Felipe Buarque do The Self-Escape fala à Hedflow sobre sua trajetória na música e ressalta sua raiz pernambucana

O projeto The Self-Escape, liderado pelo músico recifense Felipe Buarque, lançou no último mês de maio seu álbum de estreia, intitulado Save My Name, que está disponível nas plataformas de streaming. Composto por 12 faixas que combinam riffs de guitarra, sintetizadores e influências de artistas contemporâneos como Two Feet, alt-J e The Weeknd, o disco oferece uma fusão única de estilos. Nesta entrevista para a Hedflow, Felipe compartilha detalhes sobre o seu trabalho e a sua trajetória cultural:

Guilherme: Olá, Felipe! Obrigado por reservar um tempo para esta entrevista aqui na Hedflow. Para começar a nossa conversa, poderia falar um pouco sobre você e as suas primeiras experiências no mundo da música?

Felipe: E aí, Guilherme, tudo bom? Primeiramente, queria te agradecer pela resenha aqui na Hedflow. Foi minha primeira resenha da vida, do meu primeiro álbum, então guardo com muito carinho! Obrigado também por essa entrevista desde já.

Minhas primeiras experiências na música foram com o violão e a guitarra. Desde pequeno, eu sempre me senti muito atraído por esses instrumentos. Meu pai tinha um DVD de Eric Clapton, que ficava até meio encostado, mas eu assistia constantemente o riff principal de “Layla”, e sonhava em um dia conseguir tocar. Meu irmão também ouvia muito Red Hot Chili Peppers, e isso, unido à vontade de aprender a tocar, me motivou a começar. Logo migrei para a guitarra e, com um repertório majoritariamente de rock (mais especificamente de Red Hot haha), comecei a tocar com amigos e a formar bandas no colégio. Tudo acabou mudando um pouco quando fui morar nos Estados Unidos com 19 anos e comecei a cantar.

Guilherme: Ao ouvir o seu trabalho, é evidente que sua música tem uma sonoridade bem voltada para o pop. No entanto, imagino que você tenha diversas influências musicais. Quais são suas principais referências?

Felipe: Cara, minhas influências vão de Luiz Gonzaga à Polyphia (haha). Sempre gostei de pop e do que toca nas rádios, mas acredito que a guitarra sempre foi o denominador comum entre as minhas maiores influências. Comecei com Red Hot Chili Peppers, mas aos 18 anos, comecei a ouvir John Mayer e inevitavelmente a explorar o blues, ouvindo muito B.B. King, Stevie Ray Vaughan, Albert King, Hendrix e outros. Depois, busquei algo mais alternativo, mas sempre mantendo a guitarra presente.

Ainda nos Estados Unidos, passei a ouvir muito alt-J e virei um fanboy hardcore (ps.: até hoje). O álbum de estreia deles é um dos meus prediletos da vida. Junto com eles, vieram The XX, James Blake e Lana Del Rey. Essas influências “indies” e alternativas agregaram muito à minha música, de uma forma bem diferente do blues e do rock. Pois, mesmo não bandas de “rock”, alt-J ainda tem riffs marcantes, assim como The xx, e nos outros maneira mais sutil.

De uns tempos para cá, alguns artistas que posso dizer que influenciaram diretamente na gênese de The Self-Escape foram Two Feet, The Weeknd, alt-J e Lana Del Rey, que tem um toque alternativo mesmo ocupando bastante espaço no mainstream. Além disso, a guitarra parecia também estar em declínio, mas guitarristas como Mateus Asato, Tim Henson e Tosin Abasi trouxeram um frescor.

Em cima disso tudo, amo nossa música, especialmente de Luiz Gonzaga, Chico Buarque, Djavan e Chico Science e Nação Zumbi etc. Porém, como influências principais, que há anos uso como referência incansavelmente, teriam que ser alt-J, Two Feet, The Weeknd, John Mayer e Lana del Rey.

Guilherme: Você é um músico pernambucano, e o estado, assim como toda a região Nordeste, é conhecido por sua ampla variedade de estilos musicais. Como essa riqueza cultural influenciou o seu trabalho ao longo dos anos?

