O meu 25 de Abril este ano não se traduziu em manifestações na rua, como felizmente ainda é hábito e liberdade dos portugueses. No entanto, em minha ida nesse dia ao SWR Barroselas Metalfest, não deixei de refletir em tantas coisas que seriam impossíveis neste lugar, neste evento, se o 25 de Abril não se tivesse concretizado.
Se tratando de um festival de metal underground e extremo, dificilmente esses géneros musicais (que por lá passaram durante esses dias) seriam permitidos publicamente sem tal acontecimento. A não ser que fosse em alguma clandestinidade, eventualmente, assim como as bandas portuguesas que nos palcos actuaram, provavelmente não existiriam sem as portas abertas na revolução de Abril.
O acto de eu, mulher, estar a participar neste festival tanto como público como repórter fotográfica, de certeza não teria acontecido sem a liberdade conquistada em Abril. Aliás, foi com grande gosto que vi várias mulheres como eu, sozinhas ou acompanhadas a fazerem reportagem, a dançarem, a cantarem, enfim, a serem livres. Dá o que pensar: como podem, alguns e algumas, desejar o retorno das sombras?
Sombras só se forem as advidas da música obscura e poderosa, como a que percorreu os dois palcos nesse dia. A ritmicidade sombria, que instiga, essa sim é sempre bem-vinda. Daí, a cada ano, a peregrinação habitual até Barroselas por grande parte dos metaleiros em Portugal. Nem a chuva nem ideais fascistas de outrora puderam atrapalhar a celebração do peso que imperou nesta pequena aldeia durante quatro dias muito intensos. Deixo aqui uma pequena amostra de mais uma edição deste que é dos mais antigos festivais de Portugal, por onde passaram bandas míticas como Cancer e Terrorizer ou ainda os nacionais Redemptus, que nos fizeram ‘voar’, ou os Toxikull, que nos levaram à magnífica década de hair metal dos anos 80. Além dos LIK, esses acabaram mesmo ‘partindo a louça toda’!
Texto e fotos: Helena Granjo
