Makossa, um jeito de contar história através da música

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- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladaninelo @daniescreve / Twitter: @danislelas