Kiko Loureiro: a experiência em busca da inocência


Kiko Loureiro é um músico que dispensa apresentações. Com riffs inesquecíveis e solos quase impossíveis de serem reproduzidos ele construiu uma sólida carreira como guitarrista do Angra, uma das principais bandas de Heavy Metal do Brasil.

No ano de 2015 Kiko recebeu o convite para se juntar ao Megadeth, banda liderada pelo lendário Dave Mustaine e conhecida por ser um dos quatro grandes pilares do Thrash Metal mundial, ao lado do Anthrax, Slayer e Metallica

Isso já bastaria para colocar Loureiro na história da guitarra mundial. Mas, ele foi além; gravando 4 discos solo e se tornando um dos mais influentes nomes do Music Business, além de palestrar e criar cursos sobre carreira e inovação nos negócios da música.

Kiko Loureiro no Sesc Santo André – Foto: Gil Oliveira



Com um currículo tão recheado não é de se estranhar que as duas apresentações feitas no Sesc Santo André tivessem com seus ingressos esgotados!

O show do Kiko Loureiro Trio explora o universo musical instrumental apresentado em seus discos solo, passando pelo Prog Metal, Rock, Jazz e Choro; entre outros estilos.

Para esquentar uma sexta-feira gelada Kiko e seus ex-companheiros de Angra, Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), abriram os trabalhos com a longa e diversificada ‘Pau-de-Arara’, canção que faz parte de No Gravity, primeiro disco solo do guitarrista. Os seus cerca de sete minutos dariam o tom do que seria a noite: muita técnica e precisão em prol da música!


Na sequência a música ‘Reflective’ foi um banquete para fãs de solos de guitarra elaborados com melodias extremamente inspiradoras e repletas de ‘feeling’.

Durante toda apresentação, Kiko conversou bastante com o público e afirmou que estava com saudades de falar português, já que hoje em dia ele vive nos Estados Unidos.

Felipe Andreoli no Sesc Santo André – Foto: Gil Oliveira



Antes de tocar ‘Escaping’, uma das mais conhecidas do seu repertório solo, Loureiro disse também que escreveu a música em um momento no qual ele queria escapar de muitas coisas, até do Brasil. E concluiu que isso era assunto para falar em uma outra ocasião.

As partes mais agressivas de ‘Escaping’ lembram bastante as linhas de guitarra que o músico levou ao Megadeth, com aquele toque brasileiro advindo de uma ritmicidade única!

Antes de tocar ‘Gray Stone Gateway’, ele ressaltou a importância de tentar não perder a inocência na hora de fazer algo criativo, algo que é difícil cultivar após tantos anos de carreira, passando várias vezes pelo mesmo processo no mercado da música.

O músico também disse que o disco ‘Sounds of Innocence‘ (Sons da Inocência) foi diretamente influenciado pela obra mais famosa do poeta e pintor inglês William Blake, intitulada ‘Songs of Innocence and of Experience‘ (Canções de Inocência e de Experiência). A inocência estava rondando Kiko à época da composição deste disco, já que o músico estava prestes a se tornar pai pela primeira vez!


Para encerrar o assunto ‘Gray Stone Gateway’ e inocência, Kiko falou sobre a guitarrista japonesa Li-sa-X que em 2016, aos 11 anos de idade, publicou no YouTube uma versão da música. Segundo Maria Ilmoniemi, pianista, tecladista e esposa de Kiko, a garota tocou a música melhor do que o próprio guitarrista, que brincou falando que continua casado com Maria.

Tirem suas próprias conclusões:

A guitarrista japonesa Li-sa-X, aos 11 anos de idade, tocando ‘Gray Stone Gateway’ do Kiko Loureiro.


Em seguida vieram a introspectiva ‘No Gravity’ e ‘El Guajiro’, música que foi influenciada por músicos cubanos amigos do guitarrista, que afirmou ter ficado impressionado com “a musicalidade, o conhecimento e o apreço pela cultura cubana” demonstrado pelos instrumentistas mesmo fora do seu país de origem.

Este momento também arrancou gargalhadas da plateia, pois Kiko esqueceu de trocar de guitarra para apresentar a música, que é tocada em uma outra afinação. Após a troca rápida de instrumento, ele brincou com o fato de ter chegado ao país no mesmo dia do show e que estava bastante cansado.

A brasileiríssima ‘Feijão de Corda’ do álbum Universo Inverso provou que a escolha de Felipe e Bruno para as apresentações do trio é perfeita. Além do entrosamento natural entre os músicos, a cozinha do Angra e do trio de Kiko é uma das melhores do país! Os solos do Felipe durante alguns temas e o solo de bateria do Bruno tiraram aplausos entusiasmados do público. Importante salientar que o som do aconchegante teatro do Sesc Santo André estava excelente, assim como a iluminação do show.

Bruno Valverde no Sesc Santo André – Foto: Gil Oliveira



Após anunciar que acabou de gravar o seu próximo disco solo e que o novo do Megadeth está bem encaminhado, veio a calmaria cheia de técnica e sentimento de “Ray of Life”. Aos gritos de “mais uma” e “Carry On”, clássico eterno do Angra, o trio nem chegou a sair do palco para o bis, que veio em forma de homenagem ao cantor, compositor e maestro André Matos, antigo parceiro de Kiko que faleceu em junho deste ano.

Kiko relembrou que, durante as composições do álbum ‘Holy Land‘ do Angra, eles estavam em busca de apresentar mais as raízes da música brasileira, assim como Sepultura, Chico Science & Nação Zumbi e Raimundos fizeram.

Enquanto Kiko e o baterista Ricardo Confessori estavam improvisando e compondo em cima de uma ideia então chamada de ‘Samba Metal’, André surgiu no meio do processo falando “eu tenho a melodia para esta música”. E foi assim que nasceu ‘Nothing to Say’, última música apresentada no show, na qual Loureiro tocou na guitarra a melodia eternizada na voz do maestro.

Por fim essa foi uma grande noite em que Kiko Loureiro pôde se reconectar com a sua inocência ao revisitar o seu repertório solo; tocando ao lado de parceiros de longa data e homenageando de maneira belíssima o grande cantor e compositor André Matos.



Por Bruno Teixeira
Fotos: Gil Oliveira

Kiko Loureiro: a experiência em busca da inocência

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