Black Flag revisa clássicos e interpreta My War na íntegra em São Paulo


Em março de 2020, a icônica banda estadunidense Black Flag participou de um dos momentos mais marcantes da história do underground de São Paulo. Na época, o lendário nome do hardcore/punk rock acabou sendo um dos últimos conjuntos internacionais a se apresentar na cidade antes da imposição de um lockdown generalizado, medida que foi utilizada para conter a disseminação da COVID-19.

Quase 3 anos após o evento, com a pandemia controlada, mas com um sentimento persistente de indignação e revolta pairando sobre centenas de pessoas devido à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (responsável direto pela perda de milhares de vidas por conta de suas políticas negacionistas, a banda retornou ao Carioca Club na última sexta-feira (27), mesmo local que sediou a gig anterior, e ofereceu aos fãs a oportunidade de canalizar novamente todo sentimento de raiva, desta vez com um set especial em comemoração aos 40 anos do álbum My War, que é reconhecido como um dos trabalhos mais inovadores do rock por combinar a agressividade do hardcore com influências do doom e heavy metal.

A abertura ficou por conta de outro nome igualmente emblemático: Garotos Podres, ícones do punk rock da região do ABC Paulista. Pontualmente, às 20 horas, o quarteto liderado por Mao, com uma trajetória contínua desde os anos 80, fez sua entrada no palco.

Entre as músicas, o vocalista destacou explicações detalhadas acerca de suas composições, transformando o evento em uma espécie de aula de história, que explorava as persistentes batalhas de classes, com um foco especial nas lutas em prol da causa operária. Destacaram-se canções como ‘Avante, Camarada’, ‘Subúrbio Operário’, ‘Anarkia Oi!’, ‘Aos fuzilados da CSN’ e ‘Garoto podre’, todas acompanhadas com entusiasmo pelo público.




Com a casa completamente lotada, contrariando as expectativas negativas de uma bilheteria fraca que haviam surgido ao longo da semana, Greg Ginn (guitarrista, membro fundador e o único remanescente da formação original), Mike Vallely (vocal), Harley Duggan (baixo) e Charles Wiley (bateria) subiram ao palco pontualmente às 21h06, quatro minutos antes do horário oficial, sob os sinistros riffs que caracterizam a introdução de ‘My War’, a faixa que dá nome ao icônico álbum que revolucionou o punk.

Em seguida, a banda executou o material na íntegra, com destaques notáveis para as interpretações de ‘Can’t Decide’, ‘I Love You’ e ‘Forever Time’, que contam com bases instrumentais estendidas, proporcionando ao público a chance ímpar de conferir Greg demonstrando seu talento excepcional na guitarra, notavelmente através da técnica shred. Além disso, Charles também brilhou em ‘Scream‘, quando executou com maestria a introdução de contrabaixo da música. Durante esse momento, parte da plateia se entregou a stage dives e moshpits, enquanto outros preferiram simplesmente observar atentamente, absorvendo a atmosfera densa e envolvente que permeia as composições do disco.




Após uma pausa de cerca de 15 minutos, a banda voltou ao palco e deu início à sessão de seus clássicos mais icônicos. Infelizmente, um incidente marcou o início desse bloco, quando um fã caiu do palco durante a execução de ‘Nervous Breakdown’. Logo após, quando o quarteto recomeçou a música, Mike Vallely protagonizou uma cena chocante ao expulsar um fã que estava dançando no palco enquanto gravava a cena com seu celular.




Depois da confusão inicial, o grupo levou o público a loucura com uma sequência ininterrupta de alguns dos maiores clássicos do hardcore mundial, incluindo ‘Fix Me’, ‘Wasted’, ‘Gimme Gimme Gimme’, ‘Six Pack’, ‘Rise Above’ e ‘TV Party’. Esta última contou com uma ‘atualização’ em sua composição original, incorporando nomes de séries contemporâneas, como ‘Stranger Things’, ‘Beef’ e ‘Squid Game’.

Durante essa parte do set, o grande destaque da apresentação foi Mike Vallely, que entregou uma performance feroz, evocando a intensidade de palco de Henry Rollins durante a era ‘Damaged‘. Assim como em 2020, o setlist foi encerrado com um cover de ‘Louie Louie‘, de Richard Berry.




Mais uma vez, o show apresentou deficiências na interação com os integrantes raramente dirigindo a palavra aos fãs. Além disso, a atitude do frontman em relação aos seguidores que desejavam saltar do palco, foi excessivamente rigorosa em alguns momentos, quase chegando ao extremo. No entanto, a banda ainda conseguiu entregar uma performance competente.

Mike e Greg formam uma dupla talentosa que faz jus ao legado do Black Flag.

Black Flag e Garotos Podres




Setlist

My War
Can’t Decide
Beat My Head Against the Wall
I Love You
Forever Time
The Swinging Man
Nothing Left Inside
Three Nights
Scream
Greatest Hits
Nervous Breakdown
Fix Me
I’ve Had It
Wasted
Jealous Again
No Values
Black Coffee
Gimme Gimme Gimme
Six Pack
Depression
In My Head
Room 13
Revenge
TV Party
Rise Above
Louie Louie (Richard Berry cover)

Black Flag revisa clássicos e interpreta My War na íntegra em São Paulo

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- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.