Felipe: Sendo pernambucano e vivendo no Nordeste, é impossível não crescer sendo bombardeado por músicas maravilhosas. São muitos mestres. Além de Luiz Gonzaga, Lenine, Geraldo Azevedo e Chico Science, aqui em Pernambuco, a Bahia com Caetano e Gil, a Paraíba com Zé Ramalho, e Alagoas como Djavan. Além disso, todos os estilos recifenses como frevo e principalmente o maracatu, me influenciam de uma maneira única muito particular. Quem já assistiu um maracatu ao vivo, sabe da sensação que estou falando. Quem não, recomendo bastante (haha).



Guilherme: Além disso, poderia comentar sobre as características que considera únicas em ser um músico alternativo no estado de Pernambuco?

Felipe: Falando um pouco mais especificamente sobre Recife, aqui tem uma cena alternativa muito diversa, com bandas como Bule, Guma e Kalouv, que têm algumas influências que vão do synthwave dos anos 80 à cumbia. Particularmente, a barreira da língua me deixa um pouco isolado estilisticamente, mas a efervescência cultural aqui permite um interesse constante pelo novo. Existem vários núcleos alternativos, o que, querendo ou não, criam uma grande cena alternativa.

Guilherme: Apesar de estar envolvido no cenário musical há algum tempo, o The Self-Escape surgiu apenas em 2018. O que o realmente o motivou a iniciar este projeto?

Felipe: Meados de 2016, ainda com 21 anos, decidi entrar de vez na minha carreira musical e começar a lançar as músicas que escrevia. Lancei algumas ainda em português, mais voltadas para o violão e uma sonoridade mais branda ou, na minha cabeça, mais “fácil de gostar”. Estava no meio da faculdade de engenharia na Federal daqui e decidi que, se fosse para largar a ideia de ser engenheiro e seguir a carreira artística, faria da forma mais fiel possível ao que eu acredito, e não a forma que eu achasse “mais fácil das outras pessoas gostarem”. Depois de lançar esse primeiro projeto em português ainda com algumas ressalvas na cabeça, decidi criar e me tornar algo inteiramente fiel às minhas convicções artísticas.

Guilherme: Igualmente, mesmo com mais de seis anos de atividade, você lançou o primeiro álbum completo apenas agora em 2024. Poderia explicar o motivo desta “demora”?

Felipe: Em 2018, quando comecei como The Self Escape, foi o mesmo tempo que também comecei a produzir. Eu já compunha, cantava e tocava, mas nunca tinha produzido nenhuma música. Usei essa nova identidade (The Self-Escape) como um grande experimento, produzindo r escrevendo em inglês e explorando esses novos timbres e formatos que tanto me interessavam. Nos primeiros anos, como a curva de aprendizado é muito acentuada, a cada poucos meses era como se eu me tornasse um novo artista.

Novos conhecimentos, muitos novos elementos explorados. Então nos primeiros 3/4 anos, me ative a projetos “menores”, como singles e EPs, que acabam sendo feitos num período de tempo mais curto e permitiram me representar artisticamente naqueles momentos. A sensação que eu tinha era como se, caso eu parasse um tempo mais longo para produzir um álbum, uma vez que eu terminasse as últimas músicas, tantas coisas novas teriam acontecido que artisticamente e tecnicamente a primeiras músicas iriam destoar, o que acabaria não dando forma a uma obra coesa.

Foi então que, no final de 2022, me senti seguro para iniciar a concepção do meu álbum e em 2023 ele foi criado. Muito disso não sei se foram só viagens da minha cabeça, mas hoje sou muito feliz com meu álbum estreia. Tenho bastante segurança que ele é exatamente o que quero passar artisticamente para as pessoas. Pelo menos por agora (haha).



Guilherme: Falando sobre o disco de estreia, o “Save My Name”, poderia contar um pouco sobre o processo de gravação do álbum?

Felipe: Por incrível que pareça (vou explicar mais sobre isso), a experiência de gravação do álbum foi maravilhosa. Até então sempre vinha gravando tudo sozinho e em casa, mas com o álbum tive a oportunidade de gravar também no Fábrica Estúdios, que é um grande estúdio daqui de Recife.

Dentro de todo o processo da criação das minhas músicas, em termos gerais, a gravação é a que me deixa mais nervoso. Sinto que é a parte mais “responsa”. É o que efetivamente vai ser ouvido pelo público, imortalizado por anos e anos. Mas tudo pareceu muito certo, as músicas certas, no tempo certo, com a cabeça certa. Creio que ter esperado esse tempo para produzir o álbum trouxe uma maturidade e tranquilidade que talvez não existissem nos meus primeiros anos de carreira.

