Denise Fraga estrela peça Eu de Você em meio à dança das ausências

No sábado (1º de junho) assisti ao monólogo ‘Eu de Você‘, por Denise Fraga. A peça ficará em cartaz até o dia 30 de junho no Teatro Cuca, em São Paulo. A obra retornou aos palcos para substituir temporariamente ‘O Que Só Sabemos Juntos’, protagonizada também por Denise ao lado de Tony Ramos (que precisou se afastar para se recuperar de cirurgias de emergência). Ela contou em suas redes sociais que as peças são irmãs e quem tinha ingressos para assistir ‘O Que Só Sabemos Juntos’ poderia trocá-los para ver ‘Eu de Você’. Não foi o meu caso, mas tive a sorte de conseguir comprar um.

Antes de falar sobre a peça, gostaria de compartilhar uma memória: quando eu era criança, ganhei um livro chamado ‘Cadeira Vazia’. A capa tinha uma ilustração de uma cadeira vazia, e eu nunca quis ler esse livro porque sentia uma ausência muito forte toda vez que via aquela imagem. Pensava que, se o lesse, encontraria essa ausência. Nunca soube do que ele se tratava.

A primeira coisa que se vê no palco do Teatro Cuca é uma cadeira vazia, com um fundo totalmente branco. Isso, claro, me lembrou imediatamente desse livro que nunca li.

As ausências… Quando nos tornamos adultos, não há como escapar delas. E o que fazer com isso? Acho que a peça consegue nos mostrar alguns caminhos. O texto revela fragmentos de histórias compartilhadas por várias pessoas, e Denise dá vida a essas personagens reais. É fácil se reconhecer em diversos momentos e, mais fácil ainda, se emocionar. Tornar-se adulto é acompanhar o envelhecimento dos pais, é se permitir dizer adeus a um amor ruim – aqui, faço uso dessa expressão que aprendi lendo uma crônica de Clarice Lispector. Tornar-se adulto é ter a oportunidade de aprender a amar de uma forma diferente da que nos foi ensinada. Ser adulto é ter que lidar todos os dias com a nossa criança interior. Em meio a tanto sofrimento e a um mundo cada vez mais tecnológico, como manter o coração aquecido?

Sem revelar muito da experiência para quem ainda não viu a peça, logo no início, Fraga fala sobre a origem da frase na bandeira do Brasil, “Ordem e Progresso”. A frase original era: “Amor, Ordem e Progresso”. Tiraram o ‘amor’. Ela especula que em alguma reunião devem ter chegado ao consenso de que amor todo mundo tem. Mas, será mesmo que amor todo mundo tem? É a pergunta que ela faz e que abre a porta para todas as outras histórias contadas ao logo da performance. Entre amor, relações humanas, trabalho, luto, alegrias, medos, traumas e conquistas; a música sempre se faz presente. A música é o consolo da alma, é o que revigora, é o que traduz o que muitas vezes não conseguimos expressar, é com ela que dançamos. E como é dito nesse espetáculo, a música abre portas para a comunicação.

O interessante de sábado é que no último ato a atriz precisou da ajuda de alguém da plateia. Um rapaz subiu ao palco e deu a mão para que ela pudesse se levantar. Denise então perguntou o nome dele, que respondeu: “é Tony”.

Entre tantas coisas, ser adulto é lidar com a presença constante de ausências.


A peça estará em cartaz até o dia 30 de junho, Sexta às 21h00, Sábado às 20h00, Domingo às 17h00, no Teatro TUCA / PUC-SP – Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes, São Paulo – São Paulo.


Ingressos podem ser adquiridos através do link: https://bileto.sympla.com.br/event/94538/d/258659



Imagem destacada por Cacá Bernardes.

Denise Fraga estrela peça Eu de Você em meio à dança das ausências

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- Nascida nos anos 90 e apaixonada por música e escrita, é fã de Beatles e Rolling Stones. Acredita que escrever é como soltar pássaros de gaiolas. Instagram: @eladanimelo @daniescreve / X: @danislelas