Ativista pede investigação sobre provável morte de trabalhador em montagem de palco do The Town


Paulo Escobar, ativista e mestrando reconhecido por seu trabalho com pessoas em situação de vulnerabilidade social, compartilhou uma publicação em parceria com o Padre Júlio Lancellotti, revelando uma provável morte devido a falta de cuidado com um trabalhador envolvido na montagem do festival The Town.

O evento, organizado pelos mesmos idealizadores do Rock in Rio, está programado para ocorrer no início de setembro no Autódromo de Interlagos.

“A denúncia que trazemos à tona é de extrema gravidade e exige uma investigação minuciosa. Conforme relatos fornecidos por moradores em situação de rua que estavam contribuindo com a montagem desse grande evento, os acontecimentos teriam ocorrido na semana do dia 26/07. Esses relatos foram compartilhados nesta manhã, após nossa refeição matinal”, ressalta a postagem no link abaixo:




Segundo o texto, moradores em situação de rua afirmam que o jovem trabalhador resgatado veio a falecer no hospital uma semana depois. Essas pessoas também indicam que o valor ofertado para trabalhar nas montagens das estruturas do The Town é de 55 reais para turnos de 8 horas e 70 reais para jornadas de 12 horas sem qualquer tipo Equipamento de Proteção Individual (EPI), algo obrigatório para quem exerce esse tipo de função.

Nas redes sociais diversos usuários também expressaram comentários de revolta com o episódio. Um seguidor do sociólogo comentou: “É urgente que investiguem esses eventos. Conheço pessoas que trabalharam neles e receberam comida estragada, resultando em uma internação na UTI devido a uma infecção intestinal. A falta de apoio é evidente, e em muitos casos nem mesmo as diárias são pagas, é um verdadeiro descaso. Eles se aproveitam das pessoas em situação vulnerável, sabendo que muitas delas não irão atrás de seus direitos por desconhecimento”.

Outra usuária da plataforma acrescentou: “A prática sistemática de recrutar indivíduos em situação de vulnerabilidade para trabalhar em eventos, oferecendo diárias irrisórias e sem assistência financeira, deve ser rigorosamente investigada e interrompida!”.

Abusos recorrentes

Não é a primeira vez que festivais de música são expostos por trabalho escravo no Brasil envolvendo pessoas em situação de vulnerabilidade.

Uma reportagem especial feita pelo jornalista do portal UOL, Leonardo Sakamoto, lista alguns dos eventos acusados de submeterem trabalhadores em condições degradantes por meio de abordagens com falsas promessas de condições dignas dentro dos perímetros das leis trabalhistas.

Logo no início do texto, o jornalista fala sobre o caso dos 5 trabalhadores flagrados em condições análogas à escravidão neste ano no Lollapalooza, em São Paulo. Essas pessoas foram “contratadas” para carregarem bebidas no recinto durante o evento. Sakamoto também volta no tempo e relembra o caso dos 93 trabalhadores resgatados na edição de 2013 do Rock in Rio praticando o mesmo tipo de serviço em condições precárias.

Na semana passada, a jornalista Stefani Costa publicou uma denúncia no Blog do Vicente, no jornal Correio Braziliense (repercutida também na Hedflow), de trabalhadores contratados por uma empresa que ofertava vagas em condições análogas à escravidão em um evento no Parque Tejo durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, Portugal.

50 milhões de pessoas vítimas de trabalho escravo

Entende-se como trabalho análogo à escravidão qualquer situação de serviço prestado em que o empregador não oferece condições dignas de trabalho, deixando o funcionário em uma situação humilhante e com horários muito longos. São quatro as categorias para a definição de trabalho escravo, que podem ser aplicadas de forma mútua ou isolada: condições degradantes, trabalho forçado, jornada exaustiva ou servidão por dívida.

A última estimativa divulgada em setembro de 2022 pela Organização das Nações Unidas (ONU) revela que 50 milhões de pessoas são vítimas da “escravidão moderna” no mundo, sendo que 86% dos casos de trabalho forçado ocorrem no setor privado.

Em situações de exploração sexual comercial forçada, a taxa é de 23% e atinge quatro em cada cinco mulheres e/ou meninas.

Já o trabalho forçado imposto pelo Estado representa 14% dos casos. Pelo menos uma em cada oito pessoas que realizam trabalhos análogos à escravidão é criança (3,3 milhões).

Ativista pede investigação sobre provável morte de trabalhador em montagem de palco do The Town

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- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.