SonicBlast 2024 sold out e com muito a ver e vivenciar em sua 12ª edição

Cá estamos neste tão aguardado momento de verão, à 12ª edição do festival SonicBlast totalmente sold out! Razões para isso foram muitas, como se sabe, um bom cartaz, um recinto perto da praia e uma terra de ótimo clima. Sem esquecer do ambiente bastante descontraído, convidativo, de caras conhecidas e também de novos rostos sempre a relaxarem apreciando boa música.

Não estivemos no warm-up. Porém, no dia seguinte, conseguimos estar presentes logo no primeiro concerto: abertura com qualidade na atuação dos estadunidenses High Reeper, com um som enraizado no stoner mais moderno, mas que acena ao som mais clássico do heavy metal por vezes, explorando influências dos anos 80 e 90. Seguiram-se os Maruja e estávamos bastante ansiosos para essa apresentação. O grupo de Manchester nos levou para o mundo da spoken word e do improviso com uma característica bastante única ligada ao cosmic jazz, utilizando-se de saxofone em suas composições gravadas, embora o saxofonista, Joe Carroll, não estivesse lá ao vivo. Apesar de tudo, a intensidade visceral dos Maruja não nos desiludiu e, assim, ficamos no aguardo do retorno deles em Outubro.

Vindo da Nova Zelândia, o duo Earth Tongue (formado por uma guitarrista e um baterista) surpreendeu pela simplicidade e potência. Um projeto bastante dinâmico onde ambos cantam, tendo por vezes como pano de fundo sons ritualísticos que nos levaram a pensar em imagens de filmes de suspense e terror, com sepulturas, feitiçaria e afins, só que de um jeito reconfortante.

Margarita Witch Cult, apesar da sua gênese relativamente recente, revelou ter uma base considerável de ouvintes no público do festival, notável pelo merch que usavam, para um stoner com pinceladas de doom, aproximando-se das sonoridades mais usuais desse fest.

Aí veio a Enola Gay, banda de punk noise de Belfast, com inspirações que vão desde o hip-hop ao techno, passando também por algo post-punk. Quase seguindo a toada de Maruja, letras com entoação política de protesto e crítica, aliás assumidas pela postura do vocalista Fionn Reilly, que parecia estar em permanente discussão e debate, na frente do palco , confrontando o status quo de forma acutilante.

Muitos esperavam o conjunto seguinte, Black Mountain, liderado a duas vozes, uma masculina e outra feminina, transportando o público a uma viagem psicodélica, contrastando com o grupo anterior. Aqui respirou-se mais calma e serenidade, iniciadas ao som da hipnótica ‘Mothers of the Sun‘, levando quem escutava a um transe em que corpos pareciam ondular, mergulhados em uma performance verdadeiramente absorvente.

Contrastando, subiram ao palco os portugueses do Máquina, projeto que tem ganhado bastante notoriedade tanto nos palcos nacionais quanto nos estrangeiros, fugindo um pouco mais, no entanto, ao som tradicional do SonicBlast devido a um som mais industrial, ligado ao techno e EBM. Revelaram ser uma aposta certeira, pois, tal como tem acontecido nos seus concertos em solo nacional, o público aderiu em massa, respondendo com dança carregada de adrenalina.

Formados em 2006, os Graveyard eram uma presença bastante esperada na plateia em geral. Enraizados no blues, apostaram na apresentação dos temas do seu mais recente trabalho, 6 (de 2023), uma obra mais introspectiva e obscura que as de seus antecessores. A habilidade que têm de afundarem em psych jams e experimentação no prolongamento de algumas canções, demonstrou bem tamanha qualidade musical.

A fechar o primeiro dia e talvez a razão para um dia esgotado, tocaram os tão aguardados Viagra Boys. Sebastian Murphy, o vocalista, parecia ter saído de um episódio de Shameless (série do canal Showtime que se encerrou em 2021). Ele foi um entertainer carismático e não perdeu tempo, foi logo atiçar o público, chegando a fazer crowdsurfing, o que semeou o caos durante todo o show. Os Viagra Boys misturam a energia punk com ritmos de dança, liderados por um frontman com um potente dad-bod que vai flertando com a ideia de ser um pouco comediante, ao mesmo tempo flertando com a natureza mais abrasiva do espetáculo. De facto, uma experiência inesquecível aos que lá estiveram.




