No início de 2023, logo após o período de retomada pós-pandemia de Covid-19, um show no cenário independente de São Paulo chamou atenção pela alta demanda: a apresentação do artista estadunidense Shawn James. Os ingressos para o evento, que ocorreu na Fabrique Club, esgotaram-se rapidamente. Até mesmo a produtora Powerline, responsável pela gig, foi surpreendida pela grande procura, o que levou Shawn a marcar uma apresentação extra na Iglesia.
Felizmente, esse sucesso não foi uma onda passageira. Na última sexta-feira (11), o músico, conhecido como um dos maiores representantes de um estilo apelidado carinhosamente de ‘dark country’ voltou à cidade apresentando sua nova turnê ‘Muerte, Mi Amor’ e realizou o maior show de sua carreira, com ingressos praticamente esgotados no Carioca Club, uma casa de shows ainda maior localizada na zona oeste de São Paulo. A excursão segue por outras cidades brasileiras.
Na data, a maior metrópole da América do Sul foi atingida por uma violenta tempestade, cujos efeitos ainda estão sendo sentidos pela população local. Mesmo assim, os fãs começaram a chegar logo nas primeiras horas. Alguns dos mais fervorosos apareceram caracterizados como o artista, vestindo chapéus, botas e camisas jeans escuras, em uma espécie de ‘cosplay’ do músico.
Após um atraso de cerca de 15 minutos, Shawn James e sua banda de apoio finalmente subiram ao palco. O frontman iniciou o set assobiando a introdução de ‘Dust to Dust’, faixa do álbum Honor & Vengeance, lançado em 2023. A resposta do público foi massiva, como se a canção já fosse um clássico. A empolgação foi ainda maior em ‘Six Shells (The Outlaw’s Anthem)’, também do novo disco, com quase todos os presentes cantando em uníssono. Shawn pôde, sem dúvida, comprovar que seu novo trabalho conquistou de vez o público brasileiro.
Antes de continuar a apresentação, a ‘estrela da noite’ declarou: ‘não existe lugar onde me sinto tão bem quanto São Paulo’, dando início a ‘The Curse of the Fold’. A faixa, de ritmo mais pop e com um refrão empolgante, fez o público cantar junto, contrastando com a sonoridade mais sombria das músicas exibidas anteriormente.
As performances de Shawn James são conhecidas por seu clima íntimo e descontraído, como se ele estivesse tocando para amigos na sala de casa. Ele frequentemente compartilha experiências pessoais de forma autêntica, e naquela noite não foi diferente. Antes de ‘The Stones Cried Out’, o músico expressou a emoção de ter realizado shows para grandes públicos em sua última turnê pelo Brasil. Na mais calma ‘Eat Like Kings’, tocada ora em formato solo com violão, ora com o acompanhamento da banda, ele dedicou a canção a um amigo que serviu na guerra do Afeganistão, permitindo ainda que o público encerrasse o refrão. Em ‘I Want More’, Shawn revelou que a escreveu há 10 anos, durante uma fase difícil de sua vida, marcada pela depressão e pelo alcoolismo, quando foi forçado a ir a lugares em que não queria estar.
No meio do set, Shawn dispensou sua banda e assumiu o palco sozinho, iniciando uma sessão mais intimista. Ele começou com ‘Muerte mi amor’, tema da turnê, explicando que a canção reflete suas reflexões pessoais sobre a morte, surgidas enquanto estava isolado gravando o álbum. O público, claramente familiarizado com o novo lançamento, cantou com entusiasmo.
A performance solo também trouxe um cover de ‘That’s Life’ (Frank Sinatra), dedicado a um amigo falecido, e uma curiosa versão de ‘The Number of the Beast’ (Iron Maiden), que ganhou uma nova sonoridade com as passagens de violino e violão acústico, agradando bastante o público. Neste momento, Shawn apresentou seus dois maiores sucessos, ‘The Guardian (Ellie’s Song)’ e ‘Through the Valley’, ambas conhecidas por estarem na trilha sonora do jogo The Last of Us. Ele compartilhou que tocou essas músicas por anos em pequenos shows locais e que sua inclusão no game foi um ponto de virada crucial para a popularização de sua carreira.
De volta ao set regular, agora com a banda de apoio, o repertório seguiu com uma mistura de covers como ‘Ain’t No Sunshine’ (Bill Withers), ‘Like a Stone’ (Audioslave) e ‘Bad Moon Rising’ (Creedence Clearwater Revival), além de faixas autorais como ‘Flow’, ‘No Blood From a Stone’ e ‘Haunted’. Para surpresa dos fãs, ele também trouxe ‘Chapter II: Hunger’, uma música de sua antiga banda, The Shapeshifters. Ao fim da apresentação, Shawn ainda demonstrou grande simpatia, tirando fotos e dando autógrafos para seus seguidores.
Ao se apresentar para um público maior em um espaço tão curto de tempo desde sua visita, seguir conquistando novos fãs e mantendo a lealdade dos antigos, Shawn James provou que seu sucesso não se deve apenas ao fato de ter emplacado dois hits em um popular jogo de videogame. Ele se mostra como um músico completo, talentoso e capaz de entregar performances carregadas de energia e autenticidade.
Fotos: Tamira Ferreira (Profissional credenciada pelo site “Tramamos!”, que gentilmente compartilhou seu trabalho com a Hedflow).
Setlist
Dust to Dust
Six Shells (The Outlaw’s Anthem)
The Curse of the Fold
The Stones Cried Out
The Thief and the Moon
Eating Like Kings
I Want More
Pendulum Swing
Burn the Witch
Orpheus
Muerte mi amor
That’s Life (Frank Sinatra cover)
The Guardian (Ellie’s Song)
The Number of the Beast (Iron Maiden cover)
Midnight Dove
Through the Valley
Ain’t No Sunshine (Bill Withers cover)
Flow
Like a Stone (Audioslave cover)
The Wanderer
No Blood From a Stone
Bad Moon Rising (Creedence Clearwater Revival cover)
Hellhound
Haunted
Chapter II: Hunger (Shawn James & The Shapeshifters)
Texto: Guilherme Góes
Fotos: Tamira Ferreira
Agradecimento Especial: Maria Correira (Metal No Papel / Heavy Metal Online)
