O primeiro show em São Paulo da turnê Freshen Up de Paul McCartney aconteceu ontem, dia 26 de março de 2019.
Haverá um segundo show hoje, dia 27, mas vou focar no tempo vivido ao que posso falar. Já declaro sobre pena de qualquer acusação que minha visão é completamente parcial, observando que estava no show como fã incondicional de Beatles e de Sir Paul McCartney. Neste caso sendo muito mais fã de George (informação que ele não precisa ter).
O show iniciou por volta das 20:30h, e o Allianz Parque estava lotado. Pra todo o lado pessoas com camisetas de estampas diversas sobre o mesmo tema: The Beatles.
Dizem que o tempo cura e que o riso é o melhor remédio. Lá estava a prova viva, ainda não apresentada no palco. No telão, imagens do quarteto mais famoso do mundo da música intercalavam com fotos de um Paul McCartney sorridente.
É evidente que tanto ele quanto Ringo aceitaram a condição de eterno Beatle.
Paul entrou no palco com sua banda, e, dois telões imensos transmitiam com clareza aquele gigante. Um homem atrás de mim gritava “monstro sagrado!”. Sim, precisei concordar.
Se ainda não fomos capazes de inventar uma máquina do tempo, é preciso enxergar com urgência a capacidade da música de fazer isso.
Alguns acordes, uma bela melodia, e voilá, dá-lhe buraco de minhoca. Paul conseguiu realizar uma viagem no tempo, quebrou todas as barreiras, revisitou os anos 60, 70, 2000 e tralalá. Voltou então para os anos 60 de novo, e a gente embarcava nessa juntos; muitas vezes querendo não retornar.
Percebi que a ‘beatlemania’ era um vírus adormecido vivendo em cada uma daquelas pessoas que ocupavam um lugar no Allianz Parque. O vírus ressurgiu com força, e de repente, todos nós tínhamos 16 anos. Estávamos novamente nos anos 60 em um estádio lotado, e sim, gritávamos histericamente, nos descabelávamos!
Mas como toda viagem no tempo, era apenas uma visita onde nada poderia ser alterado. Dos 4 Beatles, tínhamos apenas um nos conduzindo, contando uma história, dividindo algo que viveu e que ainda acredita.
Fomos lá para prestigiar e agradecer aos céus e às forças da natureza – ou a qualquer coisa em que você acredite – por estarmos em 2019 e ainda termos a chance de ouvir Paul McCartney tocando e cantando com a mesma alma daquele jovem que, com vinte e poucos anos, lado a lado com John, George e Ringo, mudou o rumo da música e se tornou uma lenda viva.
Com 76 anos de idade, ele ainda tem os olhos de um jovem apaixonado e o mesmo sorriso descarado que você pode constatar em todas as gravações dos Beatles. A dancinha discreta, a balançada de cabeça, tudo faz com que você olhe pra ele e veja, por alguns instantes, o Paul de cabelos escuros e com pouca idade.
Os anos não trouxeram peso. É nítido que ele aprendeu a jogar esse jogo que, pra nós, ainda é um mistério. É ele no palco, com rugas, cabelos grisalhos e o ar maduro. Enfim, o mesmo Paul dos Beatles e dos Wings!
Sem fazer nenhum grande discurso, acredito que ele tenha simplesmente deixado sua mensagem, àqueles que ainda sabem ouvir. Paul promove amor. Só não se emociona quem não tem sangue nas veias!
Antes de tocar Blackbird, contrariando inúmeras teorias publicadas na internet e em livros, ele confirmou que a música foi escrita para os direitos humanos. E sobre direitos humanos, entenda, o ano é 2019, e, infelizmente não estamos em uma agradável viagem no tempo ao som dos Beatles; estamos esquecendo tudo que lutamos para conseguir!
Talvez a música ainda tenha esse poder, não só de nos fazer viajar no tempo, mas também de nos despertar para algo maior.
Paul não seria um Beatle sem os outros três. Não somos ninguém se não pensarmos no mundo como um todo. Dito isto, foi o primeiro show de Paul McCartney desta turnê no Brasil, e foi minha primeira vez contemplando um Beatle de perto.
Texto por Dani Melo
Foto: Marcos Hermes