Karate finalmente apresenta sua curiosa fusão de indie rock e jazz em São Paulo

Agosto foi um mês especial para os fãs paulistanos dos primórdios do movimento emocore, quando sua sonoridade ainda se confundia com o indie rock e o rock alternativo. Em seu primeiro fim de semana, a cena foi agraciada com o lineup de peso no Oxigênio Festival, que trouxe bandas icônicas como Hot Water Music e The Get Up Kids, ambos nomes essenciais no gênero. Já no último domingo (18), o palco do Cine Joia recebeu outro grupo pioneiro: Karate, banda de Boston, Massachusetts, formada em 1993, que se destaca por sua fusão única de indie rock com influências de jazz, blues e post-hardcore.

Conhecida por suas composições complexas e atmosféricas, o conjunto, liderado por Geoff Farina, desenvolveu uma sonoridade distinta que desafia categorizações simples, combinando riffs de guitarra intrincados com letras introspectivas e um groove envolvente. Ao longo de sua carreira, Karate lançou uma série de álbuns aclamados, consolidando-se como uma referência cult na cena alternativa.


  • Dinossauros do emo



O show foi organizado pela Balaclava Records, selo conhecido no underground por lançar algumas das bandas mais importantes da cena alternativa nacional, como Terno Rei, Terraplana, Gorduratrans, entre outras. Nos últimos tempos, a Balaclava tem se destacado também por trazer ao Brasil apresentações de grupos raros, como American Football, Whitney, Thus Love, Owen, King Krule e outros. Os primeiros a chegaram ao Cine Joia, logo após a abertura para o público geral, puderam conferir o merchandising exclusivo da turnê, além de flyers destacando o line up do próximo Balaclava Festival, festa oficial da gravadora, que contará com sets de nomes como Dinosaur Jr., BADBADNOTGOOD e Water From Your Eyes.

Pontualmente às 19h, a festa teve início com a apresentação da banda Gigante Animal, formada por ex-integrantes do grupo College, que, apesar de ainda ser desconhecida por parte do público, já acumula quase duas décadas de atividade. Contando com a participação especial de Popoto (guitarrista e vocalista da banda Raça) nos vocais secundários e como guitarrista de apoio, o grupo animou a pista com sua sonoridade peculiar, que mescla elementos de emo, indie rock, grunge e até math rock. Em vários momentos, o vocalista Lucas expressou sua alegria em participar do evento, comentando que estava se sentindo como se estivesse em ‘um churrasco em família’ devido ao grande número de amigos e familiares presentes no clube. Perto do encerramento, a banda apresentou ‘Minha Flor’, um novo single que sugere a possibilidade de um lançamento completo em um futuro próximo.

Logo após o término do set do Gigante Animal, o Cine Joia começou a se encher rapidamente, quase alcançando sua lotação máxima. O público era diversificado, com pessoas na faixa dos 40 anos convivendo com adolescentes. Por volta das 20h25, com alguns minutos de atraso em relação ao horário oficial, o trio subiu ao palco e iniciou o set com uma breve introdução instrumental, logo emendando com ‘Bass Sounds’, do álbum The Bed Is In The Ocean. Em seguida, tocaram ‘If You Can Hold Your Breath’, destacando novamente uma linha de baixo forte. Em ‘There Are Ghosts’, que trouxe uma vibe mais lenta e influenciada pelo blues, as notas de guitarra meticulosamente trabalhadas dominaram o som. Após esse momento mais introspectivo, a energia voltou com ‘Gasoline‘, quando o público cantou em voz alta pela primeira vez na noite o refrão ‘Hey, Sugar’ sobre uma linha de baixo densa, alternada por riffs dedilhados suaves.

Diazapam‘ agitou a plateia com sua energia vibrante e um solo de guitarra que arrancou aplausos entusiasmados. Da mesma forma, ‘Small Fires’ se destacou pelo riff bem trabalhado. No entanto, foi em ‘First Release’ e ‘Original Spies’ que a banda realmente mostrou a originalidade de suas composições, incorporando influências de reggae e swing.




Em um dos poucos momentos em que se dirigiu ao público, o frontman Geoff Farina agradeceu o carinho dos fãs paulistanos e compartilhou um pouco sobre a trajetória do Karate, desde os primeiros anos, passando pelo hiato em 2005, até o retorno às atividades em 2022. O show seguiu com o grupo apresentando sua consagrada fórmula de indie rock alternativo, com as músicas ‘Sever’, ‘Today or Tomorrow’ e ‘This Day Next Year’.

Sem dúvida, o Karate é uma banda única, que incorpora diversas influências para enriquecer a experiência do rock alternativo. Ao longo do set, o trio demonstrou técnica refinada, uma conexão impecável entre os integrantes e um carisma discreto, mas cativante. A espera de 30 anos certamente valeu a pena.

Galerias / Lucas Barbosa (Profissional credenciado pelo site Musicult, que gentilmente compartilhou suas fotos com a Hedflow)




Texto: Guilherme Góes

Karate finalmente apresenta sua curiosa fusão de indie rock e jazz em São Paulo

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- Estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança e participante do cenário musical independente paulistano desde 2009. Além da Hedflow, também costuma publicar trabalhos no Besouros.net, Sonoridade Underground, Igor Miranda, Heavy Metal Online, Roadie Crew e Metal no Papel.