Durante os anos 2000, diversos artistas de bandas de pop punk e emocore se tornaram verdadeiros fenômenos na mídia tradicional. O rock estava em alta no mainstream, e seus representantes eram tratados como grandes celebridades.
No entanto, a partir da década de 2010, a popularidade do gênero diminuiu, e esse fenômeno não se repetiu da mesma forma, ficando mais restrito ao underground. Ainda assim, em meio a esse cenário desafiador, um nome conseguiu romper essa barreira e se tornar um verdadeiro ícone para uma geração: Twenty One Pilots.
Formado em 2009 por Tyler Joseph (vocal, piano, baixo) e Josh Dun (bateria), o duo se consolidou como um dos atos mais criativos da música contemporânea. Com uma sonoridade que mescla rock alternativo, pop punk, hip-hop, pop e elementos eletrônicos, a banda conquistou uma legião de fãs ao redor do mundo. Desde o sucesso estrondoso do álbum Blurryface (2015) — que trouxe hits como Stressed Out e Ride –, o grupo se firmou como um verdadeiro fenômeno cultural.
Após passar por Curitiba e Rio de Janeiro, a dupla encerrou a turnê ‘The Clancy’ no Brasil no último domingo (26), com um show no Allianz Parque, em São Paulo. Além de marcar o fim de mais excursão, o evento também celebrou a quinta passagem do Twenty One Pilots pela cidade, consolidando sua forte conexão com o público brasileiro.
Ao longo da semana, São Paulo enfrentou chuvas intensas, que causaram grandes prejuízos à infraestrutura de diversos bairros e, infelizmente, também resultaram em perdas humanas. No dia do show, o cenário não foi diferente. Mesmo após a abertura dos portões, era possível notar vários espaços vazios pelo estádio, especialmente nas arquibancadas. Ainda assim, uma parte do público mais fiel não se intimidou com as condições adversas. Demonstrando sua devoção, alguns fãs compareceram vestidos com cosplays inspirados nas roupas de Tyler e Josh, seja do clipe de Stressed Out ou da capa do novo álbum, Clancy.
A banda neozelandesa Balu Brigada foi a responsável por abrir a noite. Liderado pelos irmãos Henry e Pierre Beasly, o grupo apresentou um indie pop descomplicado, contrastando com a criatividade excêntrica da atração principal. Apesar da diferença de estilo, o público entrou no clima e acompanhou com entusiasmo, cantando junto, batendo palmas e iluminando o estádio com as lanternas dos celulares durante faixas como ‘2good’, ‘Find a Way’ e ‘So Cold’. Um dos pontos altos da apresentação foi o carisma dos integrantes. Vestindo camisetas do Palmeiras e da seleção brasileira, os irmãos agradeceram repetidamente e demonstraram, com genuína empolgação, a felicidade de tocar para os fãs brasileiros.
Após o show de abertura, foi possível perceber que o estádio começou a se encher um pouco mais, mas ainda assim não atingiu lotação máxima. Pontualmente às 20h45, um vídeo no telão sinalizou o início do espetáculo do Twenty One Pilots. O set começou com Josh destruindo na bateria, criando uma energia explosiva logo de início. Em seguida, sob intensa iluminação vermelha, Tyler entrou completamente encapuzado, comandando as rimas de ‘Overcompensate’. No final da música, ele desceu para a pista, causando um momento de agitação entre os fãs e dando trabalho aos seguranças. Quando retornou ao palco, o repertório seguiu com ‘Holding On to You’, acompanhada por um efeito visual impressionante que simulava uma chuva no telão. Josh, em seu estilo característico, fez o famoso backflip apoiado no piano, enquanto Tyler pegava um teclado portátil para dar início a ‘Vignette’.
Até esse momento, o vocalista havia se apresentado ‘de forma oculta’ para o público. Mas, finalmente, durante o hit ‘Car Radio’, ele tirou a máscara, revelando seu rosto para a plateia. A performance foi marcada por uma combinação de jogos de fumaça e efeitos de iluminação, além de um truque espetacular em que Tyler ‘teletransportou-se’ do palco para uma torre do outro lado do estádio. Já em ‘The Judge’, os fãs se tornaram os protagonistas do show. A música foi acompanhada por depoimentos que foram colhidos na fila ao longo do dia. O bloco ainda seguiu com ‘The Craving (Jenna’s Version)’, ‘Tear in My Heart’, ‘Backslide’ e ‘Heathens’ — este última, presente na trilha sonora do filme ‘Suicide Squad’ (2016).
Depois de uma breve pausa, o show continuou no ‘B STAGE’, uma plataforma pequena montada próxima à pista comum. Ali, os rapazes apresentaram um medley com as faixas ‘Addict With a Pen’, ‘Migraine’, ‘Forest’, ‘Fall Away’ e ‘Mulberry Street’. Para esta última, Tyler comandou uma dinâmica, dividindo a plateia e pedindo que ligassem as luzes de seus celulares ao seu comando, algo que já havia feito em 2022, durante a participação do duo no festival GP WEEK. No entanto, a mudança de cenário gerou certa confusão e correria, e alguns fãs acabaram sendo empurrados no tumulto.
De volta ao palco principal, o grupo apresentou uma decoração impressionante, que remetia a um cenário apocalíptico. Neste bloco, o set seguiu com faixas b-sides como ‘Navigating’ (com uma sonoridade quase punk), ‘Nico and the Niners’ (que trazia elementos de reggae) e os grandes hits ‘Heavydirtysoul’, ‘Guns For Hands’ e ‘Ride’ — esta última contou com a participação de uma fã, que se juntou a Tyler para cantar o refrão final.
Seguindo um intervalo, o duo retornou com um bis recheado de sucessos, como ‘Jumpsuit’, ‘Midwest Indigo’ e ‘Stressed Out’ — o maior hit da carreira, cantado em uníssono por todos os presentes. Para encerrar com chave de ouro, ‘Trees’ foi acompanhada por uma explosão de fogos de artifício.
No palco do Allianz Parque, Twenty One Pilots comandou um espetáculo impressionante. O capricho nos efeitos especiais era de tirar o fôlego, criando uma atmosfera visual de encher os olhos. Já a interação dos músicos com os fãs foi simplesmente sensacional, demonstrando uma conexão poderosa. Foi uma celebração à altura de grandes lendas da música, deixando claro o motivo de sua grandiosa popularidade e impacto no cenário atual.
Fotos — Créditos: 30e/Flashbang
Agradecimento especial: Maria Correia (Heavy Metal Online / Metal No Papel)
Texto: Guilherme Góes