Na segunda parte do festival iniciamos com os nacionais Jesus The Snake, surgidos em 2016. O grupo de prog/psych contribuiu para um arranque bem calmo e relaxado. Não sendo limitativo o facto de ser apenas instrumental, foi possível descontrair com o groove bem encaixado neste cenário veraneante. Dali subimos mais uns degraus para o stoner psicodélico do Madmess, em uma jornada sonora a percorrer por temas maioritariamente instrumentais também.

Depois disso, o Deathchant quebrou essa viagem cósmica como um estalo na cara e nos levou a um estado de adrenalina pura de um rock imparável que abalroou a todos e todas. Este é um projeto bastante acarinhado do Sonicblast, quase como residente. Não aborreceram em nada, tomaram o palco de assalto, mostrando influências de Thin Lizzy e Motörhead em sons potentes e empolgantes, fazendo desse concerto um dos momentos absolutamente imperdíveis do festival.

Então o quinteto californiano Sacri Monti seguiu-se no palco secundário, conquistando o público com uma sonoridade bastante agradável de bom hard rock psicodélico, através de temas do seu novo álbum Retrieval, lançado em Julho deste ano, a alguns dias do evento.

Com o sol começando a descer, subiram ao palco os Causa Sui, aguardados por uma plateia atenta e ávida. Percorreram um set de velhas e novas canções instrumentais, muito bem orquestradas, as quais proporcionaram uma atmosfera terapêutica de rock psicodélico, Krautrock e jazz escandinavo.

Em uma postura bem diferente, os australianos C.O.F.F.I.N. (ou Children of Finland Fighting in Norway) trouxeram o rock n’ roll novamente ao palco, assumindo uma postura bastante energética, encabeçados pelo baterista e vocalista Ben Portnoy. Logo aceleraram-se os ânimos. Aliás, nesta edição tivemos compassos mais lentos destinados à viagem mental psicotrópica e compassos mais rápidos carregados de adrenalina a fazer-nos também viajar, mas de forma mais crua e avassaladora, levando tudo à frente e abalroando todos os obstáculos.

Mais um momento de calma e serenidade, de viagem ao psicodelismo, chegou oferecido pela banda seguinte, Colour Haze, grupo histórico da cena stoner rock alemã que teve uma performance inspiradora, plena de maturidade, a nos retirar até a noção de tempo e espaço.

Assim chegamos a um dos momentos mais aguardados (a julgar pelos trucker hats e merch utilizados por muitos dos festivaleiros durante o dia), a subida ao palco secundário dos Truckfighters. Frios estes nórdicos não foram, porque desde o primeiro minuto contagiaram a plateia com a sua energia e boa disposição, assim que Niklas ‘Dango’ Källgren pisou o palco foi como se todo um inferno se tivesse soltado, pois este não parou em saltos e corridas durante todo o show. Foi uma avalanche de fuzz rock, a qual tornou essa experiência algo que se deve vivenciar pelo menos uma vez na vida!

A chapada na cara continuou com a vinda dos 1000Mods, desta vez com um ritmo mais organizado, porém igualmente poderoso. Um stoner fuzz com pinceladas de grunge a fazer vibrar todo o preenchidíssimo recinto. Grande conexão da banda com o público, moshpits , crowdsurfing, emoção pura em um momento ímpar.

O fecho aproximava-se e a aposta seguinte foi em um estilo que pensamos ser um pouco invulgar para o SonicBlast, com sonoridade e estética mais ligadas ao gótico. Mas, com imensa surpresa, houve bastante adesão por parte daqueles e daquelas ali presentes, talvez aproveitando para curtirem a noite ao som de temas mais electrónicos dos Skemer. Ouviu-se até lamentos ao terem que se despedir e encerrar a performance. Todavia, tinha ainda muito a se vivenciar e ver no derradeiro dia do SonicBlast 2024.