Guilherme: Um dos destaques do disco é a participação de Pupilo (ex-Nação Zumbi) na faixa “Try Again”. Como surgiu a ideia dessa colaboração? E como foi a experiência de trabalhar com o músico?

Felipe: Trabalhar com um grande nome como o baterista fundador da Nação Zumbi foi uma honra enorme. Cresci ouvindo, e até hoje ouço o som da Nação que ele ajudou a criar.

Quando vimos a necessidade de ter uma bateria para a música “Try Again”, queríamos um ícone daqui para participar. Conseguimos contato com ele, mandamos uma pré, ele gostou bastante e prontamente aceitou gravar. Foi surreal ouvir um ícone da música pernambucana, e brasileira, tocando em uma das minhas músicas. Foi uma validação muito importante para mim como artista e recifense.

Guilherme: Outro single interessante de “Save My Name” é “Coming for Us”, que conta com um videoclipe belíssimo em animação. Quem foi o responsável por essa produção? Por que você optou por uma animação em vez de um clipe com atuação ao vivo?

Felipe: “Coming for Us” é uma música muito peculiar em vários sentidos. Para o clipe, optamos por uma animação para contar a história como ela deveria ser contada, sem deixar detalhes de fora. Na prática, alguns dos demais clipes são mais factíveis (“Try Again” em um bar, “Home Alone” em um apartamento), enquanto que, para contar a história de “Coming for Us”, eram necessários helicópteros, lanchas, uma ilha deserta e dezenas de atores (haha). Não pareceu justo podarmos justamente a música que deu início à história audiovisual, então convidei Pri Santos, uma ilustradora baiana talentosíssima, para fazer ilustrações contando fielmente a história da música.

Conheci Pri aleatoriamente quando morei São Paulo em 2018/2019, num domingo em que eu estava tocando na Paulista e ela me convidou para fazer um ensaio fotográfico. Desde então, desenvolvemos uma amizade pessoal e profissional que inclusive já havia resultado em outro clipe, da música “Inner Fights”, do meu primeiro EP (2019).



Guilherme: Já faz alguns meses que o disco está disponível nas principais plataformas de streaming. Como tem sido a recepção até o momento?

Felipe: Hoje, inclusive, o álbum completou dois meses de vida, e a resposta tem sido maravilhosa. Ver quais músicas ressoam com as pessoas é muito empolgante. Estava muito seguro que algumas músicas como “Try Again” (que já passa dos 120 mil streams) e “Vintage Love” seriam bem aceitas, e fico mais feliz ainda de ver outras músicas com “1800” e “Scarlet & Gold” (que talvez eu não considerasse as mais “fáceis”) sendo super bem aceitas, inclusive ao vivo. Realmente, não tenho do que reclamar (haha).

Guilherme: Para promover o álbum, você fez um show de lançamento na cidade de Olinda no início do mês passado. Como foi a experiência e qual foi a resposta do público em relação às novas músicas?

Felipe: A experiência do primeiro show foi incrível. Assim como levei muito a sério a produção e criação do álbum, queria fazer a entrega de um show a altura. Luzes programadas e sincronizadas, músicas novas, favoritas da galera e até maquiagem cinematográfica. A reação das pessoas foi espetacular, e não vejo a hora de explorar essa experiência novamente em outros lugares.

Guilherme: Com o disco lançado, quais são seus planos para o restante de 2024? Podemos esperar algum show em São Paulo?

A prioridade para 2024 é fazer o álbum alcançar o maior número de pessoas possível. Shows são a prioridade, e já estamos em contato para um (ou mais) shows em São Paulo. Ainda não há nada definido, mas estou bem confiante que esse encontro acontecerá por aí também em breve!

Guilherme: Felipe, valeu pelo seu tempo! Para finalizar, gostaria de deixar uma mensagem para nossos leitores?

Felipe: Guilherme, mais uma vez eu que agradeço a oportunidade de estar na Hedflow novamente. Talvez uma mensagem que posso deixar é: nunca perca a curiosidade de descobrir músicas. É uma das sensações que mais amo e recomendo sempre. E se puderem começar descobrindo algumas pelo “Save My Name,” ficarei mais feliz ainda (haha). Muito obrigado! 

Felipe Buarque do The Self-Escape fala à Hedflow sobre sua trajetória na música e ressalta sua raiz pernambucana

Por
- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.