A terceira e última data arrancou com os nacionais Great Fool, que sentiam-se plenamente extasiados de tocarem em um palco do SonicBlast, este fest que é muito benquisto pelos integrantes da banda. A apresentarem o seu álbum de estreia, Resist (de abril deste ano 2024), entregaram~se de corpo e alma, chamando cada vez mais gente que lentamente ia preenchendo o espaço da tenda do palco 3.

Logo após, estávamos desejosos à apresentação posterior (da Gaye Su Akyol), por ter uma sonoridade mais étnica, fazendo com que os roqueiros mergulhassem um pézinho na dança do ventre até. Foi um excelente concerto, a fazer-nos trilhar paisagens sonoras turcas com notas de rock psicodélico e electrónico. Só foi pena a hora do dia, uma slot mais ao pôr do sol teria feito esse momento ainda mais mágico para nós e para Gaye.

Na sequência vieram os estadunidenses The Obessessed, em tom completamente distinto, liderados pelo carismático Scott ‘Wino’ Weinrich. Eles entregaram um alinhamento que percorreu vários temas da carreira da banda, misturando doom, stoner e hard rock e envolvendo a plateia em seu som obscuro e sombrio. Aí foi a vez de rumarmos aos sons do deserto na companhia de Brant Bjork Trio, protagonizados pela lenda em si, esse homem de currículo extenso e inquestionável. O tríptico poderoso envolveu a audiência em uma jornada de ritmos profundos e místicos, de groove confortável e relaxante, tornando esta apresentação irresistível.

Os Night Beats continuaram a boa onda que se fazia sentir, puxando-nos para os seus ritmos dançantes calcorreados de soul e R&B. Uma viagem nostálgica de som contagiante fazendo-nos vibrar por completo com toda a sua estética vintage.

Um ‘murro no estômago’ veio precedido pela próxima dose de adrenalina, com os três projetos à frente que não deram sossego aos festivaleiros: Slift, High on Fire e Fugitive (sem contar que depois ainda teria Cobra Fuma). Slift agarraram-nos com uma atuação transcendente de texturas sonoras hipnóticas e contagiantes, onde duas vozes se complementaram em harmonia constante. Um show intenso e memorável, um dos momentos definitivamente mais altos do festival.

A tarde desenrolava e já havia corrida ao merch do High on Fire, mostrando a grande antecipação do público relativamente ao concerto. Com recinto amplamente tomado, vivenciou-se uma apresentação poderosa desse trio que não deixou ninguém indiferente, arrasando connosco em temas que passaram pelos clássicos e pelo seu trabalho mais atual, Cometh the Storm (lançado em Abril de 2024).

Como se não tivesse bastado esta descarga de anterior de êxtase, os Fugitive subiram ao palco para manterem as hostes em batalha campal de thrash e death metal, agarrando o público desde o primeiro momento.

O palco principal fechou com os Wine Lips e o seu garage punk vibrante, que , de uma forma mais energizante e contagiante, levou a multidão novamente ao rubro, destilando doses desmedidas de crowdsurfing a uma agitação frenética e febril.

No mais, o festival viria ao fim com o explosivo grupo Cobra Fuma, a continuar a pedalada das bandas que os antecederam com thrash e punk agressivo, intenso, que fizeram animar em grande a todos e todas outra vez, com direito a mais moshpits incessantes. Uma boa forma de caminharmos para o encerramento deste que, para estes que vos escrevem, foi e é o melhor festival de verão de Portugal. Um acontecimento no qual encontramos boa música em ambiente relaxado, descontraído e com uma equipa que tudo faz a fim de que este evento não seja nada menos que memorável.






Imagem destacada e fotos por Helena Granjo.
Texto por Helena Granjo e Miguel Brandão.


SonicBlast 2024 sold out e com muito a ver e vivenciar em sua 12ª